FONTE: blogs.estadao.com.br
Após quatro dias de debates, painéis e conferências, terminou na sexta-feira, 27, em Campinas, o 7.º Colóquio Internacional Marx Engels, organizado pelo Centro de Estudos Marxistas da Unicamp (Cemarx). Foram selecionados para o encontro um conjunto de 240 trabalhos acadêmicos, que tratam da teoria marxista ou aplicam seus princípios na análise de fenômenos econômicos, sociais e políticos.
O número total de trabalhos inscritos chegou a 600, segundo o professor Armando Boito, da organização do evento. É um volume 30% maior do que o registrado na edição anterior do colóquio, em 2009, o que não dexia de curioso, considerando que muita gente proclamou a morte do marxismo após a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989.
Não é só aqui. No mundo inteiro aumenta o interesse pelo pensamento de Karl Marx (1818-1883), particularmente pelos volumes de O Capital, sua obra máxima. A explicação mais comum é a crise financeira mundial. A queda do banco americano Lehman Brothers, em 2008, e a sequência de fatos que ocasionou puseram em dúvida se o modelo de capitalismo liberal é mesmo capaz de dar conta de todos os problemas do mundo.
O professor Boito acredita que o interesse começou antes, em 1998, com as comemorações dos 150 anos do lançamento do Manifesto Comunista. A crise econômica teria dado mais força.
“Em países como Espanha, Itália, Grécia, Irlanda, os mais afetados pela crise, verificou-se o ressurgimento de organizações inspiradas nas teorias marxistas ou de orientação socialista”, disse o professor. “Verifica-se um renascimento, embora diversas correntes tenham declarado, de forma equivocada, a morte do marxismo em quatro ou cinco oportunidades.”
A declaração mais divulgada sobre o fim do marxismo foi a de Francis Fukuyama. Em 1992, em sua obra O Fim da História e o Último Homem, o cientista político americano sustentou que a luta entre os comunismo e o capitalismo, os dois grandes sistemas ideológicos que dividiam o mundo, havia chegado ao fim. O capitalismo vencera, inexoravelmente.
A discussão foi reaberta com a crise econômica, segundo o historiador e professor David Priestland, da Universidade de Oxford. “Com a crise, a crítica de Marx à desigualdade e à instabilidade provocadas pelo descontrolado capital global tem parecido presciente”, diz ele na apresentação do livroA Bandeira Vermelha – A História do Comunismo, da Editora Leya, que acaba de chegar às livrarias brasileiras.
Sua obra não se dedica à análise da teooria marxista, mas às formas que o comunismo assumiu ao longo da história, em diferentes partes do mundo. Analisa a União Soviética, a China, Camboja, Polônia e outros.
Para o autor britânico interessa sobretudo a maneira como os partidos utilizaram a ideologia. Analisa os fatos, as dificuldades, as razões que frequentemente empurraram para o totalitarismo projetos que haviam nascido com o sonho de um Estado onde nenhum homem seria subordinado a outro. ”As ideias de Marx podiam ser usadas para justificar programas amplamente diferentes”, diz o estudioso.
Quando o império soviético ruiu, no curso da perestroika de Mikhail Gorbatech, no final da década de 1980, não se encontrou ali nada da concepção visionária de uma sociedade na qual os deserdados da terra iriam criar uma sociedade baseada na harmonia e na igualdade. O Partido Comunista havia se transformado numa instituição comprometida exclusivamente em manter o poder e os privilégios de seus integrantes, segundo Priestland.
Para encerrar, uma última observação a respeito do crescente interesse pelas ideias de Marx: há quem afirme que está restrito apenas ao meio acadêmico e que vai continuar assim por muito tempo.
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