quinta-feira, 19 de abril de 2012

‘Emergentes ainda vão atrair capital por muito tempo’


O intenso fluxo de capital do mundo desenvolvido em busca de rendimentos mais atrativos em mercados emergentes, como o Brasil, vai se manter por um longo período, acredita Paul Krugman, vencedor do prêmio Nobel de Economia e professor da Universidade de Princeton (EUA). O movimento é responsável pela valorização do real, e outras moedas, em relação ao dólar, o que compromete a competitividade industrial dos países a receber valores do exterior.
Esse cenário não deve mudar, pois os governos dos países desenvolvidos consideram ter “coisas mais importantes para lidar do que tornar a vida do Brasil mais fácil”. “O governo brasileiro parece ter se esforçado para tentar convencer o FED – banco central dos Estados Unidos – a mudar sua política. Isso não vai acontecer e o País pode adotar medidas em seu próprio sistema fiscal, porque [Barack] Obama e Ben Bernanke (presidente do FED) ouviram as reclamações, mas não vão mudar de ideia”, diz a um grupo de jornalistas após uma palestra na tarde desta quarta-feira 18 em um seminário sobre pequenos negócios, promovido pelo Sebrae, em São Paulo.

Vencedor do Nobel de Economia, Paul Krugman diz que reclamações do Brasil sobre políticas do FED não terão efeito. Foto: Luludi / LUZ

Segundo o Nobel de economia, esse fluxo ganha maior força porque os juros dos títulos da dívida norte-americana se aproximam de zero – patamar em que devem permanecer até 2015, segundo previsões. Além disso, quando a crise estourou em 2008, o setor privado retirou repentinamente do mercado cerca de 2 trilhões de dólares, agora também usados nos mercados emergentes.
“O Brasil é o queridinho do mercado agora. Mas as coisas não ficaram muito boas para o País, elas pioraram no mundo desenvolvido. Os investidores olham para os mercados emergentes e veem taxas de juros mais atrativas.”
A valorização do real ante ao dólar, prevê o economista, não deve, no entanto, se manter por muito mais tempo. “Se o mercado perder a confiança no Brasil, parar de enxergar o País como um forte, isso pode ser bom. Porque o real pode voltar ao patamar do dólar de 2008 em alguns meses sem muitos problemas.”
Por outro lado, Krugman acredita que superada a crise, uma recolocação do mercado deve ocorrer e as exportações dos países emergentes ainda não conseguirão concorrer com a produção do mundo desenvolvido. “A competição ficará prejudicada, mas [os emergentes] serão bons mercados entre si.”
Em sua palestra, Krugmam elogiou a maneira como Brasil e outros países em desenvolvimento lidaram com a crise. “Nos EUA e Europa, não tínhamos mais a memória da crise e na América Latina, elas foram mais comuns. Por isso, havia preocupação nos setores público e privado e o Brasil não se expôs como outros países.”
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O Nobel também destaca que os anos 2000 foram de forte crescimento na América Latina, o que ajudou a região a combater a desigualdade. “Enquanto a diferença entre ricos e pobres aumenta no mundo, incluindo a China e a Índia, o Brasil reduz a pobreza, mesmo que de forma modesta. Há medidas contra a desigualdade e por mais educação.”
Esse cenário, afirma, pode ser interpretado como uma diminuição da desigualdade, mas também o crescimento da classe média. “Os EUA parecem perder indivíduos nesta faixa populacional, enquanto o Brasil ganha. E esse é um mercado para o sucesso.”
Um cenário diferente ao de sua primeira visita ao País, em 1991. “Naquela época, o Brasil e a América Latina passavam por problemas de crescimento e inflação. Agora tudo mudou: o Brasil não está em crise, mas os EUA sim.”
Além disso, diz, a região não sofre mais com as turbulências na economia norte-americana, que ainda produz 1 trilhão de dólares em bens abaixo do patamar ideal, além de contar com 4 milhões de desempregados por mais de um ano. “Isso não acontecia desde os anos 1930. Nosso sistema social não está preparado.”
Para Krugman, apenas agora os países começam a recuperar o patamar de crescimento de 2008, mas o cenário de desastre econômico ainda está presente nos EUA.
A Europa enfrenta situação mais crítica com a adoção de intensas medidas de austeridade em países como Grécia, Espanha e Portugal. “A politica atual não vai funcionar nos países em crise, pois os cortes realizados tiveram alguns resultados, mas não o bastante para torná-los competitivos.”
Neste cenário, seria o momento de a União Europeia partir para uma nova estratégia. “Caso a Europa aceite aumentar a tolerância do teto da inflação entre 3% e 4% nos próximos anos, ficaria muito mais fácil. Mas a Alemanha não quer nem ouvir a proposta.”
E isso cria um problema para o euro. Segundo o economista, antes a simples ideia de abandonar a moeda única seria o bastante para provocar uma crise bancária que tornaria a ideia impossível. Mas se a saída acontecer, pode ser na Espanha, vaticina. “Os EUA, vão se recuperar de forma lenta, mas a Europa criou uma armadilha e agora vai ter que desistir de alguma coisa.”

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