sábado, 31 de dezembro de 2011

PPS manda PSDB às favas



O Conversa Afiada reproduz entrevista de Pierre de Lucena, do Acerto de Vontas,  com Raul Jungmann, um dos heróis da CPI dos Amigos de Dantas:

Jungmann:”Chega de ser reboque do PSDB”


Por Pierre Lucena, do Acerto de Contas

Na semana passada conversei com o ex-deputado Raul Jungmann sobre vários assuntos, dentre eles o ocaso em que vive a oposição no Brasil, capitaneada pelo PSDB, com DEM e PPS de satélites. Jungmann mostrou grande descontentamento com o que vem acontecendo na oposição e com o papel exercido com o PPS.

Segue a conversa.

Dilma está acabando o primeiro ano de mandato, e parece que a oposição ainda não se encontrou. Como você enxerga o papel da oposição e do PPS?

É visível que a oposição não está conseguindo apresentar nacionalmente uma proposta viável a população. Ficou restrita ao ato de denunciar o governo petista e esqueceu que apenas isso não basta. Claro que denunciar é o papel democrático esperado da oposição, mas também precisamos fazer um contraponto mais amplo ao conjunto de forças que está no Governo, ter um projeto para o país. Eu diria que a oposição se acomodou no papel do denuncismo, e isso não basta. Se acostumou porque é fácil fazer isso no Governo do PT, com a quantidade de escândalos que aparece. Mas como disse, isso não basta, o Mensalão provou isso e a queda sequencial de ministros também.

Mas e o PPS nisso?

Infelizmente o PPS tem se posicionado como aliado do PSDB, sem nenhuma reciprocidade por parte desse. Estes interesses dos aliados são legítimos, mas cabe a nós a organização enquanto partido, e não como linha auxiliar.

O PPS só tem perdido com esse papel. Basta dizer que nas três vezes em que o partido teve candidato a Presidente da República ele cresceu, especialmente quando Ciro Gomes foi candidato. Chegamos a ter mais de 20 deputados e agora temos praticamente a metade disso. Claro que a oposição acabou diminuindo, até pelo adesismo que está solto pelo país, mas não justifica aceitarmos essa posição.

Mas qual a saída?

Se você observar o que vem acontecendo na política nacional, vai perceber que existe uma polarização artificial criada entre PT e PSDB que não representa todas as forças da sociedade. Existe um eleitorado entre 25 e 30 milhões de pessoas que não se sentem contempladas por estes dois projetos. Marina Silva conseguiu capitanear muito bem isso. Com menos de um minuto de TV e sem nenhum candidato competitivo nos Estados, teve 20 milhões de votos. Claro que a figura política que ela representa e seu ótimo desempenho ajudou, mas mostrou um caminho a ser perseguido por nós. É um caminho pelo centro.

Você quer dizer que o PSDB é um partido de direita?

Não, mas que a opção pela aliança deve ser mais pelo centro, e não com forças mais conservadoras. Mas no caso do PPS, acho que o melhor é seguir seu caminho, e o foco deve ser oferecer uma alternativa na eleição presidencial de 2014.

E quem seria?

Temos dois nomes a oferecer, Roberto Freire e o do líder da bancada na Câmara Federal, Rubens Bueno.

Falando nisso, alguns dias atrás participei da reunião do Movimento Nova Política, e lá estavam pessoas de força políticas diversas. Obviamente Mariana Silva era a estrela, mas lá pudemos ver pessoas boas do PPS que saíram do PV, muita gente do PSol, que possui excelentes quadros, como Heloisa Helena e Edilson Silva. Eles estavam em peso no evento. Apesar das divergências ideológicas, o que está em jogo é um projeto republicano de país, com pessoas que se preocupam com a ética no jogo político e pretendem combater essa polarização que está sufocando a oposição e acomodando o Governo.

E Marina seria candidata pelo PPS?

Claro que as portas estariam abertas a ela, mas isso não cabe a nós, até por uma questão de respeito. E estamos de portas abertas não apenas a ela, pois o PPS acredita que este movimento pode mostrar algo que foge ao tradicional jogo partidário. Muitos”marineiros” de SP entraram no PPS e disputarão a eleição no próximo ano, e não criaremos problemas caso queiram sair posteriormente, pensando na hipótese de Marina buscar uma alternativa. Isso vale também para outras pessoas republicanas deste grupo. E Marina apontou o caminho, da busca da sustentabilidade, que deve ser prioridade para nós. Mas cabe ao PPS procurar seu caminho. Não pregamos rompimento, longe disso, mas chega de ser reboque do PSDB.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Venezuela e os novos desafios

Por Beto Almeida

A semana que antecedeu o Natal em Caracas, permitiu observar aspectos importantes da cena política e social venezuelana, bem como compreender a dimensão dos desafios que a Revolução Bolivariana tem pela frente para seguir aprofundando um conjunto de medidas de sentido socialista.

Pois foi no período natalino, quando mais se pronuncia - e em grande parte em vão - a palavra solidariedade, que a Revolução Bolivariana se destaca por renovar a ajuda que, há oito anos, é destinada a comunidades pobres dos EUA, por intermédio da empresa estatal Citgo, subsidiária da PDVSA, a Petrobrás venezuelana. A cada inverno no hemisfério norte, que costuma ser rigoroso e causar mortes entre as famílias mais pobres, o governo Chávez doa um estoque de combustíveis para milhares cidadãos carentes de várias cidades dos EUA usarem em seu aquecimento doméstico. 

Vale lembrar: recentemente as verbas oficiais utilizadas na compra destes insumos para proteção do frio foram cortadas pela insensibilidade do presidente Barack Obama. Isto, no mesmo ano em que os EUA multiplicaram seu orçamento bélico e quando sustentou, em conjunto com os endividados países da OTAN, 203 dias ininterruptos de demolidor bombardeio a Líbia. O que explica a nova alcunha do mandatário: Barack Obomba...Curioso foi notar que esta notícia foi publicada no jornal “El Nacional”, como a insinuar que seria absurdo Chávez preocupar-se com os pobres dos EUA. Registre-se: a tiragem deste jornal já alcançou 400 mil exemplares diários quando Chávez foi eleito, e agora, depois de 12 anos de editorialismo anti-chavista, e muito anti-jornalismo, a tiragem reduziu-se a 40 mil exemplares.

O reconhecimento da Cepal

Por falar em solidariedade prá valer, o período natalino coincidiu com a divulgação de Relatório da Cepal, intitulado “Panorama Social da América Latina 2011”, no qual se revela que, dentro de um quadro geral de redução da pobreza na região, é a Venezuela o país que registra a melhor distribuição de recursos orçamentários. Segundo a Cepal, no período compreendido entre 1990 e 2010 a taxa de pobreza na América Latina foi reduzida em 10 pontos percentuais, enquanto que na Venezuela, a redução da pobreza alcançou a cifra de 20 pontos percentuais considerando o período de 2002 a 2010. 

Dados oficiais indicam ainda que a partir do início da Revolução Bolivariana até hoje, a Venezuela teve quase duplicada a sua taxa de investimento social, passando de 36 por cento em 1999, para 62 por cento na atualidade. Isto inclui vastos investimentos em educação que permitiram ao país ser reconhecido, pela UNESCO, como Território Livre do Analfabetismo. E também em saúde, pois hoje, a Venezuela já registra 90 por cento de abastecimento de água potável, sendo considerado, pela ONU, o país que melhor cumpre os Objetivos para Desenvolvimento do Milênio (ODM), na América Latina.

Petróleo e solidariedade

Todos estes e outros programas sociais tiveram sustentação fundamental na enorme renda petroleira da PDVSA. Razão pela qual o Presidente Hugo Chávez já polemiza com os vários pré-candidatos conservadores para a eleição de outubro de 2012, pois pretendem ver a empresa estatal dedicada apenas à compra e venda de petróleo e seus derivados, abandonando a missão social-transformadora que lhe foi assegurada pela Revolução Bolivariana. 

“A eleição de 2012 será entre Chávez e os ianques”, disse o presidente bolivariano, acusando os direitistas de serem “apenas a voz da burguesia nacional e estrangeira”. Ao analisar o discurso do campo conservador, pode-se perceber realmente a intenção de fazer a Venezuela retroceder à era da “Maldição do Petróleo”, expressão utilizada para caracterizar países que, por sua riqueza petroleira, são condenados à cobiça imperial e a esmagar seu próprio povo em torturantes misérias sociais.

Enfrentar a pobreza extrema

Ainda não se sabe qual será o candidato da oposição para disputar com Hugo Chávez. Sabe-se apenas que todos os que se apresentam hoje são favoráveis ao retorno a uma relação de dependência ante aos EUA, e à anulação dos programas de industrialização, bem como dos programas sociais, considerados apenas assistencialismo, no que são apoiados por parte de uma intelectualidade desorientada. 

Tal como o conservadorismo brasileiro, a oposição a Chávez percebe os efeitos largamente estruturantes que os programas sociais, lá batizados de Missão, carregam. Conduzem a uma relação mais direta com o estado, elevando o grau de cidadania, propiciando que populações historicamente marginalizadas de tudo, dos serviços públicos, da cultura, do consumo necessário e também da participação política, sintam-se reconhecidos.

A Missão Amor Maior, destina-se a apoiar aos homens maiores de 65 anos e mulheres de 60 anos que vivem em famílias com renda inferior a um salário mínimo. Após cadastrados, passam a receber uma renda mínima, mesmo que jamais tenham recolhido qualquer contribuição ao estado antes. No caso de cidadãos estrangeiros, poderão ser atendidos, desde que comprovem moradia na Venezuela por no mínimo 10 anos. Vale lembrar que a Venezuela, com quase 30 milhões de habitantes, possui pelo menos 4 milhões de colombianos refugiados da guerra entre as Farc e o Exército e paramilitares. Mas os colombianos também recebem documentação, têm acesso igualitário aos serviços de saúde (são atendidos também por médicos cubanos), às creches e às políticas sociais como os Mercals, mercados itinerantes organizados pelo estado, com preços 30 por cento em média mais baixos que no comércio normal. 

Sabe-se que até mesmo as elites conservadoras, disfarçadas, já fazem compras nos Mercals, um reconhecimento involuntário de sua eficiência, muito embora mantenham a crítica aos programas de Chávez. A conduta desta elite não surpreende pelo venenoso egoísmo e insensibilidade: quando noticiou-se a enfermidade de Chávez um manto de silencio e tristeza abateu-se sobre a população de Caracas. Minutos depois, apenas nos bairros ricos, ouviu-se foguetório e comemoração, o que indica a baixa estatura moral desta gente para pretender governar um país com a digna história e a potencialidade da Venezuela.

Planificar, planificar, planificar

Em reunião do gabinete de governo, televisionada ao vivo pelo Canal 8, Chávez insistia na necessidade uma planificação superior, mais ordenada, capaz de descobrir e atender as necessidades da população mais carente. Por isso, por meio de um programa chamado Missão Vivenda (Moradia), o estado está buscando saldar o déficit habitacional venezuelano, um país conhecido por imensas favelas narradas nas canções rebeldes de Ali Primera, sem água tratada, sem eletricidade, barracos construídos em locais inadequados. Como no Brasil. 

Mas, a planificação estimulada por Chávez visa não apenas atender às famílias cadastradas na Missão Vivenda, que prioriza as 30 mil famílias desabrigadas pelas chuvas de dezembro de 2010, mas também organizar para que estas famílias possam encontrar emprego ou fazer um curso profissionalizante, com bolsas também fornecidas pelo estado. Isto tem que estar contido na planificação estatal. Seguir o pobre até o fim da linha, até sua inserção no sistema de trabalho ou de estudo.

Similaridades

Um outro programa, batizado de Missão Filhos da Venezuela, destina-se a atender a todas as famílias com renda inferior a um salário mínimo, com filhos com idade até 17 anos, e também aquelas famílias carentes com pessoas com alguma necessidade especial em sua casa. Há ainda a preocupação em atender as adolescentes grávidas o que provocou críticas da imprensa conservadora insinuando que tal missão vai estimular a gravidez precoce. 

A resposta de Chávez pela tv, com sua comunicação clara e popular, não se fez esperar: “O que quer a oposição? Que abandonemos as adolescentes grávidas à sua própria sorte?“ A prioridade nesta planificação superior sublinhada por Chávez deve ser a construção de uma engrenagem que conecte os programas sociais a uma profissão e a um emprego, priorizando sobretudo a pobreza extrema.

Informação e cidadania

Há similaridades com o Programa Bolsa Escola e com Brasil Sem Miséria, agora complementado pelo Viver Sem Limite, que buscam a pobreza mais extrema que ainda não tinha sido alcançado pelos programas sociais anteriores. E com um olhar especial para as famílias com pessoas com necessidades especiais. Na Venezuela, as famílias serão visitadas por brigadistas, casa por casa. As TVs estatais, ao longo de sua transmissão, informam numa faixa na parte inferior da tela, em que lugar podem ser feitas as inscrições para cada um destes programas, em casa cidade, em cada bairro, em cada endereço...

Aqui, o Programa Voz do Brasil, que informa positivamente sobre quando recursos do MEC ou do Ministério da Previdência chegam aos municípios, poderia também ser utilizado de forma mais ampla para informar sobre os programas sociais do governo Dilma.

Enquanto os pré-candidatos oposicionistas a Chávez recebem amplo apoio dos centros informativos vinculados aos EUA - afinal, será quem dará a última palavra sobre quem será o candidato da direita, como ocorreu nas recentes eleições na Nicarágua e Guatemala - não surpreende que a agenda política da oposição já esteja traçada. 

Prioridade número um, claro, derrotar Chávez. Depois, anular totalmente o papel da PDVSA como alavanca dos programas sociais da Revolução Bolivariana. Além disso, desmontar a política externa bolivariana, que prioriza a integração latino-americana, tendo como conquista mais recente o apoio à fundação da CELAC (Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos), que prepara o funeral da funesta e colonialista OEA.

Integração em marcha

Outros instrumentos, que estão sendo implementados pela política externa bolivariana, entre eles o Banco do Sul, a Alba e, mais recentemente, o Banco da Petrocaribe, também são alvo da sanha destruidora da direita. Tais instrumentos fortalecerão ainda mais operações econômicas e comerciais integracionistas, como, por exemplo, a constante nos vários acordos firmados entre Dilma Roussef e Hugo Chávez agora em dezembro, que prevê a compra, pela Venezuela, de 20 aeronaves da Embraer para fortalecer a Conviasa, estatal que recuperou a aviação civil venezuelana. 

Aliás, exemplo que poderia estimular a criação, no Brasil, de uma empresa pública de aviação para explorar o enorme potencial de aviação regional, lacuna de difícil explicação num país com indústria aeronáutica do porte da Embraer. Vale lembrar, há 3 anos, a operação de compra de 150 aviões Tucanos da Embraer pela Venezuela, foi vetada pelos EUA, o que não teria ocorrido se a soberania brasileira sobre a empresa não tivesse sido destruída pela privataria tucana.

Ciência da tática

Revelando provavelmente intenções sinistras, um dos candidatos da direita contra Chávez, um jovem rico chamado Leopoldo López, atual prefeito de um município colado à cidade de Caracas, anunciou a contratação do ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe, marcado pela organização do macabro para-militarismo, para assessorar os programas de segurança de sua prefeitura. Preocupante: com Uribe presidente, Colômbia e Venezuela romperam relações e estiveram a ponto de um conflito armado. 

Com a ciência da tática, Hugo Chávez busca afastar a Colômbia da agenda belicista do Pentágono, desenvolvendo acordos com o presidente José Manuel Santos que complementam segmentos econômicos dos dois países - que um dia foram uma só pátria, na era Bolívar -, inclusive ampliando o comércio bilateral que leva setores industriais colombianos a ver na Venezuela um mercado em expansão, dado a elevação do poder aquisitivo dos venezuelanos. 

Com esta tática, se enfraquecem os segmentos da oligarquia colombiana que apostam numa agenda bélica entre os dois países em sintonia com o Pentágono. A crise do capitalismo e, nos EUA em particular, favorece a visão de que a integração latino-americana, baseada na cooperação, exige outras políticas da Colômbia, como de certa forma pode ser lido face à vitória das forças progressistas nas eleições de Bogotá. O que tende a dar mais prazos históricos de consolidação da Revolução Bolivariana.

Percebe-se, em Caracas, o fortalecimento da consciência solidária real. Não apenas natalina, passageira, retórica. Enquanto a Europa capitalista em crise assiste, estarrecida, a demolição dos direitos do Estado do Bem-Estar Social, a Venezuela bolivariana amplia direitos, reparte riqueza e prepara-se para ter uma nova Lei Orgânica do Trabalho. Exemplo disso é que grande parte das famílias desabrigadas pelas chuvas de dezembro passado foram acolhidas em Refúgios organizados e patrocinados por cada Ministério e cada empresa estatal. 

Até mesmo a Telesur, que além de promover um jornalismo de integração, transformando a informação em ferramenta solidária entre os povos, organizou o seu Refúgio em um imóvel utilizado para depósito, sendo reformado e adaptado para abrigar 27 famílias flageladas. Ali elas encontram teto, comida, atendimento médico-odontológico e esperam, de modo decente, pela conclusão de 140 mil unidades residenciais que estão em fase de conclusão nos próximos dias. Neste programa habitacional, há uma importante cooperação com a Caixa Econômica Federal, parte dos acordos firmados entre Lula e Chávez e ampliados, recentemente, entre Dilma-Chávez.

Desafios

Lendo os jornais oposicionistas que circulam livremente em Caracas, nada disso se percebe. Não se tem notícia de um país que finalmente está utilizando a renda petroleira para industrializar-se, construindo infra-estrutura, com a participação do BNDES e empresas brasileiras, que operam na ampliação das várias linhas do moderno metrô caraquenho ou de teleféricos que atendem os bairros pobres nos morros, como San Agustín, assegurando um transporte decente para famílias carentes, tal como também no Complexo do Alemão. Indústria de automóveis e tratores iranianas, de caminhões e bicicletas chinesas, estão sendo implantadas. Um país que há 12 anos importava até alface de avião de Miami, já possui uma nova lei de terras e avança na construção de uma economia agrícola que nunca teve durante a maldição do petróleo. De importadora de fósforo a roupas, a Venezuela já exporta principalmente exemplos. 

Mas, vale ressaltar, nada disso encontra-se nas páginas da imprensa conservadora. Mas, aos domingos, ao caminhar pelo centro de Caracas, já se nota uma cidade mais limpa, com uma coleta de lixo que funciona e com uma massa de caraquenhos que, ao sair do metrô e sentar num café ou num banco do Boulevar de Sabana Grande, recebe gratuitamente o jornal Ciudad Caracas (350 mil exemplares), em cujas páginas afloram os desafios bolivarianos: reduzir a abstenção eleitoral e assegurar, uma vez mais, pela via do voto popular e direto, que este processo transformador bolivariano, generoso e humanista, siga aprofundando-se. E com ele, a integração latino-americana baseada na cooperação e solidariedade entre os povos.

* Beto Almeida é membro da Junta Diretiva da Telesur

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Terceirização só agrava o problema



Proposta aumenta a jornada, reduz salários e desrespeita questões fundamentais como saúde e segurança no trabalho 

 27/12/2011
Leonardo Wexell Severo,
de Curitiba (PR)

Na contramão do projeto de inclusão e de direitos, no final de novembro foi aprovado, na Comissão Especial de Estudos para Regulamentação da Terceirização da Câmara, o substitutivo do deputado Roberto Santiago (PV-SP) ao Projeto de Lei 4330/04 do deputado Sandro Mabel (PMDB - GO). 
“O substitutivo promove uma reforma equivocada da legislação e, com isso, a precarização do trabalho. Ou seja, aumenta a jornada, reduz salários e desrespeita questões fundamentais como saúde e segurança no trabalho”, condenou o deputado Vicentinho (PT-SP), que votou contra o projeto, acompanhado pelo deputado Policarpo (PT-DF).          
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, condena o retrocesso. “A terceirização mata, piora as condições de trabalho e a qualidade de vida do trabalhador”. “A terceirização é sinônimo de precarização nas relações do trabalho. Não podemos permiti- la na atividade fim. Essa penalização no trabalho é sinal de arrocho salarial, onde os trabalhadores são tratados como cidadãos de segunda classe”, frisou o presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Ubiraci Dantas de Oliveira (Bira).      
Proposta indecente        
Para os operários da construção, destacou o presidente da Conticom, Claudio da Silva Gomes, a proposta aprovada pela Comissão “é indecente, pois acaba com o instrumento de punir as empresas e dá embasamento legal para uma prática que combatemos”. O que acontece hoje, informou, “é que as empresas não são terceirizadas por serem especialistas no que fazem; na verdade, o que existe é a locação de mão de obra, o que é proibido. Essa proposta é muito negativa e vai dificultar o combate à precarização e a garantia do direito dos trabalhadores”.    
Traíras dos trabalhadores           
Votaram a favor do texto contra os trabalhadores os deputados Alfredo Kaefer (PSDB-PR), Augusto Coutinho (DEM-PE), Carlos Sampaio (PSDBSP), Darcísio Perondi (PMDB-RS), Dr Ubiali (PSB-SP), Efraim Filho (DEM-PB), Gorete Pereira (PR-CE), Jerônimo Goergen (PP-RS), Laercio Oliveira (PR-SE), Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), Reinaldo Azambuja (PSDB-MS), Roberto Santiago (PV-SP), Ronaldo Nogueira (PTB-RS) e Sandro Mabel (PMDB-GO). 

Metade da dívida de 5 europeus vence até abril; Brasil se preocupa


Enrolados com 'mercado', Itália, Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha têm de pagar de janeiro a abril 283 bi de euros, dos 613 bi a vencer em 2012. Segundo BC brasileiro, concentração 'deve ser acompanhada com cuidado'. Brasil também precisa liquidar em quatro meses 43% do que vence em 2012, mas está 'descolado' da crise e fechará 2011 com dívida pesando menos.

BRASÍLIA – Os cinco países europeus atolados numa crise de suas dívidas que arrastou o continente e sacudiu o mundo em 2011 terão um início de 2012 complicado. Complicado e, para autoridades brasileiras, preocupante. Quase metade das dívidas que Itália, Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha terão de liquidar no ano novo vencerá entre janeiro e abril. Serão 283 bilhões de euros, de um total de 613 bilhões a pagar em 2012.

A necessidade de o quinteto rolar 40 bilhões em janeiro e depois uma média de 80 bilhões pelos três meses seguintes mostrará se os países já conseguem administrar seus papagaios – com ou sem ajuda de fora, como os socorros do Fundo Monetário Internacional (FMI) – e qual o tamanho da desconfiança dos “mercados” credores (explicitada no valor de eventuais descontos e do juro cobrado na rolagem). 

O processo de pagamento/refinanciamento evidenciará ainda se os líderes políticos dos devedores e, também, dos dois principais países da Zona do Euro, Alemanha e França, entram em 2012 com mais capacidade ou se repetirão o bate-cabeça de 2011. 

“Será um momento em que um avanço [político] será necessário para que esse refinanciamento das dívidas dos países afetados seja feito com maior tranquilidade”, disse o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, ao participar, dia 20 de dezembro, da última prestação de contas trimestral ao Senado em 2011.

Na audiência pública, o banqueiro deixou claro como o vencimento de 280 bilhões do quinteto europeu em apenas quatro meses causa apreensão no governo brasileiro. “De fato é uma concentração que deve ser acompanhada por nós com cuidado.”

Se os cinco grandes devedores europeus tiverem dificuldade para atravessar o quadrimestre, é possível que em 2012 toda a economia global volte a sofrer as consequências da crise, na forma de outro crescimento reduzido. Essa é a grande expectativa do governo brasileiro, que vem insistindo que, no ano que vem, o país vai se sair melhor do que em 2011.

Brasil: calmaria
Do ponto de vista da rolagem da própria dívida brasileira, porém, problemas no Velho Continente não preocupam. Durante todo o ano de 2011, o país teve sossego nas negociações com o “mercado”, que não estendeu até aqui a suspeita de calote que alimenta do outro lado do Atlêntico. 

Por isso, não provoca o mesmo frio na espinha o fato de o país também ter um cronograma de pagamentos da dívida pública concentrado no início de 2012. De janeiro a abril, terá de rolar 164 bilhões de reais, o equivalente a 43% do total de 381 bilhões previstos para o ano todo. Até o fim do governo Dilma, o vencimento geral será de 1 trilhão de reais.

“O Brasil está melhor do que muitos países industrializados”, afirmou José Franco de Morais, coordenador de operações da dívida pública da Secretaria do Tesouro Nacional, ao divulgar dados sobre a evolução do débito brasileiro em novembro, dia 21 de dezembro.

Por causa disso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vem repetindo que, em meio à crise europeia da dívida, o Brasil terminará 2011 diminuindo a sua, quando ela é medida pelo peso que tem no produto interno bruto (PIB). A expectativa do ministro é que a dívida líquida, que estava em 40% do PIB em 2010, feche 2011 em 37%, “uma excelente performance”, como Mantega a definiu durante café de fim de ano com jornalistas, dia 22 de dezembro.

Até novembro, segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC) nesta quarta-feira (28), a dívida estava em R$ 1,5 trilhão, o equivalente a 36,6%. Contribuiu para a queda da dívida o enorme saque de recursos arrecadados em impostos em todo o país para, com eles, os governos pagarem juros da dívida pública. O chamado superávit primário em onze meses de 2011 sonegou R$ 126 bilhões em políticas públicas, investimentos e outros gastos, para pagar o “mercado”.

Pentágono obtém luz verde para a guerra na Internet




Os parlamentares norte-americanos autorizaram oficialmente seu exército a dedicarem-se à chamada "ações militares cinéticas", nada mais do que um eufemismo triste para não dizer literalmente "guerra".
Como sempre nestes casos, o anúncio não veio com alarde, mas discretamente, em um pequeno parágrafo que integra o orçamento militar até 2012. Pode ser mais insidiosa, mas não mais clara.

O orçamento militar, aprovado com a classificação da lei, declara o seguinte: “Congresso afirma que o departamento de defesa tem potencial e, sob a orientação específica, pode realizar operações ofensivas no ciberespaço para defender nossa nação, parceiros e outros interesses, de acordo com os princípios e sistemas legais que o Departamento define para o potencial cinético, incluisve dentro de conflitos armados e diante da resolução depoderes de guerra”.

Propositadamente obscuro, o texto acima reconhece como “capacidades cinéticas” e “princípios e sistemas legais”, se alguém não se recorda, a intervenção do exército norte-americano na Líbia, na guerra que iniciou a derrocada de Kadafi,k e que não foi uma “guerra”, mas uma “ação cinética militar”.

E por que chamar de ação cinética e não de guerra? Porque para o presidente dos Estados Unidos declarar uma guerra ele tem que pedir permisssão ao Congresso e ser por esse autorizado. Isso não ocorreu no que se refere à Líbia.

Mas com a autorização nas entrelinhas do documento acima, o presidente dos Estados Unidos e seu comandante-chefe de Exército agora têm caminho livre para declarar, também, a guerra na internet quando tiverem vontade, sem a necessidade de seguir os princípios e sistemas legais” que exigem permissão do Congresso.

Também há outros termos obscuros, como, por exemplo, o que eles consideram uma “ação ofensiva”? Embora não especificado, a Estratégia do Pentágono para a Segurança na Internet, outro bonito eufemismo, já se ocupou de definir o teor dessa tal ofensiva há meses.

Vale explicar que as “ações ofensivas” podem incluir o lançamento de virus de todo tipo, a destruição de serviços e a possibilidade de invadir os sistemas de controle de energia em outros países, desabilitando suas redes elétricas e gerando apagões completos.

Frisamos o fato de que as ações “podem incluir” porque não há precedentes em relação a uma net war ou guerra cibernética, e essas ações podem receber como respostas verdadeiros ataques bélicos, tendo-se em vista tudo o que foi apontado como ofensivas neste texto.

Essa ameaça bélica é ipatrocinada pela ciber-paranoia, que profetiza toda sorte de ciber-apocalipse e outras ciber-engodos para promover o medo.

Não há registro de nenhum ataque de hackers que tenha colocado em real perigo, nem sequer em risco, as “infraestruturas altamente dependentes da internet”.

Fonte: Cubadebate, com informacões de Tribuna Popular TP/ ABNA
www.vermelho.org. br
Texto: / Postado em 26/12/2011 ás 22:25

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Emir Sader: 2011, a crise capitalista e o novo cenário no Oriente Médio


O cenário geral que englobou a todo o ano de 2011 foi o novo ciclo da crise geral do capitalismo, iniciado em 2008. Pelo tipo de medidas tomadas naquele momento, era de se esperar que houvesse um novo brote da crise, mesmo se não se pudesse imaginar uma intensidade tão forte como aquela que afeta especialmente a economia europeia.
Ao ter salvado os bancos, detonante e epicentro da crise, os governos acreditavam que salvariam as economias e os países. Os bancos se salvaram e deixaram as economias e os países abandonados. Até porque os bancos têm a seu favor os organismos financeiros internacionais e as agências de risco, que agem de forma coerente e coordenada.
Por isso a crise voltou como bumerangue, tendo agora diretamente os governos como epicentros, pressionados pelo sistema bancário e pelos organismos que expressam seus interesses – FMI, Banco Central Europeu. Depois de bancos e outras instituições financeiras, em 2008, agora países passaram a falir, tendo a Grécia como caso paradigmático, que estende sua sombra sobre quase todos os países da zona do euro.
A unificação monetária – que foi a essência da unificação europeia, a ponto que os referendos perguntavam diretamente se queriam a moeda única e não a Europa unificada – se revelou uma armadilha, tanto para os países mais fragilizados, que na ausência de políticas monetárias nacionais, não tiveram formas de se defender minimamente da crise, como os países em melhores condições, que tiveram que acudir a eles, sob o risco de desabamento de toda a arquitetura do euro, levando-os também de roldão.
As respostas se deram no marco das políticas neoliberais dominantes, combatendo centralmente os déficits públicos e não os efeitos econômicos e sociais dessas políticas: a recessão e o desemprego. Como é típico do neoliberalismo, a centralidade está na estabilidade monetária e não no desenvolvimento econômico e na geração de empregos.
Como resultado, a maior novidade do 2011 é que a Europa ingressou de cheio numa fase recessiva, que deve demorar pelo menos uma década e que, dramaticamente, termina com seu Estado de bem-estar social, característico de suas sociedades no segundo pós-guerra. Os outros países do centro do capitalismo – EUA, Inglaterra, Japão – se defendem minimamente, por ter politicas monetárias nacionais, mas estão envolvidos na mesma tendência, que abrange a totalidade dos países centrais do capitalismo.
Essa a consequência mais importante do que ocorreu em 2011: projeção de recessão prolongada no centro do capitalismo, que será o cenário econômico internacional. Não significa que não haja oscilações, mas sempre entre recessão, estagnação e crescimento baixo, com os problemas sociais correspondentes e a instabilidade política de governos de turno que pagarão sempre o preço das politicas recessivas.
No outro plano estrutural – o da hegemonia imperial no mundo – o ano trouxe a novidade da guerra da Líbia, como nova modalidade de intervenção imperial. Tomada de surpresa pelas rebeliões populares na Tunisia e no Egito, que derrubaram alguns de seus aliados fundamentais na região, a reação das potências ocidentais foi buscar revidar com o apoio maciço, especialmente militar, à oposição na Líbia, que contou com o beneplácito da ONU – com sua cínica decisão de “proteção da populações civis”- e a intervenção militar pesada da
Otan, que bombardeou o pais durante mais de 6 meses, contando com o protagonismo da Inglaterra, da França e da Itália e o apoio logístico dos EUA, até obter o que buscava: a queda do regime de Kadafi e sua morte. Foi uma nova modalidade de intervenção, numa região que passa a ter instabilidades políticas prolongadas.
Renovou-se assim o arsenal de formas de intervenção das potências imperialistas, que se voltam agora para a Síria e o Irã, enquanto a saída das tropas dos EUA do Iraque não prenunciam o fim dos conflitos, transferindo-os agora para a disputa de hegemonia entre as facções internas. A violência só aumentou, o que passa também no Afeganistão, o que faz com que, depois do sucesso da derrubada dos regimes desses dois países, a uma vitória militar os EUA não tenham conseguido impor uma vitória politica.
A chamada “primavera árabe” trouxe um elemento novo na região, que estava congelada de participação popular e, de repente, viu multidões ocuparem praças para derrubar ditaduras.
O movimento, que começou neste ano, ainda deve ter longos desdobramentos, porque as ditaduras bloquearam o surgimento de forças alternativas durante décadas e nas eleições tendem a triunfar aquelas que tinham espaço, mesmo se restringido, nos velhos regimes: partidos e movimentos islâmicos. Mas os processos em países como a Tunísia e o Egito estão longe de terminar, como demonstra o novo ímpeto das mobilizações no Egito, agora diretamente contra o papel que os militares tentam manter na transição politica.
O ano de 2011 acentuou a natureza prolongada e profunda da atual crise capitalista, porém os modelos alternativos ao neoliberalismo ainda têm existências regionais – como o caso da América Latina e, de forma distinta, a China. Da mesma forma, as debilidades da hegemonia imperial norteamericana – não consegue manter e ganhar duas guerras ao mesmo tempo, por exemplo – não encontra ainda formas multipolares com capacidade suficiente para superar o mundo unipolar existente. Assim, se prolongará o período de instabilidades e turbulências que a crise do neoliberalismo e do imperialismo introduziram, até que forças com capacidade de superação possas se afirmar. Passos têm sido dados e a própria capacidade de resistência do Sul do mundo – em especial da América Latina e da China – à recessão no centro do capitalismo demonstram isso. Mas a disputa hegemônica ainda tende a prolongar por um tempo longo. O certo é que o mundo sairá distinto desta segunda década do século XXI – melhor ou pior -, mas distinto, porque os sintomas de esgotamento dos seus esquemas econômicos e políticos dominantes são evidentes.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Com a prioridade da guerra, a função do jornalismo torna-se tabu



por John Pilger

Em 22 de Maio de 2007, a primeira página do Guardian anunciava um "Plano secreto do Irã para ofensiva de Verão a fim de expulsar os EUA do Iraque". O seu redator, Simon Tisdall, afirmava que o Irã tinha planos secretos para derrotar tropas americanas no Iraque, os quais incluíam "forjar laços com elementos do al-Qaida". O "confronto" próximo seria uma trama iraniana para influenciar uma votação no Congresso dos EUA. A matéria "exclusiva" de Tisdall era redigida inteiramente com base em briefings de anônimos responsáveis estado-unidenses e acenava com contos ridículos de "células assassinas" do Irã e "atos diários de guerra contra forças estado-unidenses e britânicas". Suas 1200 palavras incluíram apenas 20 para o categórico desmentido do Irã.
Aquilo era uma carga de lixo: era realmente um comunicado de imprensa do Pentágono apresentado como jornalismo, tal como a ficção que justificou a sangrenta invasão do Iraque em 2003. Dentre as fontes de Tisdall estavam "conselheiros seniores" do general David Petraeus, o comandante militar dos EUA que em 2006 descreveu sua estratégia de travar uma "guerra de percepções... conduzida continuamente através do noticiário da mídia".
A guerra da mídia contra o Irã começou em 1979 quando o protegido do ocidente, o tirano Mohammad Reza Shah Pahlavi, foi derrubado numa revolução popular islâmica. A "perda" do Irã, o qual sob o xá era encarado como o "quarto pilar" do controle ocidental do Médio Oriente, nunca foi esquecida em Washington e Londres.
No mês passado, a primeira página do Guardian apresentou mais uma notícia "exclusiva": "O Ministério da Defesa [britânico] prepara-se para tomar parte em ataques dos EUA contra o Irã". Também desta vez, os responsáveis citados eram anônimos. Desta vez o tema era a "ameaça" apresentada pela perspectiva de uma arma nuclear iraniana. A "prova" mais recente eram documentos requentados de 2004, obtidos de um laptop em pela inteligência dos EUA e passado à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Numerosas autoridades lançaram dúvidas sobre estas suspeitas falsificações, incluindo um antigo inspetor chefe de armas da AIEA. Um telegrama diplomático dos EUA divulgado pelo WikiLeaks descreve o chefe da AIEA, Yukiuya Amano, como "solidamente no lado americano" e "pronto para o horário nobre" [da TV].
O "exclusivo" do Guardian de 3 de Novembro e a velocidade com a qual a sua propaganda foi difundida através da mídia foram um recorde. Isto é chamado de "dominância da informação" pelos treinadores de mídia no estabelecimento de psyops (guerra psicológica) do Ministério da Defesa, em Chicksands, Bedforshire. Este estabelecimento partilha instalações com os instrutores dos métodos de interrogatório que levaram a um inquérito público acerca da tortura militar britânica no Iraque. Historicamente, a desinformação e a barbaridade da guerra colonial têm andado lado a lado.
Tendo apelado a um assalto criminoso ao Irã, o Guardian opinou que isto "naturalmente seria loucura". Uma cobertura das nádegas semelhante foi utilizada quando Tony Blair, outrora um herói "místico" em polidos círculos liberais, conspirou com George W. Bush e provocou um banho de sangue no Iraque. Com a Líbia tratada recentemente ("Funcionou", disse o Guardian ), o Irã parece que é o próximo.
O papel do jornalismo respeitável nos crimes de estado ocidentais – desde o Iraque ao Irã, ao Afeganistão e à Líbia – permanece tabu. Atualmente é obscurecido pelo teatro da mídia acerca do inquérito Leveson quanto a escutas telefônica, as quais Benedict Brogan do Daily Telegraph descreve como "um teste de tensão útil". Culpem Rupert Murdoch e os tablóides por tudo e os negócios podem continuam como habitualmente. Por perturbador que sejam os testemunhos de Lord Leveson, eles não se comparam ao sofrimento das incontáveis vítimas do jornalismo instigador da guerra.
O advogado Phil Shiner, que obrigou a um inquérito público acerca do comportamento criminoso de militares britânicos no Iraque, afirma que o jornalismo incorporado (embedded) proporcionou cobertura para a matança das “centenas de civis mortos pelas forças britânicas enquanto estavam sob a sua custódia, [muitas vezes sujeitando-os] às coisas mais extraordinárias e brutais, envolvendo atos sexuais... o jornalismo incorporado nunca poderá relatar tais notícias". Não é nada surpreendente que o Ministério da Defesa, num documento de 2000 páginas revelados pelo WikiLeaks, descreva os jornalistas de investigação – ou seja, jornalistas que fazem o seu trabalho – como uma "ameaça" maior do que o terrorismo.
Na semana em que o Guardian publicou a sua matéria "exclusiva" acerca do planejamento do Ministério da Defesa para um ataque ao Irã, o general sir David Richards, chefe militar britânico, prosseguia uma visita secreta a Israel, o qual é um genuíno fora da lei em armas nucleares e isento de insultos dos meios de comunicação. Richard é um general altamente político que, como Petraeus, tem trabalhado a mídia com considerável benefício. Nenhum jornalista na Grã-Bretanha revelou que ele foi a Israel discutir um ataque ao Irã.
Honrosas exceções à parte – tal como o trabalho tenaz de Ian Cobain e Richard Norton-Taylos, do Guardian – nossa sociedade cada vez mais militarizada é refletida em grande parte da nossa cultura da mídia. Dois dos mais importantes funcionários de Blair na sua desonesta aventura encharcada de sangue do Iraque, Alistair Campbell e Jonathn Powell, desfrutam um cômodo relacionamento com os meios de comunicação liberais, suas opiniões sobre assuntos dignos são procuradas enquanto no Iraque o sangue nunca seca. Para os seus admiradores, como dizia Harold Pinter, as pavorosas conseqüências das suas ações "nunca aconteceram".
Em 24 de Novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, as acadêmicas feministas Cynthia Cockburn e Ann Oakleys, atacaram aquilo a que chamaram "certos traços e comportamentos masculinos generalizados". Elas pediam que a "cultura da masculinidade fosse tratada como uma questão política". A testosterona era o problema. Elas não fizeram qualquer menção ao sistema de violência de estado desenfreada que o império reabilitou, criando 740 mil viúvas no Iraque e ameaçando sociedades inteiras, desde o Irã até a China. Não será isto uma "cultura" também? O seu pensamento limitado não é atípico. Ele diz muito acerca de como estes meios de comunicação amigos das questões de identidade distraem da exploração sistêmica e da guerra, que permanece a fonte primária de violência contra homens e mulheres.
O original encontra-se em johnpilger.com/...
Este artigo encontra-se em http://resistir.info
Texto: / Postado em 11/12/2011 ás 16:29

Anonymous acessam cartões de crédito milionários e fazem doações aos pobres


Fonte: asintoniafina.blogspot.com



Um belo presente de Papai Noel


Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão.



O grupo de hackers Anonymous atacou, nesta segunda-feira, a base de dados da agência de 
segurança norte-americana Stratfor e roubou os dados de, pelo menos, 4 mil cartões de 
crédito de grandes empresas mundiais e da Defesa dos EUA. Em seguida, numa fração de segundos, 
passaram a distribuir o saldo das contas milionárias a orfanatos, asilos e casas de saúde ao redor do 
mundo.


As doações a instituições de caridade foram acompanhadas da frase “Obrigado! Agência de Segurança
 Interna”.


Os piratas do cyberespaço alegaram que um dos motivos pelos quais conseguiram roubar dados da 
Stratfor deve-se ao fato da não encriptação (conversão ou transmissão de dados em código) da 
informação, o que será um grande embaraço para uma empresa que fornece análises políticas, 
econômicas e militares para clientes que precisam reduzir os riscos de segurança.


Entre os clientes da empresa, que fornece serviços de informação de defesa, lobby político e 
econômico, encontram-se algumas das 500 organizações mais lucrativas do mundo listadas na 
revista Fortune, como a BNP Paribas, Wester Union, American Express ou Visa, entre outras, e o 
Departamento de Defesa dos Estados Unidos.


Os Anonymous anunciaram o ataque através do Twitter e justificaram a ação como uma “doação de 
Natal”. O grupo divulgou também, no Twitter, a lista das empresas clientes da Stratfor juntamente com 
os respetivos dados dos cartões de crédito, como o Departamento da Defesa norte-americano, o 
Exército, a Força Aérea e empresas do ramo tecnológico como a Apple ou a Microsoft.


Segundo diário norte-americano New York Times, os hackers mostraram ainda imagens de 
recibos de transferências feitas a partir de alguns desses cartões de crédito para instituições 
de caridade, acompanhadas da frase de agradecimento: “Obrigado! Agência de Segurança Interna”.


Um dos recibos divulgados estava em nome da Cruz Vermelha Norte-americana e tinha o nome de um ex-responsável do Departamento Governamental Bancário do Texas, Allen Barr. Citado pelo mesmo 
jornal norte-americano, Barr afirmou que foram debitados US$ 700 do seu cartão a favor de várias 
instituições de solidariedade.


– Foram todas instituições de caridade, Cruz Vermelha, CARE, Save The Children. Por isso, quando a 
empresa do cartão de crédito contactou a minha mulher ela não tinha a certeza se tinha sido eu a fazer
a doação – explicou.


Fred Burton,vice-presidente da Stratfor, cujo site se encontra em manutenção, disse à agência 
norte-americana de notícias Associated Press que a empresa apresentou queixa às autoridades e 
que trabalham em conjunto na investigação.


Os Anonymous cumpriram, desta forma, a ameaça divulgada há algumas semanas de realizar um
 ataque a sites de grandes instituições durante o fim-de-semana de Natal. Em um e-mail aos 
clientes, a que a APteve acesso, a Stratfor afirma que suspendeu o correio eletrônico e os seus 
servidores.
Sintonia Fina - Terror do Nordeste



"O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício 
cotidiano do caráter"

(Cláudio Abramo)
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...