sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Renúncia do papa não deverá mudar perfil conservador da Igreja Católica


Renúncia do papa não deverá mudar perfil conservador da Igreja Católica
Para Frei Betto, Bento XVI será o principal cabo eleitoral no conclave da sucessão
Publicado em 14/02/2013, 19:22
Última atualização em 15/02/2013, 09:15

São Paulo – A saída do papa Bento XVI e a eleição de seu sucessor não devem apontar para mudanças significativas na postura conservadora da Igreja Católica. "Ele vai ser o principal cabo eleitoral do conclave na sucessão. Então não vão eleger ninguém que não seja do seu agrado. Ele mesmo vai soprar dois ou três nomes", avalia o teólogo e escritor Frei Betto. "Seja quem for eleito, vai depender dele enquanto ele estiver vivo. Nós só vamos conhecer o novo papa depois que Bento XVI morrer. Porque jamais o sucessor ousará desagradá-lo."
Na opinião do professor Jorge Claudio Ribeiro, do Departamento de Ciências da Religião da PUC de São Paulo, as mudanças são uma questão de sobrevivência para a Igreja Católica. “Ou a Igreja muda ou se tornará irrelevante, por dois motivos: vai perder a credibilidade e por causa disso vai perder fiéis. Já está perdendo, mas vai perder definitivamente”, analisa Ribeiro. Para ele, especulações sobre se o papa será ou não da América do Sul, por exemplo, ser negro ou branco, são irrelevantes diante de algo mais importante. “O que precisa é alguém com olhar atento e amoroso para as pessoas. Não tem cabimento um papa reprovar a homossexualidade nos dias de hoje. Onde é que tem na Bíblia que Jesus reprovava?” 
Mas o conservadorismo, uma das marcas de Bento XVI, não abandonará o Vaticano após o conclave que elegerá o novo papa em meados de março. O papa renuncia, mas manterá o poder, acredita Frei Betto. Não haverá mudanças em questões como celibato, participação das mulheres na Igreja, reconhecimento do casamento entre homossexuais e outras. “Tudo isso vai continuar fechado enquanto Bento XVI estiver vivo. Mesmo que o novo papa esteja disposto a abrir o debate sobre essas questões”, arrisca o frade dominicano, que acha difícil apontar favoritos entre os cardeais na sucessão, à medida que o atual papa manterá sua influência. “Isso tudo é especulação. Mas eu acredito que vai ser um europeu, porque Bento XVI vai ser o principal cabo eleitoral. E a minha avaliação é que ele não escolherá um não-europeu.”

Fatores da renúncia

Para Frei Betto, embora a renúncia seja, “primeiro, um grande gesto de humildade, o que para Igreja é muito importante”, há também fortes motivações políticas para a atitude de Bento XVI. “Acho que é o resultado não só do estado de saúde dele e da idade avançada, mas de outros cinco fatores: os casos de pedofilia na Igreja, a corrupção no banco do Vaticano, o vazamento de documentos sigilosos, a traição do mordomo e o desgaste da Igreja Católica na Europa.” Como exemplo desse desgaste, o escritor diz que em países como Bélgica e Holanda, por exemplo, são realizados seminários que ficam praticamente vazios. 
Segundo o próprio papa, o motivo principal foi sua saúde e idade avançada. “Cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino”, disse ele no comunicado em que tornou pública a renúncia, na última segunda-feira (11).
Entre os atuais 209 cardeais da Igreja Católica, 118 têm direito a voto (ainda não têm 80 anos). Cinco são brasileiros: Geraldo Magella, arcebispo emérito de Salvador; Raymundo Damasceno, cardeal-arcebispo de Aparecida; João Braz Avis, ex-arcebispo de Brasília, atual prefeito da Congregação para a Vida Consagrada; Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo; e Odilo Scherer, cardeal-arcebispo de São Paulo. Bento XVI deveria vir ao Brasil em julho, para a Jornada Mundial da Juventude.

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