domingo, 31 de julho de 2011

Pobres são mais gente boa

Fonte: super.abril.com.br

Thiago Perin 22 de março de 2011
Tô contigo, amigo
A gente sempre ouve por aí que dinheiro não compra felicidade. Não vamos entrar nesse mérito (algum milionário aí para comentar?) – pelo menos, não hoje. Mas o que ele realmente não compra, e aí a ciência comprova, são habilidades sociais.
Em um estudo feito nas universidades da Califórnia (EUA) e de Toronto (Canadá), voluntários mais pobres demonstraram maior capacidade de “ler” as emoções alheias e de empatia, ahabilidade de se colocar no lugar do outro, do que os ricos. Outras pesquisas feitas pela mesma equipe já tinham mostrado que quanto menos dinheiro no banco, educação formal e status profissional o indivíduo tem, mais simpático, prestativo e generoso ele tende a ser.
Esse “bom mocismo” todo, os pesquisadores explicam, parece ser uma resposta às ameaças sociais às quais as pessoas de classes econômicas mais baixas estão sujeitas no dia a dia – passar longos períodos sem emprego, por exemplo. Mais vulneráveis do que quem tem dinheiro no banco (esses podem usar seu poder, status e patrimônio para se manterem seguros), os pobres tendem a recorrer à força das relações interpessoais para sobreviver.
Leia também:Morar em regiões pobres aumenta a felicidadeO que a gente valoriza mais: sexo, dinheiro, comida, álcool, amigos ou elogios?

sábado, 30 de julho de 2011

Hackers que atacaram governo explicam sua ideologia

Fonte : revistagalileu.globo.com


Em entrevista exclusiva, LulzsecBrazil mostra como é a organização do grupo e conta quais são os ideais que motivam os ataques

por Tiago Mali
Editora Globo
Os novos hackers usam o rosto V de Vingança enquanto dizem querer desmascarar governantes
Desde o primeiro contato que Galileu teve com os membros do LulzsecBrazil, logo após os ataques que derrubaram sites do governo, o grupo se concentra em dois temas para explicar seu posicionamento político: combate à corrupção e transparência. Falando sempre de forma genérica, não propõem uma nova plataforma política — apenas que “a lei seja cumprida” — e ameaçam obter e divulgar informações constrangedoras de corrupção dos sites governamentais, o que até agora não foi feito. Leia abaixo os principais trechos das respostas dadas pelo interlocutor do grupo, bile_day, aos questionamentos de Galileu para a reportagem “Ativistas mascarados” (Ed. 241). As entrevistas foram feitas por meio de dois emails e uma ligação de 40 minutos — quando a reportagem teve de discar um número de celular pré-pago especialmente comprado para a entrevista. 


Quando o braço brasileiro do grupo se formou? Após conversamos com a liderança da LulzSec, todos decidiram que seria uma ótima ideia criar uma extensão no Brasil. Somos um grupo único, com apenas diferença de língua. Mais precisamente, quando começou? De onde se conhecem? No mês passado [maio, a entrevista foi feita no fim de junho], mas já vínhamos com contato há mais tempo, não posso revelar a cidade. Vocês já interagiam antes de se unir em fóruns de hackers? Sim. A base do grupo, sim. Quantas pessoas têm a base do grupo? Não vou informar precisamente, mas mais ou menos cinco. Qual o perfil do membros do lulzsec? São todos hackers? A liderança sim, mas temos diversas pessoas aliadas, nas mais diferentes profissões. Programadores, webdesigners, estudantes, advogados, engenheiros... são tantas que não daria pra colocar todas. Quantos anos você tem? Olha eu não vou poder te revelar isso. Mas digamos que acima de 20 e menos que 30. O grupo, na média, tem a mesma idade? A média sim. Vocês se conhecem pessoalmente? Não posso te revelar essa informação. Como começou sua participação no Lulzsec? Antes de eu entrar, já mexia nessa área de informática e participava de alguns grupos de hackers. Junto com o líder que está se movimentando no Brasil, que eu também não posso estar revelando quem é, nós resolvemos fundar o grupo aqui e conversamos com o líder internacional, o Sabu, através do site IRC. A gente decidiu criar aqui também porque não é só lá fora que tem as coisas erradas no governo. Vocês se encontram fisicamente? O que discutem? A forma de que mantemos contato não poderei informar, mas conversos todos os dias, sobre o movimento que estamos fazendo. Traçamos metas, analisamos emails recebidos através do site, conversamos com aliados Pelos ataques, parece que vocês aqui no Brasil estão mais politizados que o lulzsec lá fora. Queria até deixar claro que vários ataques que ocorreram não foi o nosso grupo que fez. Quais vocês fizeram? Presidência.gov, o site da Petrobras, o da fazenda. Foram quatro. Brasil.gov também. Mas e quanto à politização? A gente seguiu o modelo deles [lulzsec internacional]. No começo eles realmente começaram com uma brincadeira, eles mesmo disseram isso. Depois a coisa foi ficando um pouco mais séria, eles viram que poderiam movimentar muita gente, e começaram a fazer ataques contra o governo... Aqui no Brasil pensamos assim: vamos atingir o governo, vamos chamar a atenção da população para a nossa causa. E a única forma de fazer isso é causando danos. Qual é a ideologia do grupo? O que vocês querem mostrar? Queremos mostrar para os brasileiros que eles podem e devem mudar este país e acabar com a corrupção que assombra nossa população. Como? Vocês propõem desobediência civil? Propomos que a população faça manifestações em suas cidades em prol do movimento ou a qualquer outro para a melhoria dos serviços públicos, etc. Não propomos que a população faça desobediência civil. Quais são suas influências políticas? Não posso responder por todos os integrantes, mas eu, bile_day, vivo politica e respiro politica, desde criança que venho acompanhando nosso governo corrupto e sempre fui a favor de campanhas e manifestações contra tudo o que está errado no país. O que está errado? Pode citar exemplos? Tudo está errado no país, a começar pelo modo que os pobres são tratados, são apenas lembrados em épocas de eleições. Saúde Pública está a beira de um colapso, educação é lamentável, as escolas não tem o mínimo de suporte para dar educação aos alunos, sem contar os professores que ganham muito pouco. Mas por outro lado, deputados ganham muito dinheiro, tem auxilio moradia, auxilio terno, auxilio disso, auxilio daquilo, sem contar que não trabalham todos os dias da semana e os dias que trabalham não fazem nada que presta.Isso é uma vergonha para nosso país, isso não é justo com a população brasileira que se mata pra trabalhar e ganhar um salário mínimo pro governo vim e ainda tirar mais da metade em impostos. Lamentável. Você disse que respira política. Pode contar sua experiência na área? Já participou de algum grupo político antes? Olha, participar da política, mesmo... agir... não cheguei a participar. Já fiz movimento na internet, por exemplo, já fui em passeata sobre diversos assuntos. Desde muito tempo eu já sou um pouco, meio, envolvido com a questão da política do Brasil. Porque eu não concordo como o governo está levando o Brasil. Não concordamos, né? Por isso mesmo, somos um grupo e é o mesmo pensamento de todos nós. Os outros integrantes da base também não tem essa experiência prévia na política? Olha... A maioria da base, sim. A maioria já teve relações, digamos, com governo. E... e já participaram de vários assuntos relacionados a isso.... E a gente não começou do nada. A gente não ta entrando numa coisa que a gente não conhece, entendeu? Nós sabemos o que estamos fazendo. Por que esta onda de ataques agora? Já não estava na hora de alguém fazer alguma coisa que chamasse a atenção da população brasileira? Como funciona dentro do grupo? Você é o interlocutor? Isso. Qualquer email que eu respondo pra jornal, TV, etc, primeiro eu consulto todos no grupo. Alguns têm alguma discordância... mas, no final, acabam concordando pra fazer a entrevista, responder emails. No caso eu sou praticamente o porta-voz do grupo, eu que faço a divulgação, eu que administro o site, o facebook. Existe um objetivo final delineado pelo grupo? Sim. Primeiro, pra chamar a atenção, todos olharam pra nós. E logo em seguida, revelar à população brasileira o que acontece nos bastidores do governo. Porque nós todos sabemos, não precisamos fazer ataques para descobrir, que há várias coisas erradas no governo. E nós estamos reunindo provas, documentos. Tudo o que nós temos nós vamos estar divulgando nas fases, fazendo mais investidas para conseguir mais informação. Nós não aceitamos o que acontece no país. Não é justo os governantes fazerem o que bem entender com a população. Você diz em termos de corrupção? Isso. Corrupção.... É um absurdo o que acontece no Brasil. E ninguém faz nada. Já tava na hora de alguém fazer alguma coisa, entendeu? Se não é assim não ia ser de jeito nenhum. O povo do Brasil é muito acomodado, entendeu? Aqui no Brasil, as pessoas são muito acomodadas. Eles acham que a solução pra eles vai vir do governo. Não adianta, não vai vir. Não é um Bolsa Família, não é R$ 200 por mês que vai ajudar uma família. A saúde pública que nós temos não é uma das melhores. Para mim é a pior do mundo, entendeu? Isso não é saúde pública. O grupo quer o fim do governo? Um regime que não dependa desse tipo de organização? Não. Nós não pregamos o fim. Queremos transparência. Queremos que os governantes façam o que tenham que fazer, realmente, que cumpram a lei. Porque a lei para eles não existe. Eles criam, mas eles são imunes à lei. Eles mesmo aumentam os próprios salários. Não é justo um policial, um bombeiro, como tivemos o caso do Rio de Janeiro. Aquele prefeito de lá (sic), dizer que são vândalos.. Eles não são vândalos. Não é o prefeito que vai ajudar as pessoas quando tem problema. Não é o prefeito que vai lá apagar o incêndio quando tem fogo, entendeu? Vocês se vêem exercendo um papel de fiscalização? Isso. E levar a população a se revoltar, entendeu? Outro objetivo nosso é esse. Por meio de vídeos, matérias, posts que a gente faz, entrevista que nós damos. É fazer com que a população se revolte contra tudo isso. Porque não é possível que até hoje nada acontece, nada vai pra frente. Apesar do governo falar que o Brasil daqui a uns anos vai ser a quinta economia do mundo, isso praticamente não quer dizer nada. Porque o Brasil como eu, particularmente, conheço... No bairro onde eu moro, na cidade onde eu moro... Nada muda, entendeu? Nada muda. O governo... só acontece alguma coisa em época de eleição. Vem aqui... tapa um buraquinho na rua, dá algumas coisinhas pras pessoas, mas não muda nada. Já tiveram repressão governamental? De tal proporção, não. Primeira vez. Mas o que de concreto houve de repressão? Tem gente tentando entrar em contato com vocês? Tem, a todo momento. Pelo nosso site, twitter, facebook, a todo o momento tem governo, jornalistas, advogados, deputados... Várias pessoas entrando em contato. Não tem como respondermos a todos, mas a maioria pede pra não ser identificado, falam que estamos certos. Até nos surpreendemos com alguns dos emails que a gente recebe, várias pessoas de vários estados entrando em contato. Até comoveu um pouco o grupo. Muitas pessoas pedindo ajuda, implorando para que façamos alguma coisa na sua cidade, nos seus bairros.. Implorando, praticamente. Isso revoltou o nosso grupo. Deputados chegaram a entrar em contato com vocês? Sim. Não confirmamos, mas pelo menos pessoas que diziam ser deputados. E a polícia? Já chegou alguma vez até vocês? Nenhum de nossos integrantes foi capturado. Mas fazemos de tudo para que isso não aconteça. Porque o movimento não pode parar. A polícia federal tá caçando a gente como se fosse bandido, entendeu? Não somos bandidos. O governo quer que nos peguem, mas por que eles não vão prender político que rouba as pessoas, que é pior? Queira ou não, nós estamos lutando a favor do Brasil, não contra ele. Prender o Palocci, ninguém prende, mas mandar a polícia prender a gente eles mandam. Vocês chegaram a roubar algum dado dos sites do governo? O que? Olha, temos alguns dados sim. Apesar do governo dizer que não invadimos. Alguns sites, realmente, nós não tivemos acesso, mas outros sim. Quais? Não vou estar divulgando agora para não comprometer. Mas nós vamos divulgar. Há informações comprometedoras? Digamos que tem. Mais alguma mensagem que gostariam de passar?
cho que é só isso. Dizer à população brasileira que acordem para isso. Não é pelo fato de os políticos estarem eleitos que eles podem mandar no Brasil, podem fazer o que bem entender. E a população tem direito, sim. A população tem como fazer uma revolução nesse país, é só cada um querer. Não basta ir só votar.

Convite à reflexão

A transitoriedade da vida terrena é um convite à reflexão.
Os homens em geral se empenham para atingir variados objetivos.
Elegem metas por vezes ambiciosas e dedicam suas vidas a conquistá-las.
Também fazem de tudo para ver seus filhos vitoriosos, conforme os padrões do mundo.
Pagam-lhes bons colégios, cuidam de sua instrução formal com desvelo.
Esses objetivos costumam ser louváveis.
Como vivem em um mundo material, os homens precisam se ocupar das coisas tangíveis.
Não dá para se tornar um peso nos ombros do semelhante, enquanto se filosofa sobre tudo e sobre nada.
Apenas não é prudente esquecer que as questões materiais fatalmente passarão.
No esforço de conquistar ou manter coisas, não compensa comprometer a própria dignidade.
Às vezes parece que certa conquista é questão de vida ou morte.
Se dado cargo não for conquistado, a vida parecerá sem sentido.
Entretanto, a permanência nesse cargo será por pouco tempo, considerando a eternidade da vida que jamais se esgota.
Do mesmo modo, a paixão pode colorir de modo excepcional o afeto que alguém inspira.
Ainda que ele seja comprometido, parece que tudo se justifica, desde que seja possível viver aquele sonho dourado.
Nessas situações, a criatura pode se permitir comportamentos indignos.
Ocorre que a felicidade jamais é fruto de indignidade.
A paixão violenta cedo ou tarde amainará.
O cargo importante mudará de mãos.
O dinheiro será consumido, perdido, roubado ou apenas deixado para trás no momento da morte.
O automóvel novo se desgastará e sairá de linha.
Em suma, tudo passa e lentamente perde a importância.
Mas é preciso conviver para sempre com o que se é.
A realidade íntima não se altera com o simples passar do tempo.
Ela não se desgasta, não se torna obsoleta e nem se recicla, sem vontade e esforço.
Muitos Espíritos, pelo fenômeno mediúnico, relatam sua decepção após a morte física.
Tiveram de contemplar suas posses e conquistas materiais passarem a outras mãos.
Ao mesmo tempo, constataram a miséria a que se reduziram, à custa de atos indignos.
Renasceram para evoluir e transcender e se tornaram grandes devedores perante a vida.
Pense nisso, para não inverter suas prioridades.
Viva no mundo, mas não se torne escravo dele. Antes de mais nada, cuide de adquirir grandeza íntima.
Seja bondoso, leal e trabalhador, mesmo nos momentos difíceis.
De nada lhe adiantará conquistar coisas e perder-se a si próprio.
 


Autor:
Redação do Momento Espírita. 

NÃO PRECISAMOS DE PROFESSORES!

NÃO PRECISAMOS DE EDUCAÇÃO
NÃO PRECISAMOS DE PROFESSORES
AFINAL....
PARA QUE SER UM PAIS DE 1° MUNDO SE ESTA BOM ASSIM.
Ronaldinho Gaúcho:R$ 1.400.000,00por mês.
"Homenageado na Academia Brasileira de Letras"...
LETRADO ELE
Tiririca:R$ 26.000,00por mês, fora os auxílios e mordomias;
"Membro da Comissão de Educação e Cultura do Congresso"...
COMO DIZ OS GAUCHOS... BAHHHHHHHHH TCHÊ...  MAS QUE TAL?
TRADUZINDO, O SALÁRIO DO PALHAÇO AI, PAGA SÓ 30 PROFESSORES, E PARA AQUELES QUE ACHAM QUE EDUCAÇÃO NÃO É IMPORTANTE, CONTRATA O TIRIRICA PARA DAR AULA PARA SEU FILHO.
Um funcionário da Sadia (nada contra) ganha hoje o mesmo salário de um ACT ou um professor iniciante, levando em consideração para trabalhar na empresa você precisa ter o fundamental, ou seja, de que adianta estudar, fazer pós e mestrado?

Piso Nacional dos professores: R$ 1.187,00...
Moral da História:
Os professores ganham pouco, porque só servem para nos ensinar coisas inúteis como:ler, escrever e pensar.
Sugestão:
Mudar a grade curricular das escolas, que passaria a ter as seguintes matérias:
-Educação Física: Futebol
-Música: Sertaneja, Pagode,Axé
-História: Grandes Personagens da Corrupção Brasileira
Biografia dos Heróis do Big Brother
Evolução do Pensamento das "Celebridades"
-História da Arte: De Carla Perez a Faustão
-Matemática:Multiplicação Fraudulenta do Dinheiro de Campanha
Cálculo Percentual de Comissões e Propinas
-Português e Literatura:
???????????????????????Para quê??????????????????????
-Biologia, Física e Química:
Excluídas por excesso de complexidade
Está bom ou quer MAIS!!!!!!!!!!!!!
ESSE É O NOSSO BRASIL!!!!!!
SE VOCÊ TAMBÉM ESTÁ ASSUSTADO COM ISSO, REPASSE ESTA MENSAGEM PROTESTANDO.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

A era do preconceito

publicado em 29/07/2011

Por Celso Amorim
Fonte
CartaCapital - 29/7/2011
Nesta era da internet a informação é instantânea. A desinformação também. A notícia sobre os trágicos atentados de Oslo chegou-me enquanto eu navegava pelos sites que costumo frequentar para me atualizar sobre o que ocorre no mundo. Pus-me imediatamente em busca dos detalhes. Abri a página de uma respeitada revista internacional. Além de alguns pormenores, obtive também a primeira explicação, que veria em seguida nas versões eletrônicas dos jornais brasileiros, segundo a qual o perpetrador dos atos terríveis era alguém a serviço de um movimento fundamentalista islâmico. Dois dias depois do acontecido, quando ficou claro que, na verdade, se tratava de um extremista de direita que pertenceu a movimentos neonazistas, ainda é possível encontrar, mesmo com ressalvas (porque a internet comete essas “traições”), a mesma interpretação apressada, baseada no preconceito contra muçulmanos.
No caso da revista internacional, a interpretação não se limitou a essa caracterização genérica. Deu “nome e endereço” do facínora, que seria um iraquiano curdo ligado a sunitas fanáticos, vivendo no exílio desde 1991. O articulista foi mais longe. Apontou as possíveis motivações do crime hediondo, que estariam relacionadas com a presença de tropas norueguesas no Afeganistão e com a percepção, por parte dos tais fundamentalistas, da cumplicidade da imprensa norueguesa com caricaturas ofensivas ao Profeta.
Evidentemente, tudo isso era muito plausível, à luz do ocorrido no 11 de Setembro, descartando-se as hipóteses conspiratórias sobre aquele trágico episódio. Mas era igualmente plausível a hipótese, que acabou confirmada, de que se tratasse de outro tipo de fundamentalista, do gênero “supremacista branco”. O alvo do ataque era um governo da esquerda moderada, visto como tolerante em relação a imigrantes e aberto ao diálogo com as mais diversas facções em situações conflituosas, inclusive no Oriente Médio. Para sublinhar a natureza ideológico-religiosa do ato de violência, o terrorista visou também a juventude do partido, pacificamente acampada em uma ilha.
Algo semelhante havia ocorrido seis anos antes do atentado contra as Torres Gêmeas, quando outro fanático havia feito explodir um prédio público na cidade de Oklahoma, nos Estados Unidos. Daquela feita, o Estado – e tudo o que ele simboliza como limitação ao indivíduo, percebido como independente e antagônico em relação à sociedade – foi o objeto da ira destruidora. Também naquela época, quando a Al-Qaeda ainda não havia ganhado notoriedade, as primeiras análises apontaram para os movimentos islâmicos.
Não ponhamos, porém, a culpa na internet. Ela apenas faz com que visões baseadas em preconceitos, que não deixam de refletir certo tipo de fundamentalismo, se espalhem mais rapidamente, com o risco de gerarem “represálias” contra o suposto inimigo. Felizmente, neste caso, a eficiente ação da polícia norueguesa impediu que isso ocorresse. Mas o risco existe de que, em outras situações, as tragédias se multipliquem, por vezes com o apoio de movimentos marginais inconsequentes, que buscam tirar partido dos eventos, assumindo responsabilidade por algo que não fizeram.
Não é possível ignorar que, no caso da invasão do Iraque, o preconceito, e não apenas a manipulação deliberada (que também existiu), estava por trás de vinculações absurdas, usadas para justificar decisões que causaram centenas de milhares de vítimas (há quem fale em 1 milhão). O suposto elo entre Saddam Hussein e o terrorismo nunca se comprovou, da mesma forma que eram falsas as alegações quanto à posse por Bagdá de armas de destruição em massa. Num primeiro momento, contudo, essas justificativas foram aceitas pela maioria da população norte-americana.
Não sejamos inocentes. Interesses econômicos e políticos, e não apenas preconceitos, motivaram a decisão de atacar o Iraque. Mas o pano de fundo de uma visão particularista do mundo, em que “diferente” se torna sinônimo de “inimigo”, ajuda a criar o caldo de cultura de que se valem os líderes para obter, das populações que governam, o indispensável apoio às suas custosas aventuras bélicas.
A Noruega não corre esse risco. Como disse o primeiro-ministro Stoltenberg, o terrorismo insano não destruirá a democracia do país nórdico, que, ademais, se tem notabilizado por importantes iniciativas em favor da paz. Aliás, é o ódio às pessoas que promovem a paz e o entendimento, além da intolerância e do fanatismo, que está na raiz desse bárbaro atentado. Infelizmente, não só o orgulho, como queria a romancista inglesa, mas também o ódio costuma ser um companheiro inseparável do preconceito.

Celso Amorim é ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula. Formado em 1965 pelo Instituto Rio Branco, fez pós-graduação em Relações Internacionais na Academia Diplomática de Viena, em 1967. Entre inúmeros outros cargos públicos, Amorim foi ministro das Relações Exteriores no governo Itamar Franco entre 1993 e 1995. Depois, no governo Fernando Henrique, assumiu a Chefia da Missão Permanente do Brasil nas Nações Unidas e em seguida foi o chefe da missão brasileira na Organização Mundial do Comércio. Em 2001, foi embaixador em Londres.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Batalha desigual nos EUA: uma implacável luta de classes vinda de cima

Para os trabalhadores comuns, a recessão só trouxe dificuldades econômicas. Contudo, para as corporações norte-americanas, significou outra coisa: uma oportunidade.

Por Gregory Elich* [28.07.2011 17h18]
Nunca se pode ter dinheiro demais. Nos EUA, um por cento da população arrecada quase um quarto da renda nacional e goza de 40% da riqueza. Para essa classe, o problema é que isso não basta.

Para os trabalhadores comuns, a recessão só trouxe dificuldades econômicas. Contudo, para as corporações norte-americanas, significou outra coisa: uma oportunidade. Para elas, foi a oportunidade de moldar de forma permanente a economia em algo que se aproxima do modelo do terceiro mundo: uma enorme riqueza e privilégios para os mais ricos e desemprego, queda dos salários e serviços sociais inadequados ou inexistentes para o resto da sociedade.

Mesmo que a recessão tenha terminado há dois anos, mais de nove por cento da população ainda está desempregada. Se levarmos em conta os trabalhadores informais e os trabalhadores de meio-período que desejam um posto em tempo integral, quase uma sexta parte da força de trabalho está subempregada. Para as pessoas de ascendência africana, a situação é ainda mais grave, com uma taxa de desemprego que é quase o dobro. No entanto, os legisladores não pensaram sequer num programa de emprego.

Ao invés disso, a tendência foi a redução dos benefícios em um momento de maior necessidade, ao mesmo tempo em que se exigem mais cortes de impostos para os ricos. Os déficits criados pelo governo de George W. Bush e pelo presidente Barack Obama deram à direita uma ferramenta para impor sua vontade e disciplinar os trabalhadores. O presidente Obama não teria precisado dos votos do Congresso se estivesse disposto a deixar expirar simplesmente os cortes fiscais de Bush.

Ao insistir em uma impossível continuação parcial desses cortes, Obama se assegurou de que a totalidade do pacote seguisse em vigor. Num momento em que a recessão provocou uma queda nas rendas fiscais, privando o governo dos fundos quando mais eram necessários, está se cobrando pedágio da população para ter acesso ao bem-estar, e se abriu a porta para o corte dos benefícios. Segundo o Gabinete de Orçamento do Congresso, a continuação dos cortes fiscais de Bush até o ano 2020 agregará 3,3 bilhões de dólares à dívida nacional. Este dinheiro poderia ser utilizado na prestação dos mais necessários serviços sociais e para colocar em marcha um programa real de emprego, assumindo, obviamente, que exista vontade política para fazê-lo – coisa que tem estado notavelmente ausente.

Adicionemos o fato de que as guerras no Iraque e Afeganistão da Administração Bush estão custando a bagatela de $1,2 bilhões, principalmente de empréstimos contraídos. Consideremos também que com os custos associados, o preço total das guerras do Iraque e Afeganistão se elevarão a pelo menos $3,2 bilhões, segundo o projeto Cost of War. E essas guerras continuam devorando recursos; mas, como se isso não fosse suficiente, agora o presidente Obama adicionou uma terceira guerra, a da Líbia. Não há fim à vista ao aventureirismo militar, e o orçamento de defesa segue intocável. Esse departamento permanece imune ante todos os discursos de cortes orçamentários. De fato, a Câmara de Representantes votou recentemente para aumentar o já inflado orçamento de defesa em $17 mil milhões.

O que temos em lugar de uma política fiscal responsável e progressiva ou do corte do orçamento de defesa é o constante bombardeio de mensagens de pânico pela dívida, com grandes exigências da necessidade de cortar os serviços sociais, reduzir as aposentadorias e o salário, e, por estranho que pareça, oferecer reduções de impostos para os ricos. Este pânico da dívida se converteu no argumento de todos os ataques contra os trabalhadores. Está ocorrendo uma guerra de classes, e ao se sentir próxima da vitória, a classe dominante não está disposta a levar prisioneiros.

As políticas atuais já marginalizam a recuperação econômica dos trabalhadores. No percurso de dois anos de recuperação, os salários dos trabalhadores seguem essencialmente estáticos, mostrando, de fato, uma ligeira diminuição. Enquanto isso, a remuneração média dos diretores (CEOs) aumentou 27% somente em 2010, chegando a simpáticos US$9 milhões. Os lucros corporativos antes dos impostos foram ainda melhores, com um crescimento de quase 37% em 2010 e mantém seu ritmo de nove por cento de crescimento adicional no primeiro semestre de 2011. De fato, tão unilateral foi a recuperação que os benefícios empresariais representam hoje 92% do crescimento da renda nacional desde o início da recuperação.

Estes são tempos de auge para as corporações. E em grande medida, isso ocorreu às custas dos trabalhadores. Quando os trabalhadores são despedidos, os que permanecem no trabalho assumem a carga adicional. Depois de eliminar milhões de empregos durante a recessão, o mundo empresarial permaneceu relutante em contratar trabalhadores para período integral durante a recuperação. A metade dos novos empregos criados está nas agências de ajuda temporária, e muitos dos novos postos de período integral carecem de benefícios. Mais de 90% do crescimento da produção se deve ao aumento da produtividade. Os trabalhadores que, no entanto, têm a sorte de ter um posto de trabalho estão obrigados a trabalhar mais, a aguentar mais horas e a assumir mais tarefas sem nenhum tipo de pagamento adicional. Em termos simples, a exploração do trabalho é cada vez maior.

Os trabalhadores estão completamente temerosos. Com uma taxa de desemprego tão alta, e com os milhões de desempregados para os quais é difícil ou impossível encontrar outro trabalho, ninguém está disposto a se arriscar. As circunstâncias fazem com que os trabalhadores sintam que têm que suportar qualquer condição que seus gerentes optem por impor. O atual clima de medo eliminou a ação sindical.

Sem dúvida, esta é uma continuação de uma tendência de longa data. Durante a década de 1970, milhares de trabalhadores participaram, em média, de 269 paralisações de trabalho por ano. Sob o ataque de Reagan dos anos 1980, a média se reduziu a 69 por ano, e logo a 34 por ano na década de 1990. Em 2009, houve somente cinco paralisações importantes, de longe o total mais baixo desde que começaram os registros em 1947. No ano passado houve somente 11 greves e, no ritmo que vai 2011, não se alcançará nem sequer este número. A recessão produziu um sonho tornado realidade para o mundo empresarial, com uma força de trabalho composta essencialmente por “dessindicalizados”.

Mas apesar das medidas de aceleração, os cortes de benefícios e a baixa dos salários, as empresas dos EUA seguem exportando empregos para outros países. Por que pagar um trabalhador estadunidense $8 a hora, quando se pode conseguir alguém na Indonésia, por exemplo, que faça o mesmo trabalho por 50 centavos a hora? Na década anterior a 2009, as corporações multinacionais estadunidenses cortaram 2,9 milhões de empregos. Ao mesmo tempo, se somaram 2,4 milhões de empregados no exterior. Esta cifra representa somente a contratação direta e não leva em conta a subcontratação de empresas estrangeiras, que normalmente é o meio utilizado para transformar uma fábrica numa oficina clandestina (sweatshops).

Então, que conclusão se pode extrair disso tudo? Se você escutar os especialistas e os políticos, a necessidade urgente, agora, é acabar com os “privilégios” dos trabalhadores do governo. Destruir os sindicatos de empregados do governo, reduzir as aposentadorias ou eliminá-las por completo, reduzir os salários e despedir trabalhadores. Tempos econômicos difíceis exigem sacrifício compartilhado. Ao escutar-lhes, se poderia pensar que o povo estadunidense está pedindo a gritos o fim dos benefícios decentes para todos os trabalhadores: todos devem dividir a dor. O presidente Obama já congelou os salários dos empregados federais por dois anos – na prática, a aplicação de um corte salarial. E ele recentemente teria dito: “No setor público, o certo é que alguns dos planos de aposentadorias e os benefícios de saúde que estiveram em vigor estão fora de proporção com o que está ocorrendo no setor privado, assim uma grande quantidade de contribuintes começa a sentir ressentimento... O que isso significa é que todos nós vamos ter que fazer alguns ajustes”. Quer dizer, todos menos os ricos, que podem continuar com a festa.

A filosofia da direita é profundamente anti-governo. Aos seus olhos, a única função própria do governo é servir aos ricos e idealizar novas formas de lhes permitir enriquecer mais ainda. E para isso, fazem incessantes esforços para convencer o resto do mundo de que todas as funções governamentais são essencialmente ilegítimas e devem ser reduzidas ou abolidas. Em sua visão, a única tarefa urgente do momento é como oferecer mais cortes de impostos para as corporações, apesar de que dois terços das empresas agora não pagam nada de impostos à receita federal, e a maioria das companhias Fortune 500 paga uma menor porcentagem em impostos federais sobre suas rendas do que os trabalhadores comuns.

Dizem-nos que os impostos excessivos são a única coisa que impede a criação de emprego. O ditado é que devemos liberar o poder do mercado reduzindo os impostos às corporações. Contudo, estas mesmas corporações já estão sentadas sobre uma pilha de $1,9 bilhões de dólares de reservas em caixa, às quais se agarram como uma cobertura contra a insegurança econômica. A adição de outro bilhão mais ou menos a esta pilha não vai animá-las a construir novas fábricas para aumentar a produção quando os consumidores ainda estão sendo golpeados com tanta força que não há suficientes compradores para os produtos que já estão no mercado. A premissa da criação de emprego, obviamente, é uma cortina de fumaça para conseguir a aceitação pública de canalizar ainda mais dinheiro para os bolsos dos ricos. É desanimador ouvir o presidente Obama repetindo esses mitos, como num comentário que fez no final de junho de que “tem sentido” considerar “outros incentivos fiscais para o investimento empresarial que poderiam fazer uma grande diferença quanto à criação de mais postos de trabalho”.

Um dos planos mais importantes é o de uma anistia à repatriação do imposto sobre as corporações. Hoje em dia, as multinacionais estadunidenses não pagam impostos federais sobre o dinheiro ganhado no exterior até que – e somente se – dito dinheiro seja repatriado aos EUA. Muitas têm sedes fictícias estabelecidas em lugares como as Bermudas, e os fundos são desviados através de filiais no exterior, tudo com o fim de burlar as leis fiscais. A Cisco Systems, por exemplo, reduziu seus impostos em $ 7 bilhões ao registrar quase a metade de seu lucro em uma pequena filial na Suíça.

Grupos empresariais de pressão estão ganhando considerável apoio para a proposta de anistia fiscal, entre senadores e congressistas. Ao invés de pagar uma taxa máxima de 35%, a exoneração temporária de impostos permitiria às empresas transferir esses fundos aos EUA a uma taxa máxima de pouco mais de 5%. Este plano, nos dizem, poderia gerar mil bilhões e assim fomentar o investimento e a criação de emprego. O único problema é que essa proposta foi tentada antes, quando se impôs uma anistia durante dois anos ao imposto pela repatriação concedida em 2004 para o mesmo objetivo. Nessa ocasião, as multinacionais estadunidenses aproveitaram a oportunidade para transferir 400 bilhões de dólares aos EUA, e utilizaram este dinheiro para pagar dívidas, oferecer dividendos aos acionistas, e dar bônus aos diretores, enfim, tudo exceto a criação de postos de trabalho. É improvável que uma repetição produza um resultado diferente. De fato, a aprovação de tal plano seria um sinal a mais para as empresas de que devem exportar uma maior parte de sua produção, já que somente teriam que esperar outra ocasião para desfrutar da anistia de impostos e pagar menos impostos do que teriam que pagar se mantivesses duas fábricas nos EUA.

A recessão reduziu drasticamente as rendas fiscais para os governos estatais em todo o território, mas com 29 governadores republicanos à frente, as deficiências foram a oportunidade para atacar os trabalhadores no âmbito estatal e introduzir cortes nos serviços sociais em quase todos os estados.

Em Nova Jersey, por exemplo, o governador Chris Christie eliminou os fundos para planificação familiar, reduziu a assistência médica para a atenção domiciliar e residências de idosos, acabou com o financiamento dos programas legais da Universidade de Rutgers que ajuda aos pobres, e cortou em 40% o financiamento de serviços legais para os necessitados. Não cedeu dinheiro ao programa Zona Empresarial Urbana, que havia sido pensado para fomentar o desenvolvimento econômico nos bairros pobres. Também retirou o financiamento de programas depois da escola, enquanto que as mudanças nas regras de elegibilidade farão com que mais de 50 mil pessoas pobres percam o acesso à cobertura de saúde.

Esses cortes são considerados necessários em razão das inadequadas rendas estatais, mas ao mesmo tempo, Christie concedeu 180 milhões de dólares às empresas, em cortes de impostos.

A Corte Suprema de Nova Jersey revogou os cortes de 1 bilhão feitos por Christie na educação, no ano passado, ordenando que o estado gaste a metade dessa quantidade em suas escolas mais pobres no ano fiscal em curso. Entretanto, Christie considera isso só um impedimento momentâneo. Irremediavelmente hostil à concepção da educação pública, Christie prevê a completa privatização da educação em seu estado, e para ajudar a impulsionar os esforços nessa direção, nomeou Christopher Cerf como Comissário da Educação, ex-presidente da Edison Schools Incorporated. A substituição da educação pública com um sistema de bônus está há muito tempo no programa da direita. Os ricos, que mandam seus filhos a escolas privadas, se ressentem de ter que pagar impostos para apoiar a educação pública. Com seu rechaço narcisista do conceito de bem público, somente se preocupam com seus próprios interesses pessoais. Aos seus olhos, as belezas do sistema de cupons são muitas. As famílias pobres não seriam capazes de pagar a diferença dos valores dos cupons, resultando em que seus filhos estariam condenados a ir a escolas com menos fundos. A “plebe”, em outras palavras, estaria fora de vista. Por outro lado, no entanto, os ricos pagariam menos do que pagam atualmente às escolas privadas, pelo valor dos cupons. E o melhor de tudo na mentalidade do livre mercado, seria a eliminação dos sindicatos de professores e a oportunidade para as empresas privadas de manejar as escolas, onde a qualidade da educação estaria em um distante segundo plano depois do afã pelo lucro.

Para dar outro exemplo, o governador de Ohio, John Kasich, desempenhou um papel especialmente destacado no ataque aos trabalhadores. Inclusive antes de assumir o cargo, anunciou que ia matar o incipiente programa para levar o mais que necessário serviço de trem para unir as cidades de Cincinnati, Columbus e Cleveland, onde a maior base populacional carece de tal serviço. O serviço que ia levar finalmente o trem de alta velocidade se tornou impopular com o novo governador, já que seria de propriedade pública.

Apesar das persistentes manifestações de oposição, Kasich conseguiu facilmente a aprovação de um projeto de lei que elimina os direitos de negociação coletiva para os trabalhadores estatais. Mediante esforços decididos pelo movimento operário, se uniram 1,3 milhões de firmas para uma iniciativa de lei que derrube a anterior, e o resultado desta batalha ainda está para acontecer. Mesmo que os resultados da pesquisa sejam inicialmente animadores, as grandes somas de dinheiro em publicidade que seguramente serão dedicadas na campanha, convencerão os votantes a rechaçar a medida.

Em sua primeira conferência de imprensa depois da vitória eleitoral, Kasich prometeu aplicar um corte de impostos de 4%. Ao assumir o cargo, proclamou que era necessário reduzir os serviços sociais porque não havia suficiente dinheiro nos cofres do Estado. No orçamento estatal recentemente aprovado, Kasich cumpriu sua promessa de aplicar a redução fiscal. No orçamento, se reduziu o apoio aos governos locais em US$630 milhões, o que, sem dúvida, se traduzirá em um efeito adverso nos serviços sociais locais. Cinco prisões serão privatizadas, e há planos de privatizar a rodovia com pedágios de Ohio, com o que se espera que se aumentem fortemente as tarifas aos usuários. Os diferentes municípios estão fornecendo a possibilidade de vender os edifícios de propriedade dos governos locais, para logo alugá-los para novos proprietários, como um amável presente para os interesses dos ricos. Também se inclui no orçamento um plano para ajudar às pequenas empresas, e se espera que se reduzam as rendas do Estado em US$100 milhões em dois anos. Também está programada a eliminação do imposto ao patrimônio a partir de 2013, o que reduziria as rendas dos governos locais em US$250 milhões ao ano. E em outro presente aos interesses corporativos, o orçamento de Kasich proíbe as cidades de tentar regular o uso de gorduras trans nas comidas de restaurantes.

Não se enganem. O pior ainda está por vir. A Câmara de Representantes nas mãos dos republicanos continuará empurrando o presidente Obama para a direita. E está claro em que direção irão as eleições de 2012. Cabe dizer que muitos trabalhadores, preocupados com o desemprego e a diminuição dos níveis de vida, estão expressando sua vontade de votar em uma candidatura republicana, com a ilusão de que uma vitória republicana beneficiará os trabalhadores. As corporações estão planejando inundar a próxima temporada de campanha com publicidade política, e em uma cultura onde a maioria das pessoas depende da televisão para formar sua visão de mundo, esse tipo de publicidade surte efeitos.

Os grupos empresariais de pressão estão sitiando Washington, todos empurrando as mesmas propostas. E os formadores de opinião de direita estão operando a toque de caixa, produzindo uma quantidade alarmante de recomendações de política que recebem muita atenção no Capitólio. Estes esforços determinam, em grande medida, os limites do discurso e as questões que são consideradas dignas de atenção. Como resultado, as preocupações dos trabalhadores ficam fora do espaço do debate, se colocando na mesa somente o programa das corporações.

Não há muita variação nas políticas pelas quais advogam os lobistas corporativos e os grupos de reflexão de direita. Onde quer que se olhe, se vê o mesmo conjunto de recomendações. Assim, é suficiente considerar um só exemplo, o do Cato Institute, como típico da natureza das propostas para reduzir o tamanho do governo federal.

O seguro-desemprego, afirma o Cato, distorce a economia e deve ser reformado. Num momento em que milhões de estadunidenses são incapazes de encontrar trabalho, o Cato quer substituir o seguro-desemprego por um sistema de poupança pessoal. Segundo o Cato, o seguro-desemprego causa desemprego, já que todas essas pessoas que recebem os pagamentos, que são insuficientes para cobrir seus gastos, estão desfrutando da experiência, e optam por não buscar trabalho. Os trabalhos estão por aí, diz, para quem se importa em procurá-los. Isto é tão extraordinariamente disparatado que desafia a compreensão. Os trabalhadores só devem economizar para cobrir os possíveis períodos de desemprego, recomenda Cato. Não importa se a maioria dos trabalhadores ganha apenas o suficiente para pagar suas contas, e que os jovens trabalhadores que perdem seus postos de trabalho não tiveram muito tempo para economizar. Outra alternativa sugerida pelo Cato é por toda a operação ao nível dos estados, o que permitiria aos estados “ser livres para passar um sistema mais orientado ao mercado”, e “revogar as leis que impedem as companhias de seguros de oferecer políticas privadas de seguro-desemprego”. Aqui chegamos ao cerne da recomendação do Cato Institute: sob o sistema atual, as empresas privadas não têm vela neste velório. Para que serve o seguro-desemprego se as corporações não podem se beneficiar diretamente dele?

Não é surpreendente que o Departamento de Trabalho atraia a ira do Cato. Os serviços de emprego e formação devem ser eliminados, porque “não cumprem com nenhuma necessidade crítica que os mercados privados não satisfaçam”. O Congresso “deve reduzir o tamanho das atividades de regulamentação do Departamento de Trabalho”. Cato logo se queixa de que a Administração de Segurança e Saúde, a Divisão de Horas e Salários, e outras agências impõem uma densa rede de normas relativas aos empregadores dos Estados Unidos. O tema principal não é o custo destes organismos no orçamento federal, mas o “dano à economia, causado por regulamentos desnecessários, tais como o salário mínimo federal”. Do ponto de vista das corporações, é o momento de se desfazer das incômodas normas que ajudam a proteger os trabalhadores de condições inseguras, e de eliminar qualquer limitação à capacidade das empresas de reduzir os salários. Essas “normas desnecessárias” se interpõem com a capacidade das empresas de aumentar seu lucro.

A leitura da filosofia do Cato quanto aos sindicatos é uma experiência alucinante. É difícil crer que inclusive os gerentes corporativos possam aceitar isto literalmente, e que estejam tão agudamente conscientes de seus interesses de classe, e tão em desacordo com os interesses de classe dos trabalhadores. Talvez as declarações de posição do Cato estejam destinadas a convencer aqueles trabalhadores que não têm consciência de classe de atuar contra seus próprios interesses. “As principais intervenções federais a favor da sindicalização”, tais como o National Labor Relations Act de 1935, raciocina o Cato, “se baseiam na falsa idéia de que a gestão empresarial e o trabalho são inimigos naturais. De fato, tanto a patronal como a laboral são empregadas pelos consumidores ao produzir bens e serviços, e, portanto, não tem sentido supor que haja uma grande diferença entre esses grupos”. Só estando fora da realidade para fazer uma afirmação tão descabelada nestes tempos econômicos difíceis. Além disso, o objetivo das empresas é produzir lucro, e os bens que produzem são só um meio para fazê-lo.

“É importante que as autoridades reexaminem as leis sindicais e que revoguem aquelas leis que são prejudiciais para o crescimento econômico e incompatíveis com uma sociedade livre”, sugere amavelmente o Cato. E os legisladores estão respondendo a essas propostas, e estão realizando esforços em vários estados para proibir que os sindicatos de recebam através de deduções da folha de pagamento. Os trabalhadores se veriam obrigados a escrever um cheque no nome do sindicato a cada mês. A intenção é óbvia: tornar mais difícil que os sindicatos tenham direitos, e assim mutilar suas operações. Os direitos de negociação coletiva dos empregados estatais estão sob assédio em vários estados. As empresas não estão contentes com suas vantagens, desde já desiguais. Estão buscando a vitória total, pela qual os trabalhadores ficariam sem meios de defender seus direitos.

O Cato Institute quer que sejam revogadas todas as leis favoráveis aos trabalhadores. Uma de suas prioridades é a eliminação da proibição à contratação de trabalhadores não-sindicalizados. “Uma regra que exija que os trabalhadores permaneçam não-sindicalizados como parte dos requisitos do trabalho”, explica o Cato, “e o trabalhador é livre para aceitar e rechaçar a oferta de trabalho”. Quão livres seríamos, em um mundo de livre mercado ideal, no qual o resultado inevitável seria que quase todos os empregadores iriam impor o requisito de não-filiação como condição de emprego. O trabalhador teria a liberdade de escolher: ou firma tal contrato ou passa fome.

Entre as “reformas importantes” que o Cato apela para que o Congresso aprove está a eliminação da representação exclusiva, em outras palavras, a autorização da multiplicidade de sindicatos; a aprovação de uma lei de direito ao trabalho, que permitiria às empresas contratar permanentemente trabalhadores substitutos; e permitir as empresas se negar a seguir empregando os representantes sindicais. O Cato também gostaria de ver um projeto de lei que permita os sindicatos de empresas, já que, como disse, “a proibição atual à cooperação... não tem sentido econômico”.

As recomendações do Cato para o Departamento de Saúde e Serviços Humanos não são menos draconianas. “O Medicare reduz a liberdade individual”, proclama o grupo de análise. O Cato Institute ressuscita esta velha e cansada ladainha de que o Medicare é uma “pirâmide que permite que cada geração de aproveite da seguinte”. O Cato se pergunta por que a gente jovem teria que se submeter à imposição de ter que apoiar os idosos. Não importa que as pessoas mais velhas já tenham abandonado o sistema. Uma vez mais, se evidencia a muito comum hostilidade sociopática da direita com o bem-comum. “O Congresso deve reduzir o gasto da Medicare”, exige o Cato, já que “os idosos estão mais prósperos do que nunca”. O Congresso deveria dar um fim ao Medicare e oferecer aos aposentados um bônus para adquirir um seguro de saúde. Essa é a solução do Cato. Depois de tudo, qual é o benefício de um programa do qual as empresas não podem obter lucros? Caberia se perguntar, no entanto, quantas companhias de seguros estariam dispostas a assegurar uma pessoa idosa, e, se é assim, que preços cobrariam?

Cato louva a reforma dos programas de apoio social de 1996 do presidente Clinton por ter reduzido em dois terços a lista de pessoas aptas a receber o apoio. Mas pode-se fazer mais. “O objetivo final da reforma,” explica o Cato, “deve ser a eliminação de todo o sistema de rendas de bem-estar para as pessoas em condições de trabalhar. Isto significa a eliminação não só dos cupons TANF, mas também dos cupons de alimentos, da moradia social e outros programas. As pessoas que não estejam dispostas a se sustentar através do mercado de trabalho teriam que depender do apoio da família, da igreja, da comunidade ou da caridade privada”. É o modelo perfeito do Terceiro Mundo, esperando ser importado aos EUA. Talvez o Cato não tenha se dado conta, mas o mercado de trabalho não funcionou tão bem para empregar pessoas dispostas, inclusive ansiosas, por trabalhar. E nem todos têm parentes aos quais podem recorrer, nem tampouco todas as famílias que vão bem economicamente podem assumir despesas adicionais. Devemos nos perguntar como o Cato espera que as organizações de beneficência e as igrejas assumam a tarefa de manter os milhões de pessoas que não necessitam. Não há albergues suficientes para que caibam todos. Mas não importa, porque “a caridade privada é superior à assistência social do governo”. E além de tudo há um monte de bancos nos parques onde se pode dormir, e pontes sob as quais se pode instalar.

O Cato tem uma especial hostilidade com o Departamento de Transporte. “A Administração Federal de Trânsito deve ser eliminada”, devido a seu apoio ao transporte ferroviário. A perda dos subsídios de trânsito federais obrigaria os governos locais a abrir “os mercados de transporte a operadores privados”. O controle do tráfico aéreo deveria ser “eliminado do orçamento federal” e as operações geridas por uma empresa privada. A Amtrak também deveria ser privatizada. E a Administração Federal de Estradas deve ser eliminada, o que incentivaria os governos estatais a “olhar para o setor privado para ajudar no financiamento e operação de estradas”, incluindo os pedágios eletrônicos, tudo isso com magníficas utilidades, naturalmente. Imagine uma vida na qual para dirigir pelas estradas acarretaria repetidas cobranças, e onde o trem como um serviço de transporte alternativo seguro, rápido e mais amigável ao meio ambiente tenha sido permanentemente eliminado... essa é uma pequena amostra de algumas das maravilhas que esse livre mercado ideal pode nos trazer.

Esses não são somente alguns dos conceitos absurdos, por mais que dêem essa impressão. Os grupos de pressão e de análise sentem que chegou o momento, e estão levando a cabo seus objetivos. Os governos estatais já estão avançando para pôr em prática alguns desses objetivos políticos, e os republicanos da Câmara introduziram uma série de projetos de lei nesse sentido. De fato, a proposta do Presidente do Comitê do Orçamento da Câmara, Paul Ryan, reflete as recomendações de organismos como o Cato Institute e inclui muitas das mesmas idéias. Enquanto que a proposta de Ryan não tem nenhuma possibilidade de passar a lei sem mudanças, o certo é que cedo ou tarde alguns elementos encontrarão espaço na lei.

Os Republicanos da Câmara propõem que se privatize a Amtrak. Efetivamente, isso significaria a venda do corredor noroeste a uma empresa privada que opere a linha, cobrando tarifas mais altas dos usuários. E já que a rentabilidade dessa linha ajuda a apoiar o serviço de trens para o resto da nação, é improvável que as demais linhas encontrem compradores, o que resultaria em seu fechamento. A China embarcou num programa de US$ 1 bilhão para a construção de uma ferrovia de alta velocidade, infraestrutura e estradas, enquanto que nos EUA esse tipo de dinheiro está reservado para as aventuras militares e reduções de impostos. Ao invés disso, nos oferecem planos de transporte baseados na privatização, a eliminação das alternativas ao carro e infraestrutura deteriorada. O senador de Illinois, Mark Kirk, apresentou um projeto de lei que tipifica este enfoque, chamando ao investimento privado nas estradas e aeroportos, e a “comercialização” das áreas de descanso nas estradas.

Do modo como vão as coisas, estas idéias só ganharão mais força com a eleição de um presidente republicano. Os trabalhadores enfrentam uma eleição pouco invejável em 2012: votar no Presidente Obama, que podemos ter certeza que seguirá servindo aos interesses corporativos, ou votar pelo candidato republicano, que fará o mesmo, só que de uma maneira mais dura.

Nos próximos meses, podemos estar seguros de que veremos mais cortes selvagens das pensões e serviços sociais, assim como tentativas de sufocar a Segurança Social. Os juízes de dois casos judiciais, em Colorado e Minnesota, descartaram os desafios legais apresentados por trabalhadores estatais aposentados que tiveram os reajustes por custo de vida de suas pensões eliminados. Essas decisões são amplamente vistas como um sinal verde para que outras legislaturas estatais cortem as pensões, e desde já o governador Christie de Nova Jersey firmou uma lei que corta severamente as pensões e os benefícios de saúde dos trabalhadores estatais. E Christie disse que recebeu chamadas dos governadores de outros estados, lhe pedindo assessoramento sobre a forma com que podem repetir a mesma ação.

Com o baixo nível de solidariedade entre trabalhadores, a luta é desigual. Mas os sindicatos, debilitados como estão, seguem envolvidos numa oposição enérgica aos ataques contra os trabalhadores. Permanecem sendo a melhor arma para nos defender, e merecem todo nosso apoio. O mundo empresarial está realizando agressivamente seu programa. Não deveríamos ser menos militantes na defesa de nossos direitos.

*Gregory Elich é membro da Junta Diretiva do Jasenovac Research Institute e do Conselho Assessor da Comissão da Verdade na Coréia. Também é autor do livro Strange Liberators: Militarism, Mayhem, and the Pursuit of Profit. (Estranhos Libertários: Militarismo, Caos, e a Busca pelo Lucro).

(Tradução Cainã Vidor)

Cidadania e respeito ao próximo

Clara mora em uma grande cidade do Brasil, na qual milhões de pessoas dividem o espaço em movimentadas ruas.

Todos os dias, na hora do almoço, ela anda seis quadras até o restaurante que costuma frequentar. Nesse trajeto, até há poucos meses, havia semáforo para pedestres em apenas uma das esquinas que cruzava.

A fim de respeitar as leis, e de não colocar em risco a sua vida, ela costumava cruzar apenas nas esquinas onde havia semáforo para os carros, mesmo que isso aumentasse em alguns metros a sua caminhada.

Observava, no entanto, entristecida, que a grande maioria dos pedestres, sem cuidado algum, cruzava a rua correndo grande perigo.

Há poucos meses, viu, com alegria, a Prefeitura providenciar a instalação de semáforos para pedestres em todas as esquinas daquele trajeto. Com certeza isso mostrava respeito do poder público para com o cidadão.

No entanto, observou que tais sinais de trânsito não eram percebidos pela maior parte das pessoas que por ali circulava. Era só uma questão de tempo, pensava ela, pois todos começariam a prestar atenção.

Várias semanas depois, percebeu que os transeuntes, em sua maioria, desrespeitavam os sinais luminosos, e continuavam a cruzar a rua sem segurança.

Chegou a observar uma jovem, com um bebê no colo, cruzar a rua quando o sinal estava vermelho para os pedestres, e quase foi atropelada. Compadeceu-se da criança que, desde cedo, convivia com falta de amor materno.

Dia desses resolveu contar no relógio o tempo que levaria, a mais, para chegar ao restaurante, se tivesse que esperar todos os sinais fecharem e abrirem. A conclusão foi surpreendente: apenas um minuto e vinte segundos!

E, por tão pouco, as pessoas arriscavam tanto. Pensou em escrever à Prefeitura e solicitar uma campanha de educação aos pedestres. Mas, logo ponderou consigo mesma que o cidadão também deve fazer a sua parte.

Continuou a esperar, pacientemente, a sua vez de cruzar a rua, mesmo sendo, muitas vezes, a única pessoa a respeitar o sinal, pois para ela não havia outro comportamento aceitável para um cidadão.

* * *

Muito se fala em cidadania. Segundo o dicionário, cidadania é a condição de cidadão, que é o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado.

Falar em direitos é sempre agradável a qualquer indivíduo, e, sem dúvida alguma, todos devemos lutar por eles para viver dignamente.

Mas, morando em comunidades, devemos sempre estar atentos aos nossos deveres, pois, se cada um buscar apenas os direitos, a vida em sociedade será um caos.

Em um país todos estão sujeitos à constituição que é a carta que dita deveres e direitos a todos os cidadãos.

Temos sim, portanto, deveres para com o próximo. E o próximo é nosso familiar, nosso amigo, nosso colega de trabalho, nosso vizinho, nosso compatriota.

* * *

E você? Como você age no dia a dia? Como aqueles que só pensam em seus direitos, ou como quem mostra a evolução moral de conhecer e cumprir seus deveres?

Como você se comporta diariamente em sua comunidade?

Reflita com carinho e você concluirá que devemos melhorar a cada dia, aprendendo a respeitar as leis, a respeitar o próximo e a fazer a nossa parte, mesmo que aqueles com quem convivemos ainda não o façam.
 

Autor:
Redação do Momento Espírita.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Face à crise: quatro princípios e quatro virtudes

23/7/2011 13:07,  Por Leonardo Boff

A frase de Einstein goza de plena atualidade: “o pensamento que criou a crise não pode ser o mesmo que vai superá-la”. É tarde demais para fazer só reformas. Estas não mudam o pensamento. Precisamos partir de outro, fundado em princípios e valores que possam sustentar um novo ensaio civilizatório. Ou então temos que aceitar um caminho que nos leva a um precipício. Os dinossauros já o percorreram.
Meu sentimento do mundo me diz que quatro princípios e quatro virtudes serão capazes de garantir um futuro bom para a Terra e à vida. Aqui apenas os enuncio sem poder aprofundá-los, coisa que fiz em várias publicações nos últimos anos.
O primeiro é o cuidado. É uma relação de não agressão e de amor à Terra e a qualquer outro ser. O cuidado se opõe à dominação que caracterizou o velho paradigma. O cuidado regenera as feridas passadas e evita as futuras. Ele retarda a força irrefreável da entropia e permite que tudo possa viver e perdurar mais. Para os orientais o equivalente ao cuidado é a compaixão; por ela nunca se deixa o outro que sofre abandonado, mas se caminha, se solidariza e se alegra com ele.
O segundo é o respeito. Cada ser possui um valor intrínseco, independetemente de seu uso humano. Expressa alguma potencialidade do universo, tem algo a nos revelar e merece exisitir e viver. O respeito reconhece e acolhe o outro como outro e se propõe a conviver pacificamente com ele. Ético é respeitar ilimitadamene tudo o que existe e vive.
O terceiro é a responsabilidade universal. Por ela, o ser humano e a sociedade se dão conta das consequências benéficas ou funestas de suas ações. Ambos precisam cuidar da qualidade das relações com os outros e com a natureza para que não seja hostil mas amigável à vida. Com os meios de destruição já construidos, a humanidade pode, por falta de responsabilidade, se autoeliminar e danificar a biosfera.
O quarto princípio é a cooperação incondicional. A lei universal da evolução não é a competição com a vitória do mais forte mas a interdependência de todos com todos. Todos cooperam entre si para coevoluir e para assegurar a biodiversidade. Foi pela cooperação de uns com os outros que nossos ancestrais se tornaram humanos. O mercado globalizado se rege pela mais rígida competição, sem espaço para a cooperação. Por isso, campeiam o individualismo e o egoismo que subjazem à crise atual e que impediram até agora qualquer consenso possível face às mudanças climáticas.
Os quatro princípios devem vir acolitados por quatro virtudes, imprescindíveis para a consolidação da nova ordem.
A primeira é a hospitalidade, virtude primacial, segundo Kant, para a república mundial. Todos tem o direito de serem acolhidos o que correspode ao dever de acolher os outros. Esta virtude será fundamental face ao fluxo dos povos e aos milhões de refugiados climáticos que surgirão nos próximos anos. Não deve haver, como há, extra-comunitários.
A segunda é a convivência com os diferentes. A globalização do experimento homem não anula as diferenças culturais com as quais devemos aprender a conviver, a trocar, a nos complementar e a nos enriquecer com os intercâmbios mútuos.
A terceira é a tolerância. Nem todos os valores e costumes culturais são convergentes e de fácil aceitação. Dai impõe-se a tolerância ativa de reconhecer o direito do outro de existir como diferente e garantir-lhe sua plena expressão.
A quarta é a comensalidade. Todos os seres humanos devem ter acesso solidário e suficiente aos meios de vida e à seguridade alimentar. Devem poder sentir-se membros da mesma família que comem e bebem juntos. Mais que a nutrição necessária, trata-se de um rito de confraternização.
Todos os esforços serão em vão se a Rio+20 de 2012 se limitar à discussão apenas de medidas práticas para mitigar o aquecimento global, sem discutir outros princípios e valores que podem gerar um consenso mínimo entre todos e assim conferir sustentabilidade à nossa civilização. Caso contrário, a crise continuará sua corrosão até se transformar num tragédia. Temos meios e ciência para isso. Só nos faltam vontade e amor à vida, à nossa, e a de nossos filhos e netos. Que o Espírito que preside à história, não nos falte.


Leonardo Boff é teólogo e escritor.

Fonte: Correio do Brasil
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