Por Altamiro Borges
A mídia nativa cada dia se parece mais com um partido político. Ela atua com direção centralizada, aciona os seus quadros (“calunistas”) e dá farta munição para sua militância (leitores direitistas). No caso da atual cruzada pela alta dos juros, sua ação é exemplar. No final de semana, as duas principais revistonas da oposição estamparam quase a mesma capa. “Dilma pisou no tomate” (Veja); “Governo pisou no tomate” (Época). Nos jornalões, o assunto também foi manchete durante a semana. Já nas tevês, a artilharia é ainda mais massiva.
Mesmo com as recentes notícias sobre a queda do preço do tomate, as revistonas mantiveram o ataque ao novo perigo vermelho, que ameaça levar o país ao caos inflacionário. Neste sentido, como ironizou o sítio Brasil-247, elas podem repetir a famosa burrada do “boimate”. Eurípedes Alcântara, diretor de redação da Veja, ficou famoso em 1984 ao acreditar numa piada de primeiro de abril sobre o cruzamento genético entre o boi e o tomate. Ele produziu uma das maiores “barrigas” da mídia brasileira e virou motivo de chacota.
Agora, a revista Veja volta a pisar no tomate, desta vez para atacar o governo Dilma. Na Carta ao Leitor, o mesmo Eurípides “boimate” Alcântara afirma que a presidenta “pode afundar o Brasil”. A receita é direta: “Com a inflação não tem conversa. Ela só entende uma coisa: aumento dos juros, corte de gastos e aperto no crédito – todas medidas impopulares”. Como recomenda o Brasil-247, “sobre Veja, Eurípedes e seu segundo Boimate, nada a fazer a não ser atirar tomates na publicação. Que, aliás, já estão bem mais baratos”.
Já a Época, da bilionária famiglia Marinho, também sataniza o governo. Num jogo combinado, ela cita a “cansada” Ana Maria Braga. “’Estou usando uma joia’. Com essa frase, a apresentadora apresentou o colar de tomates de seu figurino no programa da quarta-feira. Foi apenas uma das muitas piadas que pipocaram ao longo da semana sobre o mais novo símbolo da inflação. Numa piada da internet, a atriz Claudia Raia, chefe de uma quadrilha de prostituição na novela das 9, diz que mudará de ramo e traficará tomates”.
Como se observa, o ataque é virulento. Ele tem dois objetivos: o primeiro é político, o de desgastar o governo na véspera de uma nova campanha sucessória; o segundo é econômico, o de defender os lucros dos agiotas financeiros. A mídia rentista não vacila em brigar por seus próprios negócios. A questão principal no momento é saber se o governo Dilma vai recuar diante de tamanha pressão. Uma notinha na Folha de hoje (14) pode indicar que a presidenta ainda não se intimidou diante desta campanha terrorista:
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PAINEL
VERA MAGALHÃES - painel@uol.com.br
Ansiolítico eleitoral
Apesar do recuo no consumo em supermercados e do estouro da meta da inflação, a previsão compartilhada por ala expressiva da equipe econômica do governo é a de que o índice de preços ceda em até um ponto percentual até setembro. A análise tem sido usada no Planalto para tranquilizar os que temem impacto da crise na campanha de Dilma Rousseff. Auxiliares da presidente entendem que os produtos sazonais, caso do tomate, representam 60% da alta dos últimos meses.
O otimismo é tamanho que governistas catalogam declarações dos presidenciáveis sobre economia. Falas sobre risco de "desemprego" e "inflação" serão usadas para acusar Aécio Neves e Eduardo Campos de "torcer contra o país".
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A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central ocorre nesta semana. Nela será possível analisar qual o poder de interferência da mídia nos rumos econômicos do país. Quem pisará no tomate? As revistas Veja e Época com as suas manchetes terroristas? Ou o governo Dilma, aceitando a pressão terrorista dos rentistas? A conferir!
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