quarta-feira, 6 de julho de 2011

Einstein, Wall-Mart e a precarização das relações de trabalho

Texto removido do Site : www.fernandohleme.wordpress.com
Publicado em Economia por Fernando Leme em 06/07/2011
Poucas ideias me impressionaram tanto quanto a Teoria da Relatividade (do Einstein) quando tive contato com ela. A relatividade geral, mais especificamente, e a teoria da curvatura do espaço-tempo. Nela, o físico pop alemão intui primeiro que espaço e tempo são “demonstrações” distintas do mesmo fenômeno, e com cálculos pouco precisos que levaram décadas até serem comprovados, que corpos massivos como o nosso planeta influenciam não apenas o campo gravitacional em volta. Mas o fazem porque alteram a geometria do espaço-tempo. A “presença” de tanta massa num só lugar produz alterações no espaço em volta (aumentando a curvatura do entorno) e do tempo (reduzindo sua velocidade, ou atrasando os “passantes” dependendo do ponto de vista).
Igualzinho o Wall-Mart!
Segundo um artigo do David Moberg (link abaixo), o Wall-Mart é tão grande, tão obsessivamente focado na redução de custos e no aumento da produtividade que toda vez que ele se estabelece numa localidade verifica-se uma redução do nível de salário médio, um empobrecimento da cadeia de fornecedores (praticamente extorquidos para vender a preços menores), a precarização das relações de trabalho e emprego, bem como o enfraquecimento dos sindicatos. Os trabalhadores do Wall-Mart ganham menos, trabalham mais, sofrem maior pressão e tem mais responsabilidades que trabalhadores da mesma função de outras redes poucos anos atrás.
O poder econômico e o lucro de escala do Wall-Mart são tanta “massa” que alteram a geometria do espaço-tempo em volta.
Um dos elementos do efeito Wall-Mart é também uma força cósmica que ameaça as “relações entre capital e trabalho”. A terceirização. Ou deveria chamar de “outsourcing”? Um nome gringo, para empolgar estudante deslumbrado de administração.
A terceirização segue a mesma lógica da busca obsessiva pela redução de custos. A qualquer preço, inclusive os “preços humanos” (tempo, felicidade, satisfação, condições de trabalho). As empresas de terceirização tem sido responsáveis por precarizar as relações de trabalho em escala “nunca dantes” verificada. As empresas de hoje terceirizam tudo, das atividades-meio (como a limpeza num banco) às atividades-fim (como a CPFL terceirizando serviços de eletricistas).
Embora apresente resultados microeconômicos visíveis (redução dos custos, dos encargos trabalhistas e, portanto, maior lucratividade), no meu entendimento o fenômeno Wall-Mart não se sustenta quando generalizado.
Quando todos (ou qualquer aproximação contábil de 100%) receberem pouco treinamento, forem mal-remunerados e trabalharem mais horas por dia ter-se-á (perdão, a mesóclise foi sem querer) iniciado um círculo vicioso em que não adianta vender produtos cada vez mais baratos. As pessoas estarão gastando seu dinheiro com produtos cada vez mais simples ou mais fundamentais, e comprando menos. O que reduz a demanda, reduzindo os salários, exigindo aumento de produtividade/cabeça, para reduzir os preços, e assim por diante. Ou seja, do ponto de vista macroeconômico, a estratégia (mais do que estratégia), o caminho em que estamos (e a possível fusão Pão-de-açúcar/Carrefor é outro sintoma) é suicida.
Mas ninguém está se dando conta. Todas as empresas terceirizam serviços. Estamos precarizando as relações de trabalho e o número de anos de escola que uma pessoa precisa ter para executar determinada tarefa satisfatoriamente.
Mais do que isso, estamos precarizando as relações humanas. Reduzindo os vínculos de solidariedade e estabelecendo como regra única o salve-se-quem-puder.
Será que o Einstein concordaria?
Fontes:
Impact of Wall Mart
O espaço-tempo curvo na teoria da relatividade geral de Einstein

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