por: Mário Lemes
Em primeiro lugar, preciso dizer que eu, como a esmagadora maioria do povo
heroico desta pátria amada, amo coxinha (s.f. quitute). Desde as do Veloso até
as do boteco da Vieira de Morais que divide a estufa com o ovo rosa.
Muito se fala sobre os coxinhas (s.m. tipo de ser humano). A gíria nasceu em
São Paulo , que é, por si só, o maior reduto de coxinhas do Brasil. O que pouca
gente sabe é o que é de fato um famigerado coxinha, e foi por isso que eu
resolvi escrever esse texto e delimitar um significado definitivo pra essa
gíria.
“Significado definitivo? Que moleque pretensioso!”, diria você, caro leitor.
Mas “definitivo” é o tipo de palavra que os coxinhas adoram. Eles gostam de
limitações, definições, certezas. Se tem um tipo de gente que não troca o certo
pelo incerto, são os coxinhas. Tudo que um representante nato da categoria mais
quer é constituir família, sustentar a mulher e os filhos, e que todos tenham
boas notas no colégio e que vão pra Disney todo ano.
No fundo, o coxinha quer uma vida que os jovens de várias gerações lutaram para
poder NÃO ter. Mas nem todos admitem isso. A verdade é que o coxinha não gosta
de se arriscar. Em nada. Pra não ter perigo de errar, pra não deixar de ser
querido, etc. O pastel, por exemplo, abre possibilidades para todo tipo de
recheio. A coxinha, não. Nunca. É frango desfiado e só. Catupiry, se muito, dá
o ar da graça. E pedir uma coxinha sempre é menos arriscado do que pedir um
bolovo, por exemplo.
O coxinha não toma bomba no colégio e raramente tranca uma faculdade. O que ele
quer é “ingressar no mercado de trabalho”. A primeira vez que o coxinha bate
ponto, ele quase tem um orgasmo. É a construção do seu futuro e da vida
empanada que sempre planejou. A mamãe do coxinha se contorce de orgulho do
filho, ainda mais quando – depois de já estar empregado e casado com uma boa
moça – ele lhe dá o primeiro neto.
E engana-se quem acha que a tribo dos coxinhas se limita aos escritórios
cinzas. Eles podem estar em toda parte: nas artes, nos esportes, na medicina e,
muito frequente a partir dos anos 2000, na publicidade. Quando você vir o
comercial de um banco com pessoas sorridentes e narrador com timbre épico, pode
ter certeza: tinha um coxinha na reunião de brainstorming que, depois de contar
sua “ideia genial”, foi aplaudido por mais meia dúzia de coxinhas.
Pra terminar, digo que um coxinha jamais faria mal pra você enquanto indivíduo.
O problema é o impacto social dos coxinhas que, sem declararem nada, acordam
todos os dias e vestem suas camisas azuis-bebê na busca pela extinção da
ousadia e por uma sociedade oleosa e simétrica. Uma grande coxinha.
Coloquei parte do texto do Mario e complemento dizendo que o gigante que
acordou foi formado por uma multidão de coxinhas!!!!
Já repararam que o movimento deles começou com as férias e terminou com o fim
delas.
Onde está a multidão coxinista que lotava as ruas??
Não sabia o que significava exatamente a PEC 37, mas com a grande propaganda do
MP nos aeroportos se convenceu que era contra sem ao menos ler o texto.
O pior dos coxinhas é que são manipulados pela grande imprensa!
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