“Super Size me” (2004) é um filme-documentário premiado do diretor norte-americano Morgan Spurlock. No documentário, que pode ser encontrado nas locadoras, são feitas críticas ao costume e à cultura alimentar do fast-food nos Estados Unidos.
Cultura essa que vai conquistando dia a dia mais brasileiros –segundo alguns, tudo que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil. E por aqui todos os dias aumenta o número de consumidores de fast-food, do tipo McDonald’s, Bobs, Habibs, Subway (nem todas são norte-americanas), etc.
No início do filme, Spurlock faz um apanhado de rua e mostra vários homens e mulheres, caminhando ou sentadas, muitas delas obesas, e insere comentários sobre esta que é a maior epidemia dos Estados Unidos.
Uma pesquisa de 2009, realizada pelo próprio Ministério da Saúde, mostra que a obesidade se alastra também no Brasil. Segundo os dados, 13% dos adultos são obesos, índice que aumenta entre as mulheres (13,6%), enquanto entre os homens é de 12,4%.
A primeira edição do estudo “Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas Por Inquérito Telefônico” (Vigitel), do Ministério da Saúde, foi feita em 2006. Naquela ocasião, 11,4% dos brasileiros eram obesos. Em 2009, já era 13%.
Para fazer o filme, o diretor de “Super Size me” passou um mês comendo só no McDonald’s. Antes de iniciar esta indigesta dieta, Spurlock realizou exames e, durante todo o período, foi acompanhado por médicos. Com cerca de 20 dias desta alimentação, um dos médicos o aconselhou a interromper a dieta, pois ele corria risco de vida.
No final dos trinta dias, os exames constataram que ele tinha sofrido efeitos nefastos para a sua saúde, como aumento de peso e de colesterol.
Na semana passada, tomei conhecimento de que o Ministério da Saúde brasileiro tinha assinado um acordo, ou considerado o McDonald´s uma empresa “parceira da saúde”.
Assustei-me e assustaram-se também os professores Carlos Augusto Monteiro (USP), César Gomes Victora (UFPel) e Malaquias Batista Filho (UFPE). Eles remeteram uma carta ao ministro Alexandre Padilha, da qual transcrevo pequena parte:
“[...]A nosso ver, este envolvimento não se coaduna com o histórico do Ministério da Saúde na promoção da segurança alimentar e nutricional da população brasileira[...] A campanha da rede McDonald’s, à semelhança de outras estratégias de marketing empregadas pela mesma empresa, é extremamente nociva, em particular para crianças e adolescentes, que são o público-alvo daquela rede.
É ocioso notar que o objetivo dessa campanha da rede McDonald’s é associar o consumo dos produtos que ela comercializa a comportamentos saudáveis e a induzir o consumidor a pensar que esses produtos deveriam ou poderiam ser consumidos frequentemente.[...]”
Para mostrar que os alimentos da rede não são saudáveis, os professores dão exemplos da composição de dois de seus sanduíches, o Big Mac e o Big Tasty. No caso da ingestão de um Big Tasty, com porções grandes dos acompanhamentos e sobremesa, as calorias ingeridas em uma única refeição alcançam o limite superior estabelecido para um adulto em todas as refeições do dia.
“O consumo de um único Big Tasty corresponde, segundo recomendações da Organização Mundial de Saúde adotadas pela Anvisa, a 63% de todo o sódio que o indivíduo poderia ingerir por dia e a 109% da ingestão diária máxima de gorduras saturadas”, apontam os professores. Ou seja, esse consumo expõe as pessoas a aumento do colesterol (doenças cardiovasculares) e à hipertensão (pressão alta).
Assim como estes cientistas, eu também apoio o abaixo-assinado que defende a imediata desvinculação das marcas, programas e imagem do Ministério da Saúde do Brasil da marca, produtos e campanhas da empresa McDonald’s.
Não pode o ministério considerar uma rede de fast-food, como é o caso do McDonald’s, uma parceira da saúde.
Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado federal (PT-PR) e ex-presidente do Parlamento do Mercosul.
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