terça-feira, 12 de junho de 2012

Economia da cultura comum




Banco comunitário e sua moeda, Solano, fomentando cultura e desenvolvimento loca


Há uma série de coletivos engajados em promover a democratização dos meios de produção cultural. Em bairros da periferia de São Paulo a criação de bancos populares  fomenta o desenvolvimento das atividades econômicas e melhora as relações entre os moradores e a cidade através da circulação de moedas sociais aceitas no comércio local.



A cultura comum, ou ordinária, como definiu Raymond Williams, é de todos. Assim, “a cultura é todo um modo de vida, e as artes são partes de uma organização social que é claramente afetada de forma radical por mudanças econômicas” (Williams, 1958).

A afirmação acima contrapõe a evolução do conceito de cultura em seu processo histórico definido pelos cânones das belas-artes. O resultado de tal processo são políticas culturais que priorizam expressões artísticas em sentido estrito e se referem a um “conjunto diversificado de demandas profissionais, institucionais, políticas e econômicas, tendo, portanto, visibilidade em si própria” (Botelho, 2001). Mas, então, onde estão as políticas públicas para a definição de cultura apontada por Williams? Talvez a resposta esteja, segundo Isaura Botelho, na dimensão antropológica, em que a cultura é compreendida como modo de vida, que se produz pela interação social, modos de pensar e sentir, na construção de valores, no manejo de identidades e sociabilidades (Botelho, 2001).

Alguns programas de democratização da produção cultural, como oCultura Viva, do Ministério da Cultura, e o Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, são referenciais de políticas focadas nos processos e nos produtos culturais, na diversidade cultural e na articulação em redes, ou seja, apontam para a dimensão antropológica. No entanto, na dimensão econômica da cultura sucumbem aos processos de sustentabilidade.
A pesquisadora Isaura Botelho, contudo, sugere dois tipos de investimento para fomentar a produção na dimensão antropológica. O que interessa à discussão é o primeiro, que se refere a “uma articulação das pessoas diretamente interessadas, unindo, pelos laços de solidariedade, demandas dispersas em torno de objetivos comuns, formalizando-as de modo a dar essa visibilidade ao impalpável, em torno de associações de tipos diversos” (Botelho, 2001).

O primeiro investimento sugerido pela autora converge nas dinâmicas de produção cultural que vêm se estabelecendo em diversas localidades da cidade de São Paulo. Atualmente, existe uma série de coletivos engajados em promover a democratização dos meios de produção cultural. As iniciativas juvenis se mostram mais pujantes, pois estão abertas ao diálogo, às novas tecnologias, a novas experiências – e preferem se arriscar mais para preservar a autonomia, o protagonismo e a própria identidade. Alguns projetos do Programa VAI, que atende um perfil juvenil, surpreendem pelo enorme impacto que geram nas regiões onde são implantados.

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