Fonte: www.dw-world.de
Entidade da ONU é a primeira a admitir Palestina como membro pleno – em protesto, EUA suspendeu apoio financeiro à Unesco. Mesmo diante de oponentes imbatíveis, estratégia palestina é manter-se no centro do debate.
A admissão da Palestina como membro pleno da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), marca, para os palestinos, um "momento histórico". Nesta segunda-feira (31/10) em Paris, a agência foi a primeira do sistema ONU a reconhecer a região autônoma do Oriente Médio, com apoio de 107 membros. "Este é certamente um momento histórico que dá à Palestina alguns de seus direitos", considerou Riyad al-Malki, ministro do Exterior da Autoridade Palestina.
"É um pilar político dentre os muitos que fazem parte da nossa batalha para ganhar a independência, e eu acredito que estamos mais perto dela do que nunca", comentou Sabri Saidam, conselheiro do presidente palestino, Mahmoud Abbas. Segundo ele, a admissão não deixa de transmitir uma mensagem a todos aqueles que se opõem à moção palestina no Conselho de Segurança, que pede a busca a aceitação do Estado da Palestina como membro das Nações Unidas.
Para Glen Rangwala, especialista da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, a adesão não muda muito a atual situação dos palestinos, mas tem caráter simbólico importante entre a comunidade internacional. "Essa admissão na Unesco não é muito significativa dentro do processo todo de reconhecimento do Estado palestino, mas aumenta a pressão dentro do Conselho de Segurança, de fato", disse em entrevista à Deutsche Welle.
Da lista de 185 países aptos a participar da votação desta segunda-feira em Paris, 173 manifestaram sua opinião: 107 votos a favor, 14 contrários e 52 abstenções - 12 não estavam presentes. Estados Unidos, Alemanha e Canadá estão entre os que se opuseram à entrada da Palestina na Unesco. Brasil, Rússia, China, África do Sul, França e Reino Unido declararam apoio aos palestinos.
Boicote econômico
Poucas horas depois da adesão plena da Palestina, os Estados Unidos anunciaram um boicote à Unesco. A contribuição de novembro, no valor de 43 milhões de euros, não será paga, informou o Departamento de Estado Norte Americano.
"Os Estados Unidos são claramente a favor da solução de dois Estados, mas o único caminho é por meio de negociações diretas e não há atalhos, e iniciativas como a de hoje são contraprodutivas", declarou David T. Killion, embaixador norte-americano na Unesco.
A Alemanha justificou seu voto contra alegando que o reconhecimento da Palestina pela Unesco pode prejudicar "o já difícil indireto diálogo" entre israelenses e palestinos, disse um porta-voz do Ministério do Exterior, em Berlim.
Israel disse que está reconsiderando sua cooperação com a organização. "Isto é uma tragédia para a Unesco... A Unesco lida com ciência, e não com ficção científica, porém a organização adotou a ficção científica como realidade", declarou Nimrod Barkan, embaixador israelense junto à Unesco, imediatamente à votação.
Em nota, o Ministério israelense do Exterior afirmou que essa manobra palestina, assim como outros passos dados em outras organizações da ONU, demonstra "rejeição aos esforços da comunidade internacional para o avanço do processo de paz".
"Não é esperado num futuro próximo que os Estados Unidos permitam que a Palestina seja aceita como membro pleno das Nações Unidas", observa Glen Rangwala. Por outro lado, o especialista acredita que a Palestina tem obtido bastante sucesso em sua estratégia: manter o tema "quente" – e na agenda da ONU.
A expectativa é que a Autoridade Palestina continue tentando "ganhar espaço pelas beiradas" e busque apoio em outras organizações do sistema das Nações Unidas – aquelas que não exijam, necessariamente, o consentimento dos Estados Unidos.
"Ninguém nega que a Palestina só será de fato um Estado independente quando houver a aceitação de Israel", pontuou Glen Rangwala. Para o pesquisador, as negociações efetivas de paz ainda vão levar tempo considerável e, até lá, os palestinos farão de tudo para que essas conversas "aconteçam em pé de igualdade".
Sobre o Conselho de Segurança recai a missão de analisar o pedido de reconhecimento do Estado Palestino feito por Mahmoud Abbas, em setembro último. No entanto o mundo já sabe que, caso o grupo decida aceitar a região como um país independente,os palestinos esbarrarão no veto dos Estados Unidos.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Francis França
Revisão: Francis França
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