terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Por que a crise atual é maior que a dos anos 30


Fonte: www.cartamaior.com.br


Ao contrário da Grande Depressão, desta vez a crise afetou o coração mesmo do sistema capitalista, que é o seu sistema bancário central. Nos anos 30, milhares (cerca de 9 mil) bancos quebraram nos EUA e na Europa, no curso de quatro corridas bancárias entre 29 e 33, mas nem um único considerado grande. Eram pequenos e médios bancos municipais ou regionais, sem risco sistêmico. Agora, no rastro do Lemon Brothers, todo o sistema virtualmente esteve para colapsar. O artigo é de J. Carlos de Assis.

Tenho sustentado que a crise financeira atual é a maior da história do capitalismo pela razão simples de que, ao contrário da Grande Depressão, antes considerada a maior, desta vez a crise afetou o coração mesmo do sistema capitalista, que é o seu sistema bancário central. Nos anos 30, milhares (cerca de 9 mil) bancos quebraram nos EUA e na Europa, no curso de quatro corridas bancárias entre 29 e 33, mas nem um único considerado grande. Eram pequenos e médios bancos municipais ou regionais, sem risco sistêmico. Agora, no rastro do Lemon Brothers, apenas o quinto entre os bancos de investimento, todo o sistema virtualmente esteve para colapsar.

Nos Estados Unidos, os dois maiores conglomerados bancário-financeiros, o Bank of America e o Citigroup, tiveram que ser parcialmente estatizados para não quebrar. No caso do Citigroup, o Governo comprou mais de 40% de suas ações ordinárias. Os outros 17 maiores conglomerados financeiros, submetidos a testes de stress, foram socorridos pelo Fed sob o pretexto de evitar riscos sistêmicos. Na Europa, o Royal Scotland Bank e o Barclays da Inglaterra tiveram de ser estatizados. Continuam assim até hoje. Na Alemanha, o Governo comprou quase metade do Commenzbank, do qual ainda hoje detém 25% das ações.

Voltando aos Estados Unidos, quebrou e teve de ser estatizada a maior seguradora do mundo, a AIG. O mesmo destino tiveram as duas maiores empresas de crédito imobiliário do país e do mundo, a Fred e a Fannie Mae.

Além disso, numa iniciativa absolutamente inédita, o Governo americano interveio para salvar as maiores empresas manufatureiras do país, a GM e a Chrysler, com empréstimos bilionários. (Note-se que a legislação emergencial dos anos de Roosevelt previu socorro do Fed a empresas manufatureiras, não financeiras, mas ela nunca havia sido efetivamente aplicada até agora.) 

O rescaldo desse incêndio são 6 trilhões de dólares em hipotecas em circulação nos Estados Unidos, além de outras formas de crédito de recebimento duvidoso (cartão de crédito, estudantil etc), tendo parte desse crédito vazado para o sistema bancário europeu. Dessas hipotecas, algo como 3,5 trilhões de dólares são de recebimento duvidoso, e 1,5 a 2 trilhões de dólares são calculados como perda certa, dependendo do comportamento do mercado imobiliário - que até hoje, mais de três anos depois do início da crise, não se recuperou. Por uma especial deferência dos reguladores, os bancos foram autorizados a manter em carteira esses títulos, só exigindo sua baixa na data do vencimento nominal.

O fato é que, com suas carteiras lotadas de títulos podres privados, os bancos limitam os empréstimos para o setor produtivo numa corrida desesperada para fazer lucros de curto prazo (e distribuir bônus) nos mercados sem risco a fim de evitar sua própria quebra. Estão com operações concentradas em transação de moedas (4 trilhões de dólares ao dia, 955 trilhões ao longo de 2010), em arbitragem (tomando recursos do Fed a 0,25% e emprestando ao Tesouro a 3,5%) e em outras formas de “serviços”. Com isso há um estreitamento de crédito para pequenas e médias empresas, justamente as que concentram 65% da criação do emprego nos Estados Unidos. Em consequência, a taxa de desemprego se mantém extremamente elevada (8,5%).

Na Europa, os governos também trataram de estatizar e salvar bancos, sempre à custa de um endividamento público relativo ainda maior que o dos Estados Unidos. É de notar-se que, antes da crise, todos os países da União Européia e, particularmente, os da zona do euro tinham situações fiscais bastante confortáveis tendo em vista os critérios de Maastricht – com a possível exceção da Grécia. A dívida da Irlanda, por exemplo, era inferior a 30% do PIB! Depois da eclosão da crise, sob o ataque frontal das agências de risco, Grécia, Portugal e Irlanda, assim como Espanha e Itália, viram explicitada uma crise fiscal criada pelo setor privado e que ele quer, agora, transferir seus custos aos cidadãos, na forma de destruição do Estado de bem estar social europeu. Isso, porém, fica para ser discutido mais tarde.

(*) Economista e professor, presidente do Intersul, coautor com Francisco Antonio Doria do recém-lançado “O Universo Neoliberal em Desencanto”, Ed. Civilização Brasileira. Este artigo é publicado também no site “Rumos do Brasil” e todas as terças-feiras, no jornal “Monitor Mercantil”.

A revolta da burguesia assalariada

A proletarização da baixa “burguesia assalariada” vem acompanhada do excesso oposto: as remunerações irracionalmente altas dos grandes executivos e banqueiros, que ficam disponíveis 24 horas por dia, vivendo assim num estado de emergência permanente.

Por Slavoj Žižek [30.01.2012 15h45]
Traduzido por Chrysantho Sholl e Fernando Marcelino

Embora os protestos sociais em curso nos países ocidentais desenvolvidos pareçam indicar o renascimento de um movimento emancipatório radical, uma análise mais detalhada nos compele a elaborar uma série de distinções precisas que, de alguma forma, embaçam essa clara imagem. Três coisas caracterizam o capitalismo de hoje: a tendência de longo prazo de transformação do lucro em renda (em suas duas principais formas: a renda do “conhecimento comum” privatizado e a renda pelos recursos naturais); o papel estrutural mais forte do desemprego (a própria chance de ser “explorado” em um emprego duradouro é percebida como um privilégio); e a ascensão de uma nova classe que Jean-Claude Milner chama de “burguesia assalariada” [Veja Jean-Claude Milner, Clartes de tout, Paris, Verdier, 2011].

Para explicar a relação entre estas características, comecemos com Bill Gates: como ele se tornou o homem mais rico do mundo? Sua riqueza não tem nada a ver com o custo de produção daquilo que a Microsoft vende (pode-se até mesmo argumentar que a Microsoft paga a seus trabalhadores intelectuais um salário relativamente alto), isto é, a riqueza de Gates não é o resultado de seu sucesso em produzir bons softwares por preços mais baixos do que seus concorrentes ou por uma “maior exploração” de seus trabalhadores intelectuais contratados. Se este fosse o caso, a Microsoft teria ido a falência há muito tempo: as pessoas teriam optado massivamente por programas como Linux que são de graça e, de acordo com especialistas, de melhor qualidade que os programas da Microsoft. Por que, então, existem milhões de pessoas que ainda compram Microsoft? Porque a Microsoft se impôs como um padrão quase universal, “quase” monopolizando o setor, uma espécie de personificação direta daquilo que Marx chamou de General Intellect (Intelecto Coletivo), o conhecimento coletivo em todas as suas dimensões, da ciência ao prático know how. Gates se tornou o homem mais rico em algumas décadas através da apropriação da renda pela permissão de que milhões participem na forma do “intelecto coletivo” que ele privatizou e controla.

Deve-se transformar criticamente o aparato conceitual de Marx: por causa de sua negligência em relação à dimensão social do “intelecto coletivo”, Marx não vislumbrou a possibilidade de privatização do próprio “intelecto coletivo”. É isto que está no coração da luta contemporânea pela propriedade intelectual: a exploração tem cada vez mais a forma de renda, ou, como diz Carlo Vercellone, o capitalismo pós-industrial é caracterizado pelo “tornar-se renda do lucro” [Veja Capitalismo cognitivo, editado por Carlo Vercellone, Roma, manifestolibri, 2006]. Em outras palavras, quando, por conta do papel crucial do “intelecto coletivo” (conhecimento e cooperação social) na criação de riqueza, as formas de riqueza se tornam cada vez mais desproporcionais em relação ao tempo de trabalho diretamente empregado na produção, o resultado não é, como Marx parecia esperar, a autodissolução do capitalismo, mas a transformação gradual do lucro gerado pela exploração da força de trabalho em renda apropriada pela privatização do “intelecto coletivo”.   

O mesmo acontece com os recursos naturais: sua exploração é uma das maiores fontes de renda hoje, acompanhada da luta permanente pra saber quem ficará com esta renda – os povos do Terceiro Mundo ou as corporações ocidentais (a suprema ironia é que, para explicar a diferença entre força de trabalho – que, em seu uso, produz mais-valia sobre seu próprio valor – e outras mercadorias – que somente consomem seu próprio valor em seu uso e, portanto, não envolvem exploração -, Marx menciona como exemplo de uma mercadoria ordinária o petróleo, a própria mercadoria que hoje é a fonte de extraordinários “lucros”…). Aqui também não faz sentido vincular as altas e baixas do preço do petróleo com altos e baixos custos de produção ou preços do trabalho explorado – custos de produção são negligenciáveis, o preço que pagamos pelo petróleo é a renda que pagamos para os proprietários deste recurso por conta de sua escassez e oferta limitada.

A consequência deste crescimento na produtividade alavancado pelo impacto exponencialmente crescente do conhecimento coletivo é a transformação do papel do desemprego: embora o “desemprego seja estruturalmente inseparável da dinâmica de acumulação e expansão que constitui a própria natureza do capitalismo enquanto tal” [Fredric Jameson, em Representing Capital, Londres, Verso Books, 2011, p. 149], o desemprego adquiriu atualmente um papel qualitativamente diferente. Naquilo que, possivelmente, é o ponto extremo da “unidade dos opostos” na esfera da economia, é o próprio sucesso do capitalismo (crescimento produtivo etc.) que produz desemprego (produz mais e mais trabalhadores inúteis) – o que deveria ser uma benção (menos trabalho duro necessário) se torna uma sina. O mercado global é, assim, em relação a sua dinâmica imanente, “um espaço no qual todos já foram, um dia, trabalhadores produtivos, e no qual o trabalho, em todos os lugares, foi aos poucos retirando-se do sistema” [Fredric Jameson, em Valences of the Dialetic, Londres, Verso Books, 2009, p. 580-1]. Isso é, no atual processo de globalização capitalista, a categoria dos desempregados adquire uma nova qualidade além da clássica noção de “exército industrial de reserva”: devemos considerar em relação a categoria do desemprego “aquelas enormes populações, que ao redor do mundo foram ‘expulsas da história’, que foram deliberadamente excluídas dos projetos modernizadores do capitalismo de primeiro mundo e apagadas como casos terminais sem esperança” [Jameson, em Representing Capital, p. 149]: os assim chamados estados falidos (Congo, Somália), vítimas da fome ou de desastres ecológicos, presos a “rancores étnicos” pseudo-arcaicos, objetos da filantropia e das ONGs, ou (frequentemente os mesmos personagens) da “guerra contra o terror”. A categoria dos desempregados deve assim ser expandida para agregar uma população de largo alcance, dos temporariamente desempregados, passando pelos não mais empregáveis, até pessoas vivendo nas favelas e outras formas de guetos (todos aqueles desconsiderados pelo próprio Marx como “lúmpem-proletariado”) e, finalmente, áreas inteiras, populações ou estados excluídos do processo capitalista global, como os espaços em branco nos mapas antigos.

Mas esta nova forma de capitalismo não traz também uma nova perspectiva de emancipação? Nisto reside a tese de Hardt e Negri em Multidão: guerra e democracia na Era do Império [Rio de Janeiro: Record, 2005] onde eles pretendem radicalizar Marx, para quem o capitalismo corporativo altamente organizado já era uma forma de “socialismo dentro do capitalismo” (uma espécie de socialização do capitalismo, com os proprietários tornando-se cada vez mais supérfluos), de maneira que seria necessário apenas cortar a cabeça do proprietário nominal e nós teríamos socialismo. Para Hardt e Negri, entretanto, a limitação de Marx foi estar historicamente limitado ao trabalho industrial mecanicamente industrializado e hierarquicamente organizado, razão pela qual a sua visão de “intelecto coletivo” seria como uma agência central de planejamento; somente hoje, com a elevação do trabalho imaterial ao padrão hegemônico, a transformação revolucionária se torna “objetivamente possível”. Esse trabalho imaterial se desdobra entre dois pólos: trabalho (simbólico) intelectual (produção de ideias, códigos, textos, programas, figuras etc. por escritores, programadores…) e trabalho afetivo (aqueles que lidam com afecções corpóreas, de médicos a babás e aeromoças). O trabalho imaterial é hoje hegemônico no sentido preciso em que Marx proclamou que, no capitalismo do século XIX, a produção industrial em larga escala era hegemônica, como a cor específica dando o tom da totalidade – não quantitativamente, mas cumprido um papel chave, emblematicamente estrutural. Assim, o que surge é um inédito vasto domínio dos “comuns”: conhecimento compartilhado, formas de cooperação e comunicação etc. que não podem mais ser contidos na forma da propriedade privada – por quê? Na produção imaterial, os produtos já não são objetos materiais, mas novas relações sociais (interpessoais) – em suma, a produção imaterial já é diretamente biopolítica, produção de vida social.

A ironia é que Hardt e Negri se referem aqui ao próprio processo que os ideólogos do capitalismo “pós-moderno” celebram como a passagem da produção material para a simbólica, da lógica centralista-hierárquica para a lógica da autopóiese e da auto-organização, cooperação multi-centralizada etc. Negri é aqui efetivamente fiel a Marx: o que ele tenta provar é que Marx estava certo, que a ascensão do intelecto coletivo é, em longo prazo, incompatível com o capitalismo. Os ideólogos do capitalismo pós-moderno estão afirmando exatamente o oposto: é a teoria marxista (e sua prática) que permanecem dentro dos limites de uma lógica hierárquica e sob controle centralizado do Estado, e assim não conseguem lidar com os efeitos sociais da nova revolução informacional. Existem boas razões empíricas para esta afirmação: de novo, a suprema ironia da história é que a desintegração do Comunismo é o exemplo mais convincente da validade da tradicional dialética marxista entre forças produtivas e relações de produção com a qual o marxismo contou na sua tentativa de superar o capitalismo. O que arruinou efetivamente os regimes Comunistas foi sua inabilidade em acomodar-se à nova lógica social sustentada pela “revolução informacional”: eles tentaram dirigir esta revolução com um novo projeto de planejamento estatal centralizado de larga escala. O paradoxo, assim, é que aquilo que Negri celebra como chance única de superação do capitalismo, é exatamente o que os ideólogos da “revolução informacional” celebram como ascensão de um novo capitalismo “sem fricção”.

A análise de Hardt e Negri possui três pontos fracos que, em sua combinação, explicam como o capitalismo pode sobreviver ao que deveria ser (em termos marxistas clássicos) uma nova organização da produção que o tornaria obsoleto. Ela subestima a extensão do sucesso do capitalismo contemporâneo (pelo menos em curto prazo) de privatizar o “conhecimento comum”, assim como a extensão com que, mais do que a burguesia, são os próprios trabalhadores que se tornam “supérfluos” (número cada vez maior deles torna-se não somente desempregado, mas estruturalmente inempregável). Além disso, mesmo que seja verdade, em princípio, que a burguesia está progressivamente se tornando desfuncional, deve-se qualificar esta afirmação –  desfuncional para quem? Para o próprio capitalismo. Isto quer dizer que, se o velho capitalismo envolvia idealmente um empreendedor que investia dinheiro (seu ou emprestado) em produção organizada e dirigida por ele próprio, recolhendo o lucro, hoje está surgindo um novo tipo ideal: não mais o empreendedor que possui sua própria empresa, mas o gerente especialista (ou um conselho administrativo presidido por um CEO) de uma empresa de propriedade dos bancos (também dirigidos por gerentes que não possuem os bancos) ou investidores dispersos. Neste novo tipo ideal de capitalismo sem burguesia, a velha burguesia desfuncional é refuncionalizada como gerentes assalariados – a nova burguesia recebe cotas, e mesmo se ela possui uma parte na empresa, eles recebem as ações como parte da remuneração pelo trabalho (“bônus por sua gerência bem sucedida”).

Esta nova burguesia ainda se apropria da mais-valia, mas da forma mistificada daquilo que Milner chama de “mais-salário”: em geral, a eles é pago mais do que o salário mínimo do proletário (este ponto de referência imaginário – frequentemente mítico – cujo único verdadeiro exemplo na economia global de hoje é o salário de um trabalhador numa sweat-shop na China ou na Indonésia), e é esta diferença em relação aos proletários comuns, esta distinção, que determina seu status. A burguesia no sentido clássico, assim, tende a desaparecer. Os capitalistas reaparecem como um subconjunto dos trabalhadores assalariados – gerentes qualificados para ganhar mais por sua competência (razão pela qual a “avaliação” pseudo-científica que legitima os especialistas a ganharem mais é crucial hoje em dia). A categoria dos trabalhadores que recebem mais-salário não está, obviamente, limitada aos gerentes: ela se estende a todos os tipos de especialistas, administradores, funcionários públicos, médicos, advogados, jornalistas, intelectuais, artistas… O excesso que eles recebem tem duas formas: mais dinheiro (para gerentes etc.), mas também menos trabalho, isto é, mais tempo livre (para alguns intelectuais, mas também para setores da administração estatal).

O procedimento de avaliação que qualifica alguns trabalhadores para receberem mais-salário é, claramente, um mecanismo arbitrário de poder e ideologia sem nenhuma ligação séria com a competência real – ou, como diz Milner, a necessidade de mais-salário não é econômica, mas política: para manter uma “classe média” com o propósito de estabilidade social. A arbitrariedade da hierarquia social não é um erro, mas todo o seu propósito, de forma que a arbitrariedade da avaliação cumpre um papel homólogo à arbitrariedade do sucesso de mercado. Isto é, a violência ameaça explodir não quando existe muita contingência no espaço social, mas quando se tenta eliminar esta contingência. É neste nível que se deve buscar pelo que se pode chamar de, em termos um tanto vagos, a função social da hierarquia. Jean-Pierre Dupuy [em La marque du sacre, Paris, Carnets Nord, 2008] concebe a hierarquia como um dos quatro procedimentos (“dispositivos simbólicos”) cuja função é fazer com que a relação de superioridade não seja humilhante para os subordinados: a hierarquia (a ordem externamente imposta de papéis sociais em clara contraposição ao valor imanente dos indivíduos – eu, portanto, experimento meu menor status social como totalmente independente do meu valor intrínseco); a desmistificação (o procedimento crítico-ideológico que demonstra que as relações de superioridade/inferioridade não estão fundamentadas na meritocracia, mas são resultado de lutas objetivamente ideológicas e sociais: meu status social depende de processos sociais objetivos, não de méritos – como diz Dupuy sarcasticamente, a desmistificação social “cumpre o mesmo papel, em nossas sociedades igualitárias, competitivas e meritocráticas do que a hierarquia nas sociedades tradicionais” [p. 208] – isto nos permite evitar a conclusão dolorosa de que “a superioridade do outro é o resultado de seus méritos e conquistas”; a contingência (o mesmo mecanismo, porém sem a sua forma crítico-social: nossa posição em escala social depende de uma loteria natural e social – sortudos são aqueles que nascem com melhores disposições e em famílias ricas); a complexidade (superioridade ou inferioridade dependem de um processo social complexo independente das intenções ou méritos dos indivíduos – digamos, a mão invisível do mercado pode causar o meu fracasso ou o sucesso do meu vizinho, mesmo que eu tenha trabalhado muito mais e seja muito mais inteligente). Ao contrário do que parece, todos estes mecanismos não contestam ou sequer ameaçam a hierarquia, mas a tornam palatável, uma vez que “o que desencadeia o turbilhão da inveja é a ideia de que o outro merece a sua sorte e não a ideia oposta, a única que pode ser abertamente expressa” [p.211]. Dupuy extrai desta premissa a conclusão (óbvia, para ele) de que é um grande erro pensar que uma sociedade que seja justa e que se perceba como justa será assim livre de todo o ressentimento – ao contrário, é precisamente em tal sociedade que aqueles que ocupam posições inferiores encontraram uma válvula de escape para seu orgulho ferido em violentas explosões de ressentimento.

Aí reside um dos maiores impasses da China hoje: o objetivo ideal das reformas de Deng Xiaoping era introduzir um capitalismo sem burguesia (como classe dominante); agora, entretanto, os líderes chineses estão descobrindo dolorosamente que o capitalismo sem hierarquia estável (conduzida pela burguesia como nova classe) gera permanente instabilidade – portanto, que caminho tomará a China? Mais genericamente, esta é possivelmente a razão pela qual (ex-)comunistas reaparecem como os mais eficientes gestores do capitalismo: sua histórica inimizade com a burguesia enquanto classe se encaixa perfeitamente na tendência do capitalismo contemporâneo em direção a um capitalismo gerencial sem burguesia – em ambos os casos, como Stalin disse a muito tempo, “os quadros decidem tudo” (está surgindo também uma diferença interessante entre a China de hoje e a Rússia: na Rússia os quadros universitários eram ridiculamente mal pagos, eles de fato se confundiam com os proletários, enquanto na China eles são bem remunerados com um “mais-salário” como meio de garantir sua docilidade).                      

Além disso, esta noção de “mais-salário” também nos permite lançar novas luzes sobre os atuais protestos “anti-capitalistas”. Em tempos de crise, o candidato óbvio para “apertar os cintos” são os níveis mais baixos da burguesia assalariada: uma vez que o seu mais-salário não cumpre nenhum papel econômico imanente, a única coisa que permite diferenciá-los do proletariado são seus protestos políticos. Embora estes protestos sejam nominalmente dirigidos pela lógica brutal do mercado, eles efetivamente protestam contra a gradual corrosão de sua posição econômica (politicamente) privilegiada. Lembremos da fantasia ideológica favorita de Ayn Rand (de seu Atlas Shrugged), a de “criativos” capitalistas em greve – esta fantasia não encontra sua realização perversa nas greves de hoje, que em sua maioria são greves da privilegiada “burguesia assalariada” motivada pelo medo de perder seu privilégio (o excedente sobre o salário mínimo)? Não são protestos proletários, mas protestos contra a ameaça de ser reduzido à condição proletária. Isto quer dizer: quem ousa se manifestar hoje, quando ter um emprego permanente já se tornou um privilégio? Não os trabalhadores mal pagos (no que sobrou) da indústria têxtil etc. mas o estrato de trabalhadores privilegiados com empregos garantidos (muitos da administração estatal, como a polícia e os fiscais da lei, professores, trabalhadores do transporte público etc.). Isto também vale para a nova onda de protestos estudantis: sua maior motivação é o medo de que a educação superior não mais lhes garanta um mais-salário na vida futura.

Está claro, obviamente, que o enorme renascimento dos protestos no último ano, da Primavera Árabe ao Leste Europeu, do Occupy Wall Street à China, da Espanha à Grécia, não devem definitivamente ser desconsiderados como uma revolta da burguesia assalariada – eles guardam potenciais muito mais radicais, de forma que devemos nos engajar numa análise concreta caso a caso. Os protestos estudantis contra a reforma universitária em curso no Reino Unido são claramente opostos às barricadas do Reino Unido em agosto de 2011, este carnaval consumista de destruição, a verdadeira explosão dos excluídos. Em relação aos levantes do Egito, pode-se argumentar que, no começo, houve um momento de revolta da burguesia assalariada (jovens bem educados protestando contra a falta de perspectiva), mas isto foi parte de um amplo protesto contra um regime opressivo. Entretanto, até que ponto o protesto conseguiu mobilizar trabalhadores e camponeses pobres? Não seria a vitória eleitoral dos islâmicos também uma indicação da base social estreita do protesto secular original? A Grécia é um caso especial: nas últimas décadas surgiu uma nova “burguesia assalariada” (especialmente na administração estatal superdimensionada) graças à ajuda financeira e empréstimos da União Europeia, e muitos dos protestos atuais, mais uma vez, reagem à ameaça de perda destes privilégios.

Além disso, esta proletarização da baixa “burguesia assalariada” vem acompanhada do excesso oposto: as remunerações irracionalmente altas dos grandes executivos e banqueiros (remunerações economicamente irracionais, uma vez que, como demonstraram as investigações nos Estados Unidos, elas tendem a ser inversamente proporcionais ao sucesso da empresa). É verdade, parte do preço pago por essa super remuneração é o fato dos executivos ficarem totalmente disponíveis 24 horas por dia, vivendo assim num estado de emergência permanente. Mais do que submeter estas tendências a uma crítica moralista, deveríamos interpretá-las como a indicação de como o próprio sistema capitalista não é mais capaz de encontrar um nível interno de estabilidade autorregulada e de como esta circulação ameaça sair do controle.  
Artigo publicado originalmente no Blog da Boitempo


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A Próxima Guerra na Agenda dos EUA





Neste artigo Craig Roberts faz um significativo paralelo histórico: o que estamos a testemunhar é uma repetição da política de Washington para com o Japão na década de 1930, que provocou o ataque japonês a Pearl Harbour. Os saldos bancários do Japão no Ocidente foram apreendidos e o acesso do Japão a petróleo e matérias-primas foi restringido. O objectivo era prevenir ou retardar a ascensão do Japão. O resultado foi a guerra.
Mas é surpreendente que uma tal análise leve no final o autor a apelar ao apoio ao candidato Ron Paul nas próximas presidenciais dos EUA. Por muito maus que sejam os restantes candidatos, a alternativa não é certamente este personagem ultraliberal.

Só os cegos não vêem que o governo dos EUA se prepara para atacar o Irão. Segundo o Professor Michel Chossudovsky, “os preparativos para a guerra contra o Irão (com o envolvimento de Israel e da NATO) foram iniciados em Maio de 2003.” http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=28542
Washington instalou mísseis apontados ao Irão nos estados emirados com petróleo que funcionam como seus fantoches, Omã e os Emirados Árabes Unidos e, com poucas reservas, noutros estados fantoches no Médio Oriente. Reforçou a frota de caças da Arábia Saudita. Mais recentemente, enviou 9 000 soldados para Israel, para participar em “jogos de guerra” cujo objectivo é testar o sistema de defesa aérea dos EUA / Israel. Uma vez que o Irão não representa uma ameaça a menos que seja atacado, os preparativos de guerra de Washington assinalam a intenção de atacar o Irão.
Outro sinal de que Washington tem uma nova guerra em agenda é o aumento da retórica e demonização do Irão. A julgar pelas estatísticas, a propaganda de Washington de que o Irão ameaça os EUA através do desenvolvimento de uma arma nuclear foi bem sucedida. Metade do público norte-americano apoia um ataque militar ao Irão, a fim de impedir este país de adquirir poder nuclear. Aqueles de nós que tentam despertar os nossos concidadãos partem de um deficit que corresponde ao facto de metade da população dos EUA estar sob controlo do Big Brother.
Como os relatórios dos inspectores da Agência Internacional de Energia Atómica no terreno no Irão deixaram claro há anos, não há provas de que o Irão tenha desviado qualquer urânio enriquecido a partir do seu programa de energia nuclear. O estridor de Washington e dos media neoconservadores é infundado. A mentira está ao mesmo nível da reivindicação de que Saddam Hussein tinha no Iraque armas de destruição em massa. Cada soldado dos EUA que morreu naquela guerra morreu em nome de uma mentira.
Não poderia ser mais óbvio que os preparativos de guerra de Washington contra o Irão nada têm que ver com dissuadir o Irão de construir uma arma nuclear. Qual, então, a sua base?
Em minha opinião, os preparativos do governo dos EUA para a guerra são movidos por três factores. Um deles é a ideologia neoconservadora, adoptada pelo governo dos EUA, que os leva a usar a sua posição de superioridade militar e económica para conseguir a hegemonia mundial. Este objectivo faz apelo à arrogância norte-americana e ao poder e sede de lucro que ela serve.
Um segundo factor é o desejo de Israel de eliminar todo o apoio aos palestinianos e ao Hezbollah no sul do Líbano. O objectivo de Israel é dominar toda a Palestina e os recursos hídricos do sul do Líbano. A eliminação do Irão remove todos os obstáculos à expansão de Israel.
Um terceiro factor é o de impedir ou retardar a ascensão da China como potência militar e económica, controlando o acesso da China à energia. Foram os investimentos da China em petróleo no leste da Líbia que levaram os EUA e os seus fantoches da NATO a virar-se subitamente contra a Líbia, e foram os investimentos da China em petróleo noutras regiões de África que resultaram na criação, por parte do regime de Bush, do Comando dos EUA para África, o AFRICOM, destinado a combater a influência económica da China com a influência militar dos EUA. A China tem investimentos significativos em energia no Irão, e uma percentagem substancial das importações de petróleo da China provém do Irão. Privar a China do acesso independente ao petróleo é a maneira de Washington dominar e encurralar a China.
O que estamos a testemunhar é uma repetição da política de Washington para com o Japão na década de 1930, que provocou o ataque japonês a Pearl Harbor. Os saldos bancários do Japão no Ocidente foram apreendidos e o acesso do Japão a petróleo e matérias-primas foi restringido. O objectivo era prevenir ou retardar a ascensão do Japão. O resultado foi a guerra.
Apesar da sua desmedida arrogância, Washington entende a vulnerabilidade da sua Quinta Frota no Golfo Pérsico e não arriscaria perder uma frota e 20 000 homens a menos que fosse para ganhar uma desculpa para um ataque nuclear ao Irão. Um ataque nuclear ao Irão alertaria a China e a Rússia de que poderiam sofrer o mesmo destino. Como consequência, o mundo enfrentaria um risco de cataclismo nuclear maior do que no tempo do impasse EUA-URSS, que assegurava uma destruição mútua.
Washington está a colocar-nos numa situação fora de controlo. Declarou que o eixo* “Ásia-Pacífico” e o Mar da China Meridional são áreas de “interesse nacional dos EUA”. Qual o sentido destas palavras? O mesmo que teria a China declarar o Golfo do México e o Mar Mediterrâneo como áreas de interesse nacional da China.
Washington colocou 2 500 fuzileiros, prometendo a chegada de mais, na Austrália, com que fim? Proteger a Austrália da China ou ocupar a Austrália? Cercar a China com 2 500 fuzileiros navais? Não significaria nada para a China, se Washington colocasse 25 000 fuzileiros navais na Austrália.
Se formos aos factos, as palavras duras de Washington não constituem senão uma provocação sem sentido ao seu maior credor. E se a idiotia de Washington fizer com que a China passe a temer a possibilidade de Washington e os seus fantoches europeus e Reino Unido se apoderarem dos seus saldos bancários e se recusarem a honrar as participações da China de 1 bilião de dólares em títulos do Tesouro dos EUA? Irá a China retirar os seus saldos dos enfraquecidos bancos dos EUA, Reino Unido e Europa? Irá a China atacar primeiro, não com armas nucleares, mas com a venda do seu bilião de dólares em títulos do Tesouro de uma só vez?
Seria mais barato do que a guerra.
A Reserva Federal teria de imprimir rapidamente mais 1 bilião de dólares para comprar os títulos, caso contrário as taxas de juros dos EUA iriam disparar. O que faria a China com um 1 bilião de dólares acabados de imprimir? Na minha opinião, a China iria livrar-se de tudo de uma vez no mercado de câmbio, porque a Reserva Federal não pode imprimir euros, libras britânicas, yen Japonês, franco suíço, rublo russo e yuan chinês para comprar a sua moeda recém-impressa.
O dólar norte-americano seria esmagado. Os preços de importação dos EUA (que agora incluem, graças ao offshoring, quase tudo o que os norte-americanos consomem) subiriam. Os 90% que vivem com maiores dificuldades seriam ainda mais esmagados, atraindo ainda mais os seus opressores em Washington. O resto do mundo, antecipando a guerra nuclear, libertar-se-ia dos dólares, já que Washington seria um alvo de ataque primário.
Se os mísseis não forem lançados, os norte-americanos levantar-se-ão no dia seguinte na condição de país falido do terceiro mundo. Se os mísseis forem lançados, serão poucos a despertar.
Enquanto norte-americanos, precisamos de nos interrogar sobre o que está em jogo. Porque é que o nosso governo provoca deste modo o Islão, a Rússia, a China, o Irão? Que propósito, quem estão a servir? Certamente não a nós.
Quem beneficia do facto de o nosso governo falido se lançar em mais guerras, desta vez não contra países indefesos como o Iraque e a Líbia, mas a China e a Rússia? Pensarão os idiotas em Washington que o governo russo não sabe por que razão a Rússia está a ser cercada com bases de mísseis e sistemas de radar? Acreditarão os imbecis que o governo russo cairá na sua mentira de que os mísseis são dirigidos contra o Irão? Só os idiotas que se sentam à frente da Fox “News” acreditariam que se trata aqui verdadeiramente de uma arma nuclear iraniana.
Quanto tempo mais irá o governo russo permitir à National Endowment for Democracy (Fundação Nacional para a Democracia), que é uma fachada da CIA, interferir nas suas eleições através do financiamento dos partidos da oposição liderada por nomes como Vladimir Kara-Murza, Boris Nemtsov, e Alexei Navalny, que protestam todas as eleições ganhas pelo partido de Putin, acusando sem qualquer prova, mas fornecendo a Washington, que, sem dúvida, paga muito bem, propaganda de acordo com a qual as eleições foram e serão roubadas?http://www.globalresearch.ca/PrintArticle.php?articleId=28571
Nos EUA, activistas como estes seriam declarados “extremistas internos” e sujeitos a um duro tratamento. Nos EUA, mesmo os pacifistas estão sujeitos a invasões de domicílio pelo FBI e a investigações dos tribunais.
O que isto significa é que “o criminoso estado russo” é uma democracia mais tolerante do que os EUA ou os seus estados europeus e que o Reino Unido.
Para onde vamos a partir daqui? Se não quisermos caminhar para a destruição nuclear, os americanos têm que acordar. Jogos de futebol, pornografia, e centros comerciais são uma coisa. A sobrevivência da humanidade é outra. Washington, isto é, o “governo representativo”, consiste somente de uns quantos interesses poderosos. Esses interesses privados, e não o povo americano, controlam o governo dos EUA.
É por isso que nada que o governo dos EUA faça beneficia o povo norte-americano.
A actual colheita de candidatos presidenciais, com excepção de Ron Paul, representa os interesses no controlo. A guerra e a fraude financeira são os únicos valores norte-americanos que restam.
Voltarão os norte-americanos a dar o esplendor da “democracia” a governar por uns poucos, participando nas próximas eleições manipuladas?
Se tiver que votar, vote em Ron Paul ou num candidato de um terceiro partido mais radical. Mostre que não apoia a mentira que é este sistema.
Deixe de ver televisão. Deixe de ler os jornais. Deixe de gastar dinheiro. Quando faz qualquer destas coisas, está a apoiar o mal.
Tradução: André Rodrigues P. Silva

Cientistas desmentem o aquecimento



Richard Jakubaszko


Publicado no Wall Street Journal: The Wall Street Journal
Foi uma alegria enorme encontrar e ler esse post traduzido por Maurício Porto, no blog Terrorismo Climático, reproduzido abaixo, e originalmente publicado em 27/01/2012 no Wall Street Journal, pois em alguns momentos me parece que estou berrando sozinho no deserto. Isto faz com que me considere, de certa forma, excluído, ou ainda, perceba certo olhar de soslaio e soberana empáfia por parte de meus pares no mercado.
Publiquei em janeiro, aqui no blog, e na revista DBO Agrotecnologia de nov/dez 2011, o "SOS aos cientistas pesquisadores" - Acesse:richardjakubaszko -, mas foram poucos os cientistas que me contataram, por telefone ou e-mail, reconhecendo que a ciência tem de dar respostas incisivas à essa questão do aquecimento, ou melhor, das mudanças climáticas. Corremos o grave risco de se estabelecer o pensamento único na sociedade, devido à pressão da mídia acrítica e das empresas verdes, afora os interessados nas questões econômicas dessa autêntica paranóia. Felizmente, lá fora, alguns cientistas criaram coragem e estão botando a bronca no trombone. Aleluia!
CARTA ABERTA DE 16 PROEMINENTES CIENTISTAS: NÃO HÁ NECESSIDADE DE PÂNICO SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL
(Tradução Maurício Porto)
"Não há nenhum argumento convincentemente científico para medidas drásticas para "descarbonizar" a economia mundial."
A Carta Aberta foi assinada pelos 16 cientistas listados ao final:
Um candidato a cargo público em qualquer democracia contemporânea pode ter que considerar, o que fazer sobre o "aquecimento global". Os candidatos devem entender que a alegação tantas vezes repetida que quase todos os cientistas exigem que algo dramático seja feito para parar o aquecimento global não é verdade. Na verdade, um grande e crescente número de importantes cientistas e engenheiros não concordam que ações drásticas contra o aquecimento global são necessárias.
Em setembro, o ganhador do Prêmio Nobel, o físico Ivar Giaever, um apoiador do presidente Obama na última eleição, publicamente demitiu-se da American Physical Society (APS) com uma carta que começa assim: "Eu não vou renovar minha filiação porque eu não posso conviver com a declaração política da APS: "A evidência é incontestável: O aquecimento global está ocorrendo. Se não forem feitas ações de mitigação, perturbações significativas nos sistemas físicos e ecológicos da Terra, sistemas sociais, de segurança e saúde humana são susceptíveis de ocorrer. Devemos. reduzir as emissões de gases de efeito estufa a partir de agora. " Na APS é permitido discutir se acontecem alterações na massa de um próton ao longo do tempo ou como um multi-universo comporta-se, mas a evidência do aquecimento global é indiscutível?"
Apesar de uma campanha internacional de muitas décadas para impor a mensagem de que quantidades crescentes de dióxido de carbono "poluente" irá destruir a civilização, um grande número de cientistas, vários muito proeminentes, compartilham as opiniões do Dr. Giaever. E o número de cientistas "hereges" está crescendo a cada ano que passa. A razão é uma coleção de repetidos fatos científicos.
Talvez o fato mais inconveniente é a falta de aquecimento global por mais de 10 anos. Isto é conhecido pelo establishment do aquecimento, como se pode ver a partir do e-mail do "Climategate" de 2009 do cientista do clima Kevin Trenberth: "O fato é que não podemos explicar a falta de aquecimento no momento, e isso é uma farsa que nós não podemos manter".
O aquecimento só sumiria se alguém acreditasse que ele existia. Ele só aparecia nos modelos de computador e não no mundo real. Nos modelos os chamados feedbacks envolvendo vapor de água e nuvens amplificam o efeito pequeno do CO2, resultando num falso aquecimento global.
A falta de aquecimento por mais de uma década - certamente menor do que o aquecimento previsto ao longo dos 22 anos desde que o Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC) começou a emitir projeções, sugere que os modelos de computador têm exagerado muito quanto ao aquecimento adicional que o CO2 pode causar. Diante deste embaraço, aqueles que promovem previsões alarmistas mudaram seu alvo, do "aquecimento" para "condições climáticas extremas", com a intenção de permitir que qualquer coisa incomum que aconteça no nosso clima caótico possa ser atribuída ao CO2.
O fato é que o CO2 não é um poluente. CO2 é um gás incolor e inodoro, expirado em altas concentrações por cada cada um de nós, e um componente chave do ciclo de vida da biosfera. As plantas melhoram tanto com mais CO2 que os operadores de estufas, muitas vezes aumentam as concentrações de CO2 por fatores de três ou quatro para obter um melhor crescimento. Isso não é surpresa já que as plantas e os animais evoluíram quando as concentrações de CO2 foram cerca de 10 vezes maiores do que são hoje. Melhores variedades de plantas, fertilizantes químicos e manejo agrícola contribuíram para o grande aumento na produção agrícola do século passado, mas parte do aumento quase que certamente veio de CO2 adicional na atmosfera.
Embora o número de cientistas publicamente dissidentes esteja crescendo, muitos jovens cientistas furtivamente dizem que, enquanto eles também têm sérias dúvidas sobre a mensagem do aquecimento global, eles têm medo de falar por medo de não ser promovido, ou pior. Eles têm um bom motivo para se preocupar. Em 2003, Dr. Chris de Freitas, o editor do jornal Climate Research, se atreveu a publicar um artigo revisto por pares com a conclusão politicamente incorreta (mas factualmente correta) que o aquecimento recente não é incomum no contexto das mudanças climáticas nos últimos mil anos. O establishment internacional do aquecimento rapidamente montou uma campanha determinada a remover o Dr. de Freitas de seu trabalho editorial e demiti-lo de seu cargo universitário. Felizmente, o Dr. de Freitas foi capaz de manter seu emprego na universidade.
Este não é o modo como a ciência deve funcionar, mas já foi visto isso antes. Por exemplo, no período assustador quando Trofim Lysenko passou a controlar a biologia na União Soviética. Os biólogos soviéticos entusiasmados com as pesquisas genéticas, que para Lysenko não passava de uma ficção burguesa, foram demitidos de seus empregos. Muitos foram enviados para os gulags e alguns foram condenados à morte.
Por que existe tanta paixão sobre o aquecimento global, e por que a questão tornou-se tão difícil que a American Physical Society, da qual Dr. Giaever renunciou há alguns meses, recusou o pedido aparentemente razoável por muitos de seus membros para remover a palavra "indiscutível" de sua descrição de uma questão científica? Há várias razões, mas um bom lugar para começar é a velho pergunta "cui bono?" Ou a atualização moderna, "Siga o dinheiro".
O alarmismo sobre clima é de grande benefício para muitos, a concessão de financiamento do governo para a pesquisa acadêmica é uma razão para as burocracias do governo crescerem. O alarmismo também oferece uma desculpa para os governos aumentarem os impostos pagos pelos contribuintes, subsídios para as empresas que entendem como funciona o sistema político e um chamariz para grandes doações a fundações de caridade promissoras para salvar o planeta. Lysenko e sua equipe viviam muito bem, e eles defenderam ferozmente o seu dogma e os privilégios que ele trouxe.
Falando por muitos cientistas e engenheiros que têm olhado com cuidado e de forma independente a ciência do clima, temos uma mensagem para qualquer candidato a cargo público: Não há nenhum argumento convincente cientificamente para medidas drásticas para "descarbonizar" a economia mundial. Mesmo que se aceite as previsões climáticas exageradas do IPCC, as agressivas políticas de controle de gases de efeito estufa não se justificam economicamente.
Um estudo recente de uma grande variedade de opções políticas feitas pelo economista de Yale, William Nordhaus, mostrou que na verdade a maior relação custo-benefício seria conseguida por uma política que permitisse mais de 50 anos de crescimento econômico sem impedimentos por controles de gases de efeito estufa. Isto seria especialmente benéfico para as partes menos desenvolvidas do mundo que gostariam de compartilhar de algumas das mesmas vantagens de bem-estar material, saúde e expectativa de vida que as partes plenamente desenvolvidas do mundo desfrutam agora. Muitas outras respostas de políticas teriam uma rentabilidade de investimento negativa. E é provável que mais CO2 e o aquecimento modesto que pode vir com ele será um benefício global para o planeta.
Se os eleitos oficialmente se sentem compelidos a "fazer algo" sobre o clima, recomendamos apoiar os cientistas excelentes que estão aumentando nossa compreensão do clima com os bem concebidos instrumentos nos satélites, nos oceanos e em terra, e na análise de dados observacionais. Quanto melhor entendermos o clima, melhor poderemos lidar com a sua natureza em constante mudança, o que tem complicado a vida humana ao longo da história. No entanto, grande parte do enorme investimento privado e do governo no clima está mal direcionado e tem necessidade urgente de uma revisão crítica.
Todos os candidatos devem apoiar medidas racionais para proteger e melhorar o nosso meio ambiente, mas não faz nenhum sentido voltar para programas caros que desviam recursos das necessidades reais e são baseados em reivindicações alarmistas, e carentes de provas "irrefutáveis".
Claude Allegre, ex-diretor do Instituto para o Estudo da Terra, Universidade de Paris;
J. Scott Armstrong, co-fundador do Journal of Forecasting e International Journal of Forecasting;
Jan Breslow, chefe do Laboratório de Genética Bioquímica e Metabolismo, Rockefeller University;
Roger Cohen, membro da American Physical Society;
Edward David, membro da Academia Nacional de Engenharia e da Academia Nacional de Ciências;
William Happer, professor de física, Princeton;
Michael Kelly, professor de tecnologia da Universidade de Cambridge, UK; William Kininmonth, ex diretor de pesquisas climáticas do Bureau Australiano de Meteorologia;
Richard Lindzen, professor de ciências atmosféricas do MIT;
James McGrath, professor de química, Virginia Technical University;
Rodney Nichols, ex-presidente e CEO da New York Academy of Sciences;
Burt Rutan, engenheiro aeroespacial, designer da Voyager e SpaceShipOne;
Harrison H. Schmitt, astronauta da Apollo 17 e ex-senador dos EUA;
Nir Shaviv, professor de astrofísica, da Universidade Hebraica, em Jerusalém;
Henk Tennekes, ex-diretor, Royal Dutch Meteorological Service;
Antonio Zichichi , presidente da Federação Mundial de Cientistas, em Genebra.
Fonte: The Wall Street Journal

Troca de e-mails indica doações irregulares milionárias do banco PanAmericano ao PSDB


A PF, que deve concluir em breve o inquérito que apura fraudes contábeis e crimes contra o sistema financeiro nacional no PanAmericano, também investiga os arquivos contendo as trocas de e-mails

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Uma troca de e-mails entre diretores do PanAmericano dá indícios de que o banco pode ter feito doações irregulares para a campanha eleitoral do PSDB em Alagoas em 2010. Os e-mails foram encontrados pela Polícia Federal nos arquivos apreendidos na sede da instituição, que pertencia ao empresário e apresentador Silvio Santos e foi vendida ao BTG Pactual após a descoberta de um rombo de R$ 4,3 bilhões no patrimônio do banco.

Neles, diretores do PanAmericano avaliam uma suposta proposta feita pelo governo de Alagoas para negociar uma dívida do Estado com o banco em troca de uma “taxa de intermediação” de 25% sobre o valor devido – retorno que poderia ser pago por meio de doação para a campanha do partido.

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A dívida de Alagoas com o PanAmericano data de 2006. Entre os meses de fevereiro e dezembro daquele ano, o Estado recolheu, via folha de pagamento, parcelas de empréstimos consignados feitos por servidores, mas não repassou os valores aos bancos. Naquela época, Alagoas era governada por Luís Abílio de Sousa Neto (PDT), que assumiu em março de 2006, quando o então governador Ronaldo Lessa (PDT) licenciou-se para concorrer ao Senado. Em valores históricos, a dívida de Alagoas com a instituição era de R$ 2,7 milhões. Com a correção monetária, somava R$ 3,3 milhões em agosto de 2010.

Até meados daquele ano, com as finanças de Alagoas em crise, nenhuma negociação estava em curso. Mas e-mails trocados entre o então presidente do PanAmericano, Rafael Palladino, seu diretor financeiro, Wilson Roberto de Aro, e o gerente de consignado, Luiz Carlos Perandin, sugerem que havia uma proposta em avaliação.

Em um desses e-mails, Aro questiona Palladino se pode “tocar o acordo abaixo”. O acordo a que ele se refere é esmiuçado em um e-mail de Perandin encaminhado a Aro, no qual ele detalha uma suposta proposta para a liquidação da dívida apresentada pelo secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico de Alagoas, Luiz Otávio Gomes.

No e-mail, Perandin afirma que “na reunião realizada ontem [16 de agosto de 2010] a pedido do governo de Alagoas, o dr. Luiz Otávio Gomes, secretário de Estado, ratificou que a única forma de liquidarem o débito é efetuar o pagamento na forma abaixo, ou seja, retorno de 25% sobre o principal e devolução integral da correção monetária”.

Conforme o relato de Perandin, o pagamento seria feito em quatro parcelas de R$ 827,1 mil e o retorno pela intermediação custaria ao banco 25% do total da dívida – ou seja, R$ 678,5 mil -, além da devolução da correção monetária, o que totalizaria R$ 1,27 milhão, também dividido em quatro parcelas. Perandin ainda afirma, no e-mail, que “em resumo, de um crédito de R$ 2,7 milhões (valor histórico) vamos receber R$ 2,03 milhões” e que “o pagamento do retorno poderá ser a título de doação para campanha do PSDB mediante recibo ou emissão de nota fiscal por empresa que será indicada pelo secretário”. Ao fim do e-mail, o gerente de consignado afirma que, para não expor a empresa na operação, uma alternativa seria efetuar o pagamento “através de notas fiscais emitidas por terceiros sem vínculos de negócios com as empresas do grupo”.

As trocas de e-mails sobre a possibilidade de o PanAmericano receber os valores devidos por Alagoas começaram em 10 de agosto de 2010 e se estenderam até o dia 23 do mesmo mês. Nos arquivos encontrados pela PF não há e-mails que comprovem que o acordo entre o banco e o governo do Estado foi fechado e nem e-mails enviados por Luiz Otávio Gomes.

Procurado pelo Valor, o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “tem total confiança no secretário e que todas as contas do governo estão abertas”. A assessoria afirmou ainda que não há nenhum e-mail do secretário enviado a nenhum dos diretores do PanAmericano e que grande parte do problema dos empréstimos consignados está resolvido.

Além disso, informou que os servidores já não têm seus nomes negativados nos serviços de proteção ao crédito e mais de 60% da dívida do Estado com os bancos foi paga até o fim de 2010. A assessoria não soube informar, no entanto, se o restante da dívida foi pago durante o ano passado.

Leia mais:

A Polícia Federal em São Paulo, que deve concluir em breve o inquérito que apura fraudes contábeis e crimes contra o sistema financeiro nacional no PanAmericano, encaminhou os arquivos contendo as trocas de e-mails à superintendência de Alagoas. A PF alagoana abriu um inquérito policial específico para apurar indícios de doações irregulares para campanha eleitoral. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da PF no Estado informou que não comentaria sobre o inquérito.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Pinheirinho: o desabafo de um juiz baiano

Inserido por: Administrador em 27/01/2012.
Fonte da notícia: CPT - Nacional

Sob o título "Apesar da lei, do Poder e das sentenças dos juízes, eu creio na Justiça!", o excelente artigo a seguir é de autoria do juiz Gerivaldo Neiva, da Bahia; o texto foi publicado originalmente no blog do autor, em 23/1.

Não os perdoem: eles sabem o que fazem!

Ao povo do Pinheirinho!

Gerivaldo Neiva *

Para o governador, a culpa é da Justiça.

Para toda imprensa, a Justiça determinou, mandou, decidiu, despejou…

Para o Juiz que assinou a ordem, cumpriu-se a Lei e basta: Dura lex sede lex!

Para catedráticos cheirando a mofo, o Estado de Direito triunfou!

Para o Coronel que comandou, ordens são ordens!

Para o soldado que marchou sobre os iguais, idem!

Ei, Justiça, cadê você que não responde e aceita impassível tantos absurdos?

Não percebes o que estão fazendo com teu nome santo?

Em teu nome, atiram, ferem, tiram a casa e roubam os sonhos e nada dizes?

Tira esta venda, vai!

Veja o que estão fazendo em teu nome! Revolte-se!

E o pior dos absurdos: estão dizendo teus os atos do Juiz e do Poder que ele representa!

Vais continuar impassível?

E mais absurdos: estão te transformando em merdas de leis.

Acorda, vai!

Chama o povo, chama o Direito das ruas e todos os oprimidos do mundo e brada bem alto:

- Não blasfemem mais com meu nome! Não sou o arbítrio e nem a ganância! Não sou violenta, nem cínica e nem hipócrita! Não sou o poder, nem leis, nem sentenças e nem acórdãos de merda!

Diz mais, vai! Brada mais alto ainda:

- Eu sou o sonho, sou a utopia, sou o justo, sou a força que alimenta a vida, sou pão, sou emprego, sou moradia digna, sou educação de qualidade, sou saúde para todos, sou meio ambiente equilibrado, sou cultura, sou alegria, sou prazer, sou liberdade, sou a esperança de uma sociedade livre, justa e solidária e de uma nação fundada na cidadania e dignidade da pessoa humana.

Diz mais, vai! Conforta-nos:

- Creiam em mim. Um dia ainda estaremos juntos. Deixarei de ser o horizonte inatingível para reinar no meio de vós! Creiam em mim. Apesar da lei, do Poder Judiciário e das sentenças dos juízes, creiam em mim e não perdoem jamais os que matam e roubam os sonhos em meu nome, pois eles sabem o que fazem!

(*) Juiz de Direito (BA), membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD)
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