quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Para onde vai a economia

O tempo presente é oportuno para refletir sobre o futuro, especialmente sobre o futuro próximo, que nos imporá mudanças, quando tudo indica - teremos baixo crescimento



Guilherme C. Delgado*

Os ventos do terceiro trimestre de 2011, conforme dados apurados pelas contas nacionais do IBGE, esfriaram os ânimos do crescimento econômico, revelando relativa estagnação industrial e dos serviços, com crescimento trimestral em termos reais entre 0,3% e 0,1% relativo ao trimestre anterior. No conjunto o PIB cresceu 0,5% sobre o segundo trimestre.   
O país ainda concluirá o ano com crescimento ‘razoável’ de 3% ao ano, comparado ao desempenho internacional atual que está bem abaixo, principalmente na Europa; mas enfrentará 2012 com os vários problemas oriundos da recessão mundial, que já se manifestam também na economia brasileira.   
Os dados empíricos de curto prazo, contudo, dizem pouco sobre os rumos da economia brasileira relativamente àquilo que as pessoas sentem como “necessidades básicas”. Mas os rumos efetivos são estabelecidos pelo arranjo de política econômica, no seu sentido conjuntural; e pela estratégia de economia política no sentido clássico dos interesses contemplados na produção e repartição do bolo econômico.   
Por sua vez, conquanto o crescimento econômico contenha armadilhas à equidade social, o não crescimento, para um país que amargou duas décadas recentes de semi-estagnação (1983-2004), é algo que a sociedade observa com grande desconfiança.  A bem da verdade, a política econômica de conjuntura, quase que por estado de necessidade, precisa sinalizar e conduzir um crescimento mínimo no entorno dos 3% ao ano para 2012, sob pena de provocar uma cadeia negativa de mais problemas no emprego, na distribuição da renda pela política social, e também no precário equilíbrio externo (algo meio desequilibrado pela natureza das nossas relações estruturais). Por seu turno, a meta de inflação não é a prioridade quando a economia entra em processo de desaceleração.   
Não é por acaso que o Banco Central até que enfim vem conduzindo uma trajetória de queda na taxa de juros Selic, e que a presidenta Dilma, lembrando neste caso pronunciamento anterior do ex-presidente Lula em 2008, incentiva as famílias ao consumo corrente como antídoto à recessão.    Por outro lado, um dos motores que de certa forma conduziu a economia para uma nova inserção externa nos anos 2000, quando quadruplicaram as exportações – as chamadas commodities agrícolas e minerais - parece em franco processo de desaquecimento. Daí que a estratégia de longo prazo de crescimento, apoiada no comércio exterior de primários e no ingresso abundante de capitais semi-especulativos, também enfrentará os refluxos recessivos oriundos da crise externa.   
O tempo presente é oportuno para refletir sobre o futuro, especialmente sobre o futuro próximo, que nos imporá mudanças, quando tudo indica - teremos baixo crescimento. Nesse contexto, ajustamentos perversos pioram a situação e disso temos uma memória recente dos “ajustes” macroeconômicos aviados à época do Consenso de Washington, que infelizmente estão sendo aviados agora para a periferia européia.   
Mas há alternativas à crise de esperança que ora vive a Europa e em grande parte também os Estados Unidos. É possível, mesmo com baixo crescimento, concertar políticas públicas em favor de uma cesta de necessidades básicas – bens públicos, direitos sociais, melhorias da justiça etc. de amplo alcance coletivo, suscetíveis de se constituírem em verdadeiro vetor de demanda efetiva para recuperar qualitativa e quantitativamente a economia real.   
Quais necessidades básicas priorizar e como fazê-lo, no contexto de uma estratégia para enfrentar uma crise capitalista de longa duração, é provavelmente um debate que precisamos fazer com a maior urgência. 

*Guilherme C. Delgado é doutor em economia pela Unicamp e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz. 

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