O artigo a seguir é uma colaboração especial de Rodrigo Cardia*
Uma antiga vinheta da Rede Globo, veiculada em 1994, dizia que a emissora era “mais Brasil”. Há quem acredite nisso. Porém, uma análise crítica demonstra que antes de qualquer “patriotismo” o que vale mais para a Globo é o aspecto comercial. Prova disso são as coberturas totalmente opostas de duas edições do mesmo evento (Jogos Pan-Americanos).
Em 2007, os Jogos Pan-Americanos foram realizados no Rio de Janeiro. Durante praticamente os dias inteiros, a Rede Globo transmitia as competições e exibia boletins sobre o evento. Foi uma cobertura digna de Olimpíada, que a emissora não fizera no Pan de 2003, realizado em Santo Domingo (República Dominicana).
Quatro anos depois, uma nova edição dos Jogos Pan-Americanos acontece, desta vez em Guadalajara, no México. Nos primeiros dias de competições os atletas brasileiros já haviam obtido vários bons resultados. Mas não apareceram na Rede Globo. E não é porque o Pan é realizado fora do Brasil: como já foi dito, em edições anteriores à do Rio a emissora não deixava de falar sobre o evento, mesmo sem fazer uma cobertura como a de 2007.
O que acontece é que os direitos de transmissão para o Brasil do Pan de Guadalajara pertencem à Rede Record, e não à Globo, como ocorrera nas edições anteriores. E por conta disso, a emissora da família Marinho decidiu simplesmente “boicotar” o Pan 2011. Os Jogos são quase ignorados pelos programas esportivos da Globo.
Com isso, a Rede Globo demonstra não dar tanta importância ao esporte brasileiro como costuma dizer. O mais importante é não violar os interesses comerciais. Tanto no caso do Pan 2011 (a Record acusa a Globo de ter veiculado imagens dos Jogos sem dar os devidos créditos à emissora concorrente, conforme prevê o contrato de direitos de imagem) como em outras ocasiões:lembram de quando o antigo Sport Club Ulbra era chamado de “Canoas” em 2009, só porque a universidade, em crise, não era mais anunciante?
Ou seja: não se trata de uma novidade quando se fala de Globo, mas sim, de uma prática já “antiga”. Aí vemos alguns jornalistas esportivos dizerem que as empresas deveriam investir mais em esporte – só que quando elas o fazem, suas logomarcas são “escondidas” pela emissora de maior audiência no país. A não ser, claro, que decidam anunciar nela…
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A Record também comprou os direitos de transmissão dos Jogos Olímpicos – assim, a Olimpíada de Londres será também televisionada pela emissora de Edir Macedo. Teremos assim um novo “boicote” por parte da Globo?
* Rodrigo Cardia é historiador, diagramador do Jornalismo B Impresso e autor do blog Cão Uivador.
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