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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Brasileiros formados em Cuba destacam rompimento com a “ditadura do dinheiro”


Médicos brasileiros formados em Cuba destacam as diferenças nos métodos de formação utilizados na área da saúde brasileira e cubana

“Medicina cubana ensina a atender o povo com qualidade e humanismo”
A saúde no Brasil tem sido tema de grandes debates nas últimas semanas, provocados tanto pelas manifestações das ruas, que exigem melhoras e mais investimentos na área, quanto pelas propostas recentes do governo em trazer médicos de outros países para trabalhar em regiões mais carentes.
Essas propostas, assim como a obrigação dos estudantes de universidades públicas em cumprir dois anos no Sistema Único de Saúde (SUS), tem sido alvo de fortes críticas das associações de médicos, que afirmam que essas não seriam as soluções para os problemas.
A Página do MST conversou com Augusto César e Andreia Campigotto, ambos formados em medicina em Cuba, sobre o tema.
Nascido em Chapecó e com 25 anos de vida, Augusto César ainda não exerce a profissão. Está estudando para fazer a prova de revalidação do diploma cubano e, assim, poder atuar no Brasil. Quando conseguir seu registro, pretende trabalhar na área rural, atendendo os Sem Terra e os assentados da Reforma Agrária.
Andreia Campigotto tem 28 anos e nasceu em Nova Ronda Alta (RS). Trabalha em Cajazeiras, no sertão paraibano, como residente em medicina da família em uma unidade básica de saúde, que atende uma comunidade de 4 mil pessoas.

Formato

O curso de medicina cubano dura seis anos. Para estudantes de outros países, ele se inicia na Escola Latinoamericana de Medicina, localizada em Havana. Depois de um período inicial de dois anos, os estudantes são enviados para as diversas universidades do país. Augusto e Andreia foram para a universidade da província de Camagüey.
O curso de medicina cubano não se difere muito do brasileiro, do ponto de vista curricular.
“Os dois primeiros anos trabalham com as ciências médicas. Estudamos fisiologia humana, anatomia humana e desde o primeiro ano temos contato com os postos de saúde. Quando somos distribuídos para as universidades, vivenciamos o sistema público de saúde. Comparado com o Brasil, o nível teórico é igual, mas o nível de prática é maior”, afirma Augusto.
“Um estudo do governo federal mostra a compatibilidade curricular dos cursos de medicina de 90% entre Brasil e Cuba. Então, não há grandes diferenças teóricas”, conta Andreia.
A diferença principal entre os dois cursos está na concepção de medicina e de saúde na formação dos médicos. “O curso brasileiro é voltado para as altas especialidades. Tem essa lógica de que você faz medicina, entra numa residência e se especializa. Já em Cuba o curso se volta à atenção primária de saúde, para entendermos a lógica de prevenção das doenças e o tratamento das enfermidades que as comunidades possam vir a ter”, diz Augusto.
Em contrapartida, “saúde” e “medicina” no Brasil são sinônimos de pedidos de exames e tratamento com diversos medicamentos, calcados em sua maioria na alta tecnologia. Com isso, a medicina preventiva fica em segundo plano, alimentando uma indústria baseada na exigência destes procedimentos.
“No Brasil, temos uma limitação na formação do profissional, pois ela é voltada ao modelo hospitalacêntrico, que pensa só na doença e no tratamento. Em Cuba isso já foi superado. Lá eles formam profissionais para tratar e cuidar com qualidade, humanismo e amor cada paciente; aprendemos de verdade a lidar com a saúde do ser humano”, analisa Andreia.
Ela destaca que os médicos formados na ilha são capazes de atender a população sem utilizar somente a alta tecnologia, condição que não necessariamente limita um atendimento com qualidade à população que mais carece.
“É mais barato fazer promoção e prevenção de saúde. No entanto, isso rompe com a ditadura do dinheiro. Com isso, os médicos aguardam o paciente ficar doente para pedir um monte de exames e dar um monte de medicamentos”, afirma Augusto
De acordo com ele, essa estrutura fortalece o complexo médico-industrial, que se favorece sempre que há alguém internado ou que precise tomar algum medicamento.
“Não negamos a necessidade de medicamentos e equipamentos, porque precisamos dar atenção a esse tipo de paciente. Mas não precisamos esperar que todas as pessoas fiquem doentes para começar a trabalhar a questão da saúde”, acredita Augusto.
José Coutinho Júnior, Página do MST

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Médicos suspendem atendimento a planos de saúde em dez estados


Paula Laboissière

Brasília – Médicos do Acre, da Bahia, do Maranhão, de Mato Grosso do Sul, de Minas Gerais, do Pará, do Piauí, do Rio Grande do Norte, de São Paulo e de Sergipe suspendem a partir de hoje (10) o atendimento a pacientes de planos de saúde. A paralisação, em alguns casos, pode durar até 15 dias.
Esta é a quarta suspensão anunciada pela categoria em dois anos. De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), durante o período, não serão realizadas consultas e cirurgias eletivas. Segundo o conselho, os pacientes foram informados previamente sobre a paralisação e terão que remarcar o atendimento. Serviços de urgência e emergência não serão afetados pelo movimento.
Além do reajuste de honorários de consultas e de outros procedimentos, a pauta de reivindicações inclui a inserção, em contrato, dos critérios de reajuste, com índices definidos e periodicidade e o fim da intervenção dos planos na relação médico-paciente.
Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) indicam que, entre 2003 e 2011, a receita das operadoras cresceu 192%, enquanto o valor médio pago por consulta aumentou 65%. Cálculos da própria categoria, entretanto, indicam que houve reajuste de 50%.



Calendário de paralisações
Estado
Planos
Período de suspensão do atendimento
Acre
Todas as operadoras
10 a 17 de outubro
Alagoas
 Não haverá suspensão de atendimento
--
Amapá
 Não haverá suspensão de atendimento
--
Amazonas
Todas as operadoras
15 de outubro
Bahia
Hapvida, Amil/Medial, SulAmérica, Cassi, Petrobrás, Geap, e Golden Cross
10 a 19 de outubro
Ceará
Todas as operadoras
18 de outubro
Distrito Federal
 Não haverá suspensão de atendimento
--
Espírito Santo
 Assembleia prevista para 15/10

Goiás
Amil, Cassi, Capesesp, Fassincra, Geap, Imas e Promed
17 a 19 de outubro
Maranhão
Unimed, Unihosp, Hapvida, Conmed, Saúde Bradesco, Multiclinica e Geap
10 a 24 de outubro
Mato Grosso
Grupo Unidas
11 de outubro
Mato Grosso do Sul
Todas as operadoras
10 a 17 de outubro
Minas Gerais
Todas as operadoras
10 a 18 de outubro
Pará
Todas as operadoras (apenas pediatras)
10 a 25 de outubro
Paraíba
Assembleia prevista para 10/10

Paraná
 Não haverá suspensão de atendimento
--
Pernambuco
Saúde Bradesco, SulAmérica, Itaú Unibanco, Allianz, AGF, AIG e Hapvida
16 a 19 de outubro
Piauí
Todas as operadoras
10 a 14 de outubro
Rio de Janeiro
 Assembleia prevista para 10/10

Rio Grande do Norte
Todas as operadoras
10 de outubro
Rio Grande do Sul
Cabergs, Saúde Caixa, Geap, Centro Clínico Gaúcho, DoctorClin e SulAmérica
15 a 17 de outubro
Rondônia
Todas as operadoras
15 a 17 de outubro
Roraima
 Não haverá suspensão de atendimento
--
Santa Catarina
Agemed, planos de saúde regionais e todos os planos do grupo Unidas
15 a 19 de outubro
São Paulo
Golden Cross, Green Line, Intermédica, Itálica, Metrópole, Prevent Sênior, Santa Amália, São Cristóvão, Seisa, Tempo Assist (Gama Saúde e Unibanco), Trasmontano e Universal
10 a 18 de outubro
Sergipe
Plamed, Hapvida, Geap e seguradoras de saúde
10 a 25 de outubro
Tocantins
Fassinca, CapSaúde, Assefaz, Conab, Cassi, Caixa, Correios, Geap, Amil e Bradesco Saúde
15 a 25 de outubro
Fonte: CFM

Edição: Juliana Andrade

terça-feira, 17 de julho de 2012

Verba de Alckmin para hospital no ABC paulista é um quinto do investimento federal



Governo do estado vai arcar com R$ 20 milhões, contra R$ 108 milhões da União e R$ 45 milhões da prefeitura de São Bernardo do Campo



São Bernardo do Campo – O governo do Estado de São Paulo investirá menos da metade do que a prefeitura de São Bernardo destinará à construção do Hospital de Clínicas, previsto para ser inaugurado em novembro deste ano. Enquanto o prefeito Luiz Marinho (PT) dedicará R$ 45 milhões do orçamento municipal para a obra, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) autorizou apenas R$ 20 milhões. A verba de Alckmin é de menos de um quinto se comparada com o investimento do governo federal.
De acordo com a prefeitura, a construção do Hospital está orçada em aproximadamente R$ 173 milhões. A maior parte do recurso vem do governo federal, R$ 108 milhões. Para Marinho, dois motivos bastariam para que o governo do estado destinasse uma verba maior ao Hospital de Clínicas: maior capacidade de investimento e diminuição das demandas que lotam os dois hospitais estaduais da Região, o Serraria, em Diadema, e o Mário Covas, em Santo André. Ambos têm uma fila de espera de 94 mil pessoas por uma consulta médica e outras 94,3 mil aguardam a realização de exames.
 “As parcerias que temos com o governo do estado estão consolidadas, mas (o governo estadual) pode e precisa investir mais na saúde em São Bernardo. Não podemos contar com os dois hospitais estaduais da Região (Serraria e Mário Covas) porque temos dificuldade de encaminhar os nossos pacientes”, afirmou o prefeito.
Assim que assumiu a administração da cidade, em 2009, Marinho procurou o governo do estado e o então governador, José Serra (PSDB - hoje candidato a prefeito em São Paulo), que se comprometeu a destinar R$ 42 milhões, sendo R$ 20 milhões para as obras e R$ 22 milhões para equipamentos. “O Serra prometia algumas coisas e não cumpria. Mas eu não posso cobrar do Alckmin o que o Serra prometeu, até porque o que o Serra promete não se escreve.”
O governo do Estado, por meio de nota, informou que R$ 20 milhões serão destinados à conclusão das obras do Hospital de Clínicas de São Bernardo. O estado também informou que, assim que o equipamento for concluído, voltará a discutir com o município a possibilidade de novos investimentos. Na mesma nota oficial, o governo do Estado reconhece que o Hospital de Clínicas irá colaborar com a ampliação de leitos no ABCD e deverá se tornar referência em atendimento clínico e cirúrgico nas especialidades de neurologia, neurocirurgia, nefrologia, oftalmologia e cirurgia cardiovascular. 

Hospital de Clínicas

O Hospital das Clínicas de São Bernardo, localizado na estrada dos Alvarenga, será um hospital de ensino conveniado à Fundação de Medicina do ABC e à Universidade Federal do ABC. Terá consulta de especialidades, exames e cirurgias de alta complexidade. A previsão do governo é de que o centro hospitalar realize cerca de 1,5 mil cirurgias por mês. Entre as especialidades, serão feitos procedimentos de neurocirurgia e transplantes de rins, córnea e fígado.
Hoje o ABCD tem carência de vagas em cirurgias de trauma. O Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, deve assumir essas especialidades, mas somente no segundo semestre de 2013, se houver investimentos. A estimativa é de que, de imediato, o Hospital de Clínicas consiga realizar 300 internações por mês.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Dilma anuncia R$ 2,7 bilhões para o sistema de saúde pública


FONTE: www.vermelho.org.br



A presidenta Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira (16) que as 200 unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) em funcionamento no país têm ajudado a melhorar não apenas os serviços de urgência e emergência, mas todo o sistema de saúde pública brasileiro. As unidades, segundo a mandatária, atendem a 2 milhões de pessoas todos os meses.



No programa semanal de rádio “Café com a Presidenta”, Dilma reforçou a previsão de entrega de 900 UPAs até 2014, com um investimento estimado em R$ 2,7 bilhões. “Sabemos que o desafio é imenso porque quase 140 milhões de brasileiros e brasileiras dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde [SUS]”, destacou.

A presidenta lembrou que as UPAs foram criadas com o objetivo de oferecer, com rapidez, atendimento a urgências e emergências. Em casos mais graves, o paciente recebe o socorro inicial na unidade e, em seguida, é transferido por meio do Serviço Móvel de Urgência (Samu) para o hospital mais próximo.

“Mas a maioria dos casos é resolvida na própria UPA. Para você ter uma ideia, de cada 100 pessoas que procuram atendimento nas UPAs, apenas três precisam ser transferidas para um hospital; 97 resolvem o seu problema lá mesmo e voltam para casa”, ressaltou.

Segundo Dilma, o serviço oferecido pelas unidades contribui para desafogar as urgências e emergências dos hospitais. Ela destacou que, no Pronto-Socorro do Hospital Miguel Couto, no Rio de Janeiro, por exemplo, aproximadamente 850 pessoas buscavam atendimento todos os dias antes da construção das UPAs na cidade. Atualmente, a procura diária caiu para 350 pacientes.

No caso de pacientes que são atendidos na UPA mas precisam dar continuidade ao tratamento médico, a orientação, de acordo com a presidenta, é buscar as unidades básicas de saúde, mais conhecidas como postos de saúde.

“Nós ainda precisamos avançar muito mas, hoje, o SUS é uma rede que conta com hospitais, com o socorro e o transporte eficiente do Samu, com as UPAs e com o Programa Saúde da Família, que atende nas unidades básicas. Para funcionar bem, um serviço precisa completar o outro”, disse a presidenta.

Além de melhorias nas UPAs, o governo federal prevê investimentos de R$ 3,5 bilhões para construir e equipar quase 4 mil unidades básicas de saúde e reformar e ampliar 21 mil em todo o país.


Fonte: Agência Brasil

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Saúde é um dos fatores de desaprovação da gestão Kassab


FONTE: www.vermelho.org.br


A alta reprovação ao governo Kassab tem na saúde um dos principais ingredientes para que a população busque mudanças na administração municipal. Em pesquisa realizada pelo Datafolha na segunda quinzena de junho, em todas as regiões da cidade, paulistanos e paulistanas se mostraram insatisfeitos com a rede de serviços municipais em saúde, apontada como o principal problema da gestão atual.


As respostas espontâneas, quando você não estimula o entrevistado, revelam como, aos olhos do paulistano, a saúde piorou de 2008 até os dias atuais, explicou o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, em entrevista à Folha de S.Paulo. Na mesma pesquisa, entrevistados não souberam apontar em qual área Gilberto Kassab (PSD) está se saindo melhor. "É uma evidência de que a população está reprovando a gestão atual", afirmou Paulino.

Falta de investimento e de vontade política são os motivos da permanência das mesmas reclamações por tantos anos. Sem essas duas iniciativas, nada mudará. "A trajetória não é fácil: precisa de recursos e de estrutura", diz Paulo Puccini, especialista em saúde pública, entrevistado pela Folha. "Tem de destinar mais recursos", avaliou Oswaldo Tanaka, da Faculdade de Saúde Pública da USP. 

Para o o sanitarista Mário Scheffer, do Cebes (Centro Brasileiro de Estudos de Saúde) falta articular o sistema. "Os serviços sequer se comunicam. Às vezes, uma AMA resolve, mas deixa de comunicar à equipe da Saúde da Família", exemplificou.

"É necessário municipalizar alguns hospitais estaduais", diz o sanitarista Paulo Puccini, que fez um levantamento sobre a carência de leitos públicos na cidade e apontou que a concentração deles nas regiões central e oeste chegava a ser maior do que o dobro do registrado nas outras áreas. "Com duas gestões diferentes acaba havendo atropelo na prestação dos mesmos serviços", diz Puccini.

Nos extremos norte e leste da Capital, saúde ganha disparado como a principal queixa da população. Ao lado da insatisfação com os serviços de saúde, também estão entre as reclamações a violência e o transporte público.

Da Redação com informações da Folha de S.Paulo

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A saúde ameaçada pelos agrotóxicos



Estudos recentes alertam para os riscos do consumo de alimentos contaminados



Patrícia Benvenuti
da Redação

Fazer um prato colorido, cheio de frutas, legumes e verduras, já não é mais sinônimo de alimentação saudável. Em função do uso intensivo e crescente de agrotóxicos, o consumo de certos produtos pode representar, em vez de benefícios, a gênese de doenças em longo prazo.
Duas recentes publicações, lançadas no final de abril, apontam os riscos dos agrotóxicos. A Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco) divulgou, durante o Congresso Mundial de Alimentação e Nutrição em Saúde Pública (WNRio 2012), a primeira parte do dossiê Um alerta sobre os impactos dos Agrotóxicos na Saúde.
No documento, são listados mais de cem agrotóxicos que podem causar uma série de enfermidades como câncer, má formação congênita, alergias respiratórias, diabetes, distúrbios de tireoide, depressão, aborto e até Mal de Parkinson.
Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), um terço dos alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado por agrotóxicos. O pimentão lidera a lista – quase 92% das amostras analisadas apresentaram contaminação. Em seguida, aparecem o morango (63,4%), pepino (57,4%), alface (54,2%) e cenoura (49,6%).
“Não precisa de mais evidências científicas para se tomar decisões políticas para proteger a saúde da população e do ambiente”, diz o chefe do Departamento de Saúde Coletiva da UnB e do Grupo de Trabalho de Saúde e Ambiente da Abrasco, Fernando Ferreira Carneiro.
Em 2008, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos e assumiu o posto de maior mercado mundial de agrotóxicos, utilizando 19% desses produtos produzidos no mundo.
O relatório da Abrasco também destaca o papel dos transgênicos no aumento do consumo de agrotóxicos. Só o glifosato, utilizado na cultura da soja transgênica, representa 40% do mercado nacional.
“A Monsanto alegava que uso dos transgênicos iria resultar na diminuição do uso de agrotóxicos, e o que a gente está vendo é o contrário.”, pontua Carneiro.

Precaução
Já a associação entre câncer e agrotóxicos foi um dos alertas trazidos pelo relatório Diretrizes para a Vigilância do Câncer Relacionado ao Trabalho, lançado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca)Segundo a publicação, dentre os principais grupos de agentes cancerígenos relacionados ao trabalho aparecem os agrotóxicos. Dentre as enfermidades observadas em pessoas expostas a essas substâncias estão os linfomas, leucemias e cânceres de intestino, ovários, pâncreas, rins, estômago e testículos.
De acordo com a coordenadora da Área de Câncer Ocupacional do Inca, Ubirani Otero, ainda faltam estudos e testes para confirmar que tais doenças podem ser causadas pelo uso dos agrotóxicos. Entretanto, para ela, as evidências já são suficientes para que medidas mais fortes sejam tomadas.
“A gente deve adotar no Brasil, como em outras partes do mundo, o princípio da precaução. Se existe uma forte suspeita de que algum agente pode causar câncer, a gente deve evitar essa exposição”, diz.
A Anvisa informa que, em 2011, foram registrados mais de oito mil casos de intoxicação por agrotóxicos no Brasil.

Revisão
Desde 2008, 14 tipos de agrotóxicos estão em processo de revisão pela Anvisa. Cinco já foram reprovados e não poderão mais ser utilizados. Entretanto, só o Acetato, Cihexatina e Tricloform estão proibidos. Os inseticidas Metamidofós e Endossulfam serão banidos apenas em junho de 2012 e julho de 2013, respectivamente.
O médico e pesquisador do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) Wanderlei Pignati reclama da demora em banir essas substâncias. Ele cita o caso do Endossulfam, associado a problemas reprodutivos e hormonais.
“O Endossulfam vai ser proibido no Brasil em julho 2013 para desovar o estoque que tem aí. É um absurdo. O Endossulfam tem seus efeitos descritos no Diário Oficial, porque não proíbe de imediato?”, questiona.
A pressão das empresas que comercializam agrotóxicos e dos setores ruralistas é um dos principais entraves no trabalho da Anvisa, como explica o gerente- geral de Toxicologia do órgão, Luis Claudio Meirelles. “A reavaliação já enfrentou vários debates e inúmeras ações na Justiça. Inclusive quando a gente decide pelo banimento do produto tentam derrubar nossa decisão”, argumenta.
O gerente da Anvisa admite ainda que falta estrutura para fazer um trabalho mais consistente. Em termos de comparação, ele lembra que a Anvisa possui apenas 5% do total de agentes do órgão estadunidense de vigilância sanitária. Com isso, a fiscalização no campo acaba sendo prejudicada. “Poucos estados têm um efetivo que possa atuar, em nível estadual, para fiscalizar se os produtos estão sendo usados conforme autorizados para proteger a população, os trabalhadores e o entorno”, explica.

Desrespeito à lei
Além do prolongamento do uso de substâncias banidas e da falta de fiscalização, outro problema é o desrespeito à legislação que dita as regras para a utilização dos agrotóxicos. Um exemplo é a Instrução Normativa do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), de 2008, que proíbe a pulverização aérea a 500 metros de córregos, nascentes de água, criação coletiva de animais e residências. As proibições, porém, ficam só no papel, e a principal consequência é a contaminação do ar.
“Quem mora ao lado de uma grande plantação ou de uma horta que usa muito agrotóxico está respirando aquele tipo de agrotóxico”, pontua Wanderlei Pignati.
Foi o que ocorreu em Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Em 2006, um avião monomotor despejou, de forma irregular, um herbicida dessecante para apressar a colheita da soja. A substancia foi lançada sobre áreas residenciais da cidade, e o resultado foi a destruição de canteiros de plantas medicinais, hortaliças e um surto de intoxicações. Até hoje, ninguém foi responsabilizado pela ação.
O município mato-grossense é um dos maiores produtores de grãos do Estado. Em 2010, foram produzidos cerca de 420 mil hectares entre soja, milho e algodão, com a utilização de 5,1 milhões de litros de agrotóxicos nessas lavouras.
E os agrotóxicos continuam gerando impactos contra a população e o meio ambiente em Lucas do Rio Verde. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) revelou que o leite materno de mulheres da cidade está contaminado. Segundo o estudo, foi encontrado pelo menos um tipo de agrotóxico em todas as amostras coletadas. Em algumas amostras havia até seis produtos diferentes.
“Isso mostra que a contaminação está disseminada. E ainda são poucos estudos. Se esses poucos estudos estão indicando isso, pode ser o que a gente chama de a ponta de um iceberg”, adverte Carneiro.

O mito do uso seguro
Os especialistas alertam para os diversos males causados pelos agrotóxicos, mas chamam atenção, sobretudo, para as intoxicações a longo prazo. Os efeitos dos agrotóxicos, explica a médica sanitarista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz Lia Giraldo, dividem-se basicamente em intoxicações agudas e crônicas. As primeiras ocorrem quando a pessoa, ao ser diretamente exposta a produtos químicos, apresenta sintomas mais imediatos como tontura, náusea, dor de barriga e diarreia.
Já a intoxicação crônica se dá quando a pessoa é exposta a doses pequenas, porém cotidianas, tanto no manuseio como no consumo de alimentos contaminados. De acordo com Lia, é essa exposição gradual a responsável pelos problemas mais sérios.
“Para efeitos agudos a gente pode até ter uma dose de segurança, mas a exposição a baixas concentrações e a múltiplos agrotóxicos vai trazer, em longo prazo, câncer, doenças endócrinas e do sistema nervoso”, explica.
Lia enfatiza que as intoxicações agudas até podem ser evitadas pelo uso correto de equipamentos de segurança por parte de quem lida com os agrotóxicos. Nesse sentido, garante, não se pode falar em uso seguro de agrotóxicos. “Enquanto as pessoas acreditarem em uso seguro de agrotóxicos, podem prevenir uma intoxicação aguda, mas não podem se prevenir da intoxicação crônica”, destaca.

Cuidados
Para se proteger, os especialistas recomendam à população procurar feiras agroecológicas ou mesmo fazer pequenas hortas caseiras para consumir itens sem agrotóxicos.
“Se lavar o produto, só limpa de contaminação orgânica, não tira o agrotóxico. Descascar também não, porque ele entra pela raiz, está dentro [do alimento]”, alerta Lia.
Além disso, para Carneiro, a população precisa se organizar em todos os níveis para lutar contra o uso de agrotóxicos e construir alternativas.
“Tem que lutar contra esse modelo, aderir à Campanha Nacional contra os Agrotóxicos, criar seu comitê local na comunidade, isso é fundamental. É nessa perspectiva que a gente tem chances de mudar as coisas”, assegura.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Projetos de lei sobre a questão dos agrotóxicos e agroecologia


Joana Tavares
de Belo Horizonte (MG)

PL 3729/12 – Estende o direito de utilização do instrumento da política ambiental denominado de “compensação ambiental”, para áreas das Unidades de Conservação de Uso Sustentável. Hoje, estes recursos são só usados preferivelmente em áreas de proteção integral, onde o uso pelo homem é limitado.
PL 3615/12 – Altera a Lei dos Agrotóxicos, no sentido de obrigar as empresas de aviação agrícola a enviar cópias dos receituários agronômicos com suas devidas prescrições de agrotóxicos e um respectivo relatório anual de suas atividades de pulverização, aos órgãos públicos de meio ambiente e agricultura.
PL 3614/12 – Acrescenta dispositivos à Lei dos Agrotóxicos estabelecendo condições mais rigorosas de segurança relativas ao uso e aplicação dos agrotóxicos, determinando novas obrigações mais rígidas, inclusive quanto ao distanciamento mínimo de áreas criticas, como habitações, cursos d’água, nascentes, criadouros, estradas, áreas protegidas, rios e lagos, assim como proíbe a pulverização aérea de herbicidas.
PL 3461/12 – Isenta da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins e da Contribuição para o Pis/Pasep, os produtos resultantes da exploração da atividade rural exercida pelo agricultor familiar ou empreendedor familiar rural.
PL 3433/12 – Revoga dispositivos da Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe sobre o regime de permissão e de concessão de serviços públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal.
PLV 10/12 – Projeto de Lei de Convenção MP 562 – Medida Provisória – Educação do Campo.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

ABRASCO lança dossiê sobre impactos dos agrotóxicos



A Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – ABRASCO – lançou neste domingo o dossiê “Um alerta sobre os impactos dos Agrotóxicos na Saúde“. O documento foi apresentado no World Nutrition, congresso mundial de nutrição que ocorre no Rio de Janeiro.
O dossiê é um alerta da ABRASCO à sociedade e ao Estado brasileiro. Registra e difunde a preocupação de pesquisadores, professores e profissionais com a escalada ascendente de uso de agrotóxicos no país e a contaminação do ambiente e das pessoas dela resultante, com severos impactos sobre a saúde pública.
Segundo Fernando Carneiro, professor da UnB e um dos organizadores do dossiê, o documento reúne evidências suficientes para a tomada de decisão pelos órgãos públicos: “O principal impacto que esperamos deste dossiê é tirar da inércia a estrutura do estado em relação aos riscos que os agrotóxicos oferecem à população e ao meio ambiente.”
O presidente da ABRASCO, Luiz Augusto Facchini, disse que o uso indiscriminado de agrotóxicos gera preocupação: “Neste sentido, o dossiê aponta estratégias, como o fortalecimento da agricultura familiar e da agroecologia para produção de alimentos saudáveis.”
O dossiê é um documento em construção, e este lançamento se refere à Parte 1 – Agrotóxicos, Segurança Alimentar e Saúde. Sua principal contribuição são 10 propostas que constam no final do documento. A primeira delas é a implantação da Política Nacional de Agroecologia, como um impulso a um modelo alternativo de desenvolvimento para o campo.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Excesso de agrotóxicos no país resulta de modelo de agronegócio e preocupa especialistas


Excesso de agrotóxicos no país resulta de modelo de agronegócio e preocupa especialistas
Rio de Janeiro – Para alertar a população e chamar a atenção das autoridades sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde dos brasileiros, o Grupo de Trabalho de Saúde e Ambiente, da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), em parceria com outras instituições, lança hoje (27), durante o Congresso Mundial de Nutrição, no Rio de Janeiro, um dossiê reunindo diversos estudos sobre o tema. O documento também será apresentado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que será realizada em junho no Rio.
A aplicação excessiva de substâncias químicas para controlar pragas nas plantações das lavouras brasileiras, como forma de aumentar a produtividade da terra , preocupa cada vez mais especialistas da área de saúde. Os problemas decorrentes do abuso de agrotóxicos vem trazendo grandes problemas para os trabalhadores rurais e consumidores.
De acordo com o professor Fernando Ferreira Carneiro, chefe do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB) e um dos responsáveis pelo dossiê, as pesquisas indicam que o uso dos agrotóxicos ocorre no país de forma descontrolada.
“O Brasil reforça o papel de maior consumidor mundial de agrotóxicos e nós, que fazemos pesquisas relacionadas ao tema, vemos que o movimento político é para liberalizar o uso. A ideia desse dossiê é alertar a sociedade sobre os impactos do consumo massivo, sistematizando o que já existe de conhecimento científico acumulado”, disse.
Estudo divulgado há cerca de um mês pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aponta que o comércio de agrotóxicos no Brasil cresceu 190% entre 2000 e 2010, mais que o dobro da média mundial, de 93%. O mercado nacional de agrotóxicos, que em 2010 movimentou US$ 7,3 bilhões, é altamente concentrado, assim como no restante do mundo. As dez maiores empresas do setor são responsáveis por 65% da produção nacional e por 75% das vendas. O levantamento também mostrou que um único produto, o glifosato, é responsável por 29% do mercado brasileiro de agrotóxicos.
Um dos estudos que fazem parte do dossiê foi desenvolvido pelo médico e doutor em toxicologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Vanderlei Pignatti. Ele conduziu análises ambientais e examinou a urina e o sangue de moradores das áreas rurais e urbanas das cidades de Lucas do Rio Verde e Campo Verde, em Mato Grosso. Os municípios estão entre os principais produtores de grãos do estado.
“Observamos resíduos de vários tipos de agrotóxicos na água consumida nas escolas, na chuva, no ar e até em animais. Além disso, essas substâncias foram encontradas no sangue e na urina dessas pessoas. A poluição ambiental é elevada e as pessoas ficam ainda mais suscetíveis à contaminação porque não são respeitados os limites legais para pulverização dos agrotóxicos”, disse.
Outro estudo do professor Pignatti já havia encontrado resíduos de agrotóxicos no leite materno de moradoras de Lucas do Rio Verde. Foram coletadas amostras de leite de 62 mulheres, três da zona rural, entre fevereiro e junho de 2010, e a presença dos resíduos foi detectada em todas elas.
Vanderlei Pignatti lembrou que diversas pesquisas também indicam aumento na incidência de doenças como má-formação genética, câncer e problemas respiratórios, especialmente em crianças com menos de cinco anos de idade.

Modelo equivocado

Para o pesquisador e especialista em economia agrária José Juliano de Carvalho, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP), o uso “abusivo, exorbitante e descontrolado” de agrotóxicos nas lavouras brasileiras está diretamente relacionado ao modelo agrícola brasileiro, que se sustenta no latifúndio, na monocultura, na produção altamente mecanizada e em larga escala.
“Não é uma questão de tecnologia, mas do modelo de agronegócio colocado como prioritário no Brasil. Para sustentar essa lógica, empresas e produtores usam os agrotóxicos sem controle e isso afeta de forma muito negativa a economia brasileira”, acrescentou Carvalho, que também é diretor da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra).
O professor defende uma regulação mais ampla do agronegócio no país, a implementação de projetos de reforma agrária e de zoneamento agroecológico. Ele acredita que o fortalecimento da agricultura familiar pode ser uma alternativa ao modelo atual.
“O problema não é só a química, mas a maneira como ela é usada. O que vemos no Brasil é o domínio do agronegócio pelas grandes multinacionais. É preciso haver regulação do agronegócio e fortalecimento da agricultura familiar que acaba inviabilizada não apenas pelo agrotóxico, mas pelo conjunto do modelo do agronegócio”, disse.
Com reportagem de Thais Leitão, da Agência Brasil
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