FONTE: www.cartacapital.com.br
O intenso fluxo de capital do mundo desenvolvido em busca de rendimentos mais atrativos em mercados emergentes, como o Brasil, vai se manter por um longo período, acredita Paul Krugman, vencedor do prêmio Nobel de Economia e professor da Universidade de Princeton (EUA). O movimento é responsável pela valorização do real, e outras moedas, em relação ao dólar, o que compromete a competitividade industrial dos países a receber valores do exterior.
Esse cenário não deve mudar, pois os governos dos países desenvolvidos consideram ter “coisas mais importantes para lidar do que tornar a vida do Brasil mais fácil”. “O governo brasileiro parece ter se esforçado para tentar convencer o FED – banco central dos Estados Unidos – a mudar sua política. Isso não vai acontecer e o País pode adotar medidas em seu próprio sistema fiscal, porque [Barack] Obama e Ben Bernanke (presidente do FED) ouviram as reclamações, mas não vão mudar de ideia”, diz a um grupo de jornalistas após uma palestra na tarde desta quarta-feira 18 em um seminário sobre pequenos negócios, promovido pelo Sebrae, em São Paulo.
Segundo o Nobel de economia, esse fluxo ganha maior força porque os juros dos títulos da dívida norte-americana se aproximam de zero – patamar em que devem permanecer até 2015, segundo previsões. Além disso, quando a crise estourou em 2008, o setor privado retirou repentinamente do mercado cerca de 2 trilhões de dólares, agora também usados nos mercados emergentes.
“O Brasil é o queridinho do mercado agora. Mas as coisas não ficaram muito boas para o País, elas pioraram no mundo desenvolvido. Os investidores olham para os mercados emergentes e veem taxas de juros mais atrativas.”
A valorização do real ante ao dólar, prevê o economista, não deve, no entanto, se manter por muito mais tempo. “Se o mercado perder a confiança no Brasil, parar de enxergar o País como um forte, isso pode ser bom. Porque o real pode voltar ao patamar do dólar de 2008 em alguns meses sem muitos problemas.”
Por outro lado, Krugman acredita que superada a crise, uma recolocação do mercado deve ocorrer e as exportações dos países emergentes ainda não conseguirão concorrer com a produção do mundo desenvolvido. “A competição ficará prejudicada, mas [os emergentes] serão bons mercados entre si.”
Em sua palestra, Krugmam elogiou a maneira como Brasil e outros países em desenvolvimento lidaram com a crise. “Nos EUA e Europa, não tínhamos mais a memória da crise e na América Latina, elas foram mais comuns. Por isso, havia preocupação nos setores público e privado e o Brasil não se expôs como outros países.”
Leia mais:
O Nobel também destaca que os anos 2000 foram de forte crescimento na América Latina, o que ajudou a região a combater a desigualdade. “Enquanto a diferença entre ricos e pobres aumenta no mundo, incluindo a China e a Índia, o Brasil reduz a pobreza, mesmo que de forma modesta. Há medidas contra a desigualdade e por mais educação.”
Esse cenário, afirma, pode ser interpretado como uma diminuição da desigualdade, mas também o crescimento da classe média. “Os EUA parecem perder indivíduos nesta faixa populacional, enquanto o Brasil ganha. E esse é um mercado para o sucesso.”
Um cenário diferente ao de sua primeira visita ao País, em 1991. “Naquela época, o Brasil e a América Latina passavam por problemas de crescimento e inflação. Agora tudo mudou: o Brasil não está em crise, mas os EUA sim.”
Além disso, diz, a região não sofre mais com as turbulências na economia norte-americana, que ainda produz 1 trilhão de dólares em bens abaixo do patamar ideal, além de contar com 4 milhões de desempregados por mais de um ano. “Isso não acontecia desde os anos 1930. Nosso sistema social não está preparado.”
Para Krugman, apenas agora os países começam a recuperar o patamar de crescimento de 2008, mas o cenário de desastre econômico ainda está presente nos EUA.
A Europa enfrenta situação mais crítica com a adoção de intensas medidas de austeridade em países como Grécia, Espanha e Portugal. “A politica atual não vai funcionar nos países em crise, pois os cortes realizados tiveram alguns resultados, mas não o bastante para torná-los competitivos.”
Neste cenário, seria o momento de a União Europeia partir para uma nova estratégia. “Caso a Europa aceite aumentar a tolerância do teto da inflação entre 3% e 4% nos próximos anos, ficaria muito mais fácil. Mas a Alemanha não quer nem ouvir a proposta.”
E isso cria um problema para o euro. Segundo o economista, antes a simples ideia de abandonar a moeda única seria o bastante para provocar uma crise bancária que tornaria a ideia impossível. Mas se a saída acontecer, pode ser na Espanha, vaticina. “Os EUA, vão se recuperar de forma lenta, mas a Europa criou uma armadilha e agora vai ter que desistir de alguma coisa.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário