FONTE: Jornalismob.com
Mais do que mostrar relações promíscuas entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (DEM), as gravações divulgadas recentemente a partir da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, desenham Cachoeira como uma grande liderança da direita brasileira. Sim, é isso. Um contraventor influencia em todas as esferas da direita do país através de seus contatos nos partidos políticos e na mídia. Segundo Luis Nassif, entre as gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal, são mais de duzentas as conversas de Cachoeira com o editor-chefe da revista Veja, Policarpo Jr.
As conversas mais difundidas até o momento são as que incriminam Demóstenes Torres, mas a revista Carta Capital já publicou reportagem na qual demonstra também relações estreitas e a configuração de tráfico de influência envolvendo o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

A defesa dos acusados de favorecer os interesses de Cachoeira, em uma ampla rede que ligava a contravenção a algumas lideranças políticas e à mídia, tem se baseado no silêncio e na pretensa ilegalidade das escutas. Infelizmente para eles, não há forma melhor de defender-se do que tentando deslegitimar legalmente gravações que já destruíram moralmente os envolvidos.
Tem se falado muito nas “duas caras” de Demóstenes, defensor discursivo da transparência e da moralidade ao mesmo tempo em que trabalhava junto a Carlos Cachoeira recebendo apoio eleitoral em troca de ouvidos moucos para os negócios de jogo ilegal mantidos pelo bicheiro. Mas também vem à tona mais uma vez a face da revista Veja que a publicação do Grupo Abril insiste em ocultar. Bastião da moralidade na política, especialista em acusações de corrupção e ambiente de um jornalismo investigativo capaz de tentar esconder escutas em quartos de hotel, a Veja tem o nome de seu editor-chefe citado em uma gravação como um parceiro constante de Carlos Cachoeira, com quem “trocaria favores”, segundo explica o próprio contraventor. Além disso, as possíveis conversas entre Cachoeira e Policarpo Jr. ainda estão para serem divulgadas.
Não foi por acaso, então, que a Veja afastou de suas capas o caso mais falado na política brasileira nas últimas semanas. Se Cachoeira era manchete quando foi revelado seu envolvimento com Waldomiro Diniz e o PT, não o é quando as denúncias são mais profundas, tão profundas que chegam ao poderio midiático do Grupo Abril e às relações de troca de favores entre o editor-chefe da revista com maior tiragem do país e um homem exposto como líder das mais complexas maracutaias políticas.
Da mesma forma o assunto também não esteve nas capas da Isto É, que preferiu destacar nas últimas duas semanas “A nova fórmula do profissional de sucesso” e “Médico de bolso”. Na revista Época, uma capa, “O senador e o bicheiro”, e, na última edição, o tema foi substituído por “Os bairros mais cobiçados do Brasil”.

É uma configuração de sistema mafioso que perpassa as instituições brasileiras, a começar pela mesma mídia que se pretende guardiã da moral, dos bons costumes e das demais instituições. Caiu mais uma máscara.
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