quarta-feira, 11 de abril de 2012

Carlinhos Cachoeira, Demóstenes e Veja: a rede da máfia brasileira


Mais do que mostrar relações promíscuas entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (DEM), as gravações divulgadas recentemente a partir da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, desenham Cachoeira como uma grande liderança da direita brasileira. Sim, é isso. Um contraventor influencia em todas as esferas da direita do país através de seus contatos nos partidos políticos e na mídia. Segundo Luis Nassif, entre as gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal, são mais de duzentas as conversas de Cachoeira com o editor-chefe da revista Veja, Policarpo Jr.
As conversas mais difundidas até o momento são as que incriminam Demóstenes Torres, mas a revista Carta Capital já publicou reportagem na qual demonstra também relações estreitas e a configuração de tráfico de influência envolvendo o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).
A divulgação da íntegra dessas conversas, por sua profundidade e abrangência, pode ter o poder de um “pequeno Wikileaks” brasileiro. É a revelação contundente e inegável das negociatas envolvendo algumas das principais lideranças dos partidos da direita brasileira, o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o veículo de mídia mais reacionário que temos no país.
A defesa dos acusados de favorecer os interesses de Cachoeira, em uma ampla rede que ligava a contravenção a algumas lideranças políticas e à mídia, tem se baseado no silêncio e na pretensa ilegalidade das escutas. Infelizmente para eles, não há forma melhor de defender-se do que tentando deslegitimar legalmente gravações que já destruíram moralmente os envolvidos.
Tem se falado muito nas “duas caras” de Demóstenes, defensor discursivo da transparência e da moralidade ao mesmo tempo em que trabalhava junto a Carlos Cachoeira recebendo apoio eleitoral em troca de ouvidos moucos para os negócios de jogo ilegal mantidos pelo bicheiro. Mas também vem à tona mais uma vez a face da revista Veja que a publicação do Grupo Abril insiste em ocultar. Bastião da moralidade na política, especialista em acusações de corrupção e ambiente de um jornalismo investigativo capaz de tentar esconder escutas em quartos de hotel, a Veja tem o nome de seu editor-chefe citado em uma gravação como um parceiro constante de Carlos Cachoeira, com quem “trocaria favores”, segundo explica o próprio contraventor. Além disso, as possíveis conversas entre Cachoeira e Policarpo Jr. ainda estão para serem divulgadas.
Não foi por acaso, então, que a Veja afastou de suas capas o caso mais falado na política brasileira nas últimas semanas. Se Cachoeira era manchete quando foi revelado seu envolvimento com Waldomiro Diniz e o PT, não o é quando as denúncias são mais profundas, tão profundas que chegam ao poderio midiático do Grupo Abril e às relações de troca de favores entre o editor-chefe da revista com maior tiragem do país e um homem exposto como líder das mais complexas maracutaias políticas.
Da mesma forma o assunto também não esteve nas capas da Isto É, que preferiu destacar nas últimas duas semanas “A nova fórmula do profissional de sucesso” e “Médico de bolso”. Na revista Época, uma capa, “O senador e o bicheiro”, e, na última edição, o tema foi substituído por “Os bairros mais cobiçados do Brasil”.
A Carta Capital comprou a briga, e nas últimas duas semanas destacou as relações entre Carlos Cachoeira e o governador de Goiás, Marconi Perillo. Teve consequências. Em Goiânia, parte da edição anterior despareceu. Como dissematéria da Rede Brasil Atual, “na capital governada pelo tucano houve um operativo para comprar todos os exemplares na manhã de domingo (1º), evitando que a denúncia circulasse. Segundo reportagem de Gabriel Bonis, Joel Luiz Datena, filho do apresentador José Luiz Datena e dono de uma rádio, foi um dos que tentaram adquirir mil exemplares de uma vez”.
É uma configuração de sistema mafioso que perpassa as instituições brasileiras, a começar pela mesma mídia que se pretende guardiã da moral, dos bons costumes e das demais instituições. Caiu mais uma máscara.

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