quinta-feira, 19 de julho de 2012
Campanhas
Toda campanha começa com um grupo de pessoas em torno de um candidato. Toda campanha carrega a esperança do sucesso.
Para ter sucesso uma campanha precisa conseguir o apoio de um número expressivo de eleitores
Toda campanha somente terá sucesso se conseguir o apoio de um número expressivo de eleitores, que corresponda à maioria dos eleitores (eleição majoritária), ou, pelo menos se aproxime do número fixado como quociente eleitoral (eleição legislativa).
É neste último aspecto que se localiza o problema de cada candidato: como multiplicar os apoios, a partir daquele pequeno grupo inicial, para um número suficiente de eleitores que permita ganhar a eleição.
É claro que me refiro primariamente àqueles que vão disputar uma eleição pela primeira vez. Mas os argumentos valem também para quem já se candidatou e não se elegeu, assim como para aqueles que buscam a reeleição.
Alem disso aplicam-se, com adaptações, sobretudo de escala, no caso tanto de eleições para o legislativo, como para o executivo.
O candidato começa então por reunir um grupo que o apoia e que se dispõe a colaborar na sua campanha. Qual o critério para formar este grupo?
Aqui começam os riscos das decisões tomadas. De fato, desde o momento em que uma pessoa decide concorrer a um cargo eletivo, todas as suas decisões terão seus custos e conseqüências.
Este grupo inicial naturalmente está constituído de pessoas próximas, unidas por vínculos de amizade, ou por um projeto comum, ou também por interesses comuns.
É comum que o candidato e seu grupo decidam buscar o respaldo político e eleitoral na categoria profissional a que pertence, na aparentemente óbvia suposição de que, eleito, será um representante da categoria a defender seus mais caros interesses.
Essa linha de raciocínio estratégico é antecedida do cálculo do numero de membros da categoria, multiplicado pelos familiares, com uma parcela adicional a ser buscada pelos amigos dos colegas. Por exemplo, suponhamos que a categoria tenha 60 mil membros. A primeira pergunta que feita é: Qual o percentual que pode votar no candidato? Neste ponto há várias hipóteses e naturais divergências entre os respectivos defensores.
Há os mais otimistas, e os mais pessimistas, mas acaba se por chegar a um número, digamos, neste exemplo, de 30% dos membros da categoria, o que equivaleria a 18.000 votos.
A discussão sobre esse número é concluída com a frase, usualmente dita pelo candidato: Menos que isso também não! A partir de então já se tem uma base 18.000. Ora esses 18.000 têm um cônjuge e filhos, assim que cada família tem em média algo em torno de 3 votos. A simples multiplicação já eleva a votação para 54.000 votos, os quais o candidato, num gesto impetuoso de realismo (!?) reduz para 50.000.
Muitas vezes se exagera na base percentual de votos a serem obtidos em uma categoria
Por fim há os votos avulsos, gerados pelos amigos, pela família, pelos vizinhos etc. que podem aumentar mais ainda aquela estimativa.
A cada eleição há um sem número de candidatos que escolhem essa trajetória. Alguns conseguem, mas a maioria fracassa.
Embora logicamente o argumento que a sustenta faça sentido, ele possui algumas falhas graves, que usualmente são desconsiderados.
Este argumento ganha em validade à medida que a categoria está em crise, insatisfeita, impotente para garantir o salário e as condições de trabalho que julga adequados.
Os partidos social democratas, do fim do século XIX e inícios do século XX, conquistaram grandes representações nas câmaras de deputados e assembléias porque os salários eram dramaticamente insuficientes para sustentar uma família, o Estado não mantinha serviços de saúde, educação, e emprego para os trabalhadores, e as condições do trabalho eram absolutamente desumanas.
Portanto, o argumento de que a categoria vai votar para eleger um representante seu faz sentido quando há grande insatisfação com a situação do trabalho, sua remuneração, e as garantias que oferece.
Nessas condições, o eleitor da categoria raciocina como membro da categoria.
Por outro lado, se a situação de vida é satisfatória, o eleitor da categoria tende a votar por outros critérios (partido, ideologia, candidato da região, simpatia, projetos etc).
Não se pode esquecer que cada um de nós é um polo onde incidem vetores, oriundos de todas as dimensões de nossa vida. Somos um feixe de tendências de votos diferentes e, em muitos casos, em oposição.
Sofremos a influência da família, dos amigos, do local onde vivemos, dos nossos princípios, do partido com o qual mais nos identificamos, das associações a que pertencemos, dos jornalistas e autoridades em que confiamos, das escolhas que já fizemos no passado, entre muitos outros vetores.
A identificação com a nossa categoria profissional é, como se vê, apenas mais um daqueles feixes. Se é assim, então porque tantos candidatos apostam no apoio de sua categoria?
Porque não fizeram este raciocínio, e porque é mais fácil e acessível apoiar-se neste grupo e terceirizar para ele a busca dos votos. Cuidado então, com a tentação de apoiar-se em sua categoria social ou outra variável acessível e próxima, de onde se busca votos com mais facilidade. Voto nunca é fácil. Conseguir voto dá trabalho. Voto se procura, se busca, se conquista um a um.
Nem sempre sua categoria social é garantia de voto "fácil".
Sobretudo em eleições legislativas, onde há uma grande quantidade de candidatos, eu costumo dizer que fazer campanha é garimpar votos entre eleitores desinteressados.
Não se questiona a correção da decisão de concentrar nos colegas de profissão o núcleo multiplicador inicial da futura campanha.
Um candidato novo precisa se apoiar num grupo que já o conhece, e, a partir dele, ampliar para o eleitorado geral o conhecimento de sua pessoa e de seus projetos.
Embora nossos colegas nos conheçam, em números muito mais expressivos do que a população em geral, não é aconselhável confiar-se demasiadamente na suposição da translação de conhecimento para intenção de voto, pelas seguintes razões:
• Como regra, somos muito menos conhecidos do que normalmente imaginamos;
• Para quem disputa pela primeira vez, é importante não esquecer que ser conhecido pela função atualmente desempenhada é manifestamente insuficiente para ter uma campanha competitiva;
• Dentre aqueles que o conhecem, haverá os que gostam de você, assim como os que não gostam;
• Mesmo seus colegas precisam de tempo e persuasão para poder vê-lo e aceitá-lo noutra posição, ou mesmo noutra carreira;
• Ser conhecido é o primeiro e maior desafio de qualquer candidato; é a base indispensável, o desafio inafastável de qualquer candidatura, para depois ser identificado, comparado, e, finalmente, ser lembrado, no dia da eleição, como o candidato escolhido;
• Como o número de candidatos de cada partido, e o total de candidatos à mesma função é desproporcional à capacidade de qualquer pessoa reter na memória, ser conhecido e, se possível pessoalmente, é o recurso mais valioso e eficiente da sua campanha;
Essas são algumas das principais razões pelas quais o investimento da campanha em tornar o candidato conhecido é decisivo. Reitero que mesmo entre colegas nunca se deve superestimar o seu grau de conhecimento.
A decisão de restringir o público alvo ao segmento profissional do candidato é correta para iniciar a campanha, por ser este grupo o potencial multiplicador inicial. Atente-se entretanto para o fato de que, muito dificilmente uma categoria profissional consegue coesão e força eleitoral suficiente para eleger um deputado. É absolutamente indispensável ampliar o leque de eleitores potenciais.
Texto enviado por E-mail pelo companheiro : João Rocha
Fonte: Política Para Políticos
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