sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O FIM DA INOCÊNCIA...OU O DESPERTAR DA CARETICE (Tavito)

Estão demolindo minhas preciosas utopias, nesses dias sombrios de recomeço secular. 

A credulidade que eu exibia com tanto orgulho, como estandarte solitário do último dos 

membros do Clube dos Otimistas, já perde seu espaço e suas cores para outras 

verdades mais vigorosas. Começo a acreditar que o "Novo" realmente existe, que não 

se trata de simples reedição de velhos comportamentos humanos vestidos de novas técnicas. 

Mas acredite: ainda ontem pensava de forma diversa. Foi tudo muito rápido. Na boa e 

velha escola onde se descortina o embate simplista entre o Belo Bem e seu eterno inimigo, 

o Feioso Mal, não me ensinaram a reconhecer as situações de desmando existencial que 

me são hoje impostas por todos os meios visíveis e invisíveis, num torvelinho de 

decadências desatreladas de qualquer princípio prático que o homem tenha elaborado 

em seus milênios de história. O começo e o fim se confundem num monte de formas escusas,

 onde se perde o sentido da atitude, da reação e da consequência. Desmontam-se hábitos 

seculares com uma simples frase absurda bem articulada pela mídia, criam-se pontos de 

referência em lugares onde não brilha a mais tênue manifestação de conhecimento, de 

amor ou de graça. O sentimento de impotência perante esta Nova Ordem é maior ainda 

se medido pela incrível sensação de solidão que ela traz em seus comandos – num grau que 

jamais se suspeitaria existir. Perguntará o leitor o porque do desabafo. Respondo a isso.

Tive a infeliz idéia de sintonizar meu televisor nos trejeitos de um punhado de idiotas que 

convivem e se esfoiceiam por uma razoável quantia em dinheiro, num espaço 

permitido na programação da maior rede de TV brasileira. O resultado é tão vil, tão 

decadente, tão obsceno (e não se confunda aqui o termo "obsceno" com os deliciosos 

pecadilhos do sexo aos quais estamos acostumados), que me faz visualizar em detalhes 

a grande derrocada final do homem e de toda a luz que dele emana. A violência 

estampada nesse formato é, talvez, maior que a das ruas. Ela nos caça em nossos espaços, 

ávida de seguidores, deixando no ar a sugestão de que "agora somos todos assim" e que 

tudo, sem exceção, nos é conveniente. Revestida de hipnótico oportunismo, ela penetra na 

juventude e na infância, sem distinção, desvirtuando e implodindo as raízes para que 

a árvore apodreça. 

E por sobre a grande mentira, gordos e roliços como porcos capões, os novos senhores do 

Belo Bem e do Feio Mal ronronam, babando seus copos de uísque rótulo azul, satisfeitos 

consigo e com sua obra miniaturizadora de almas, cientes de que tudo se compra, tudo se 

transforma com o poder do dinheiro – sobretudo num país de miseráveis como o nosso, 

um país sem alternância de opções, um país de "mesmos" a impor suas vontades à choldra 

estática. 

Como diria Drummond: se isto é ser moderno, prefiro ser eterno.

Tavito é maestro, cantor, compositor e publicitário no Rio de Janeiro. E autor de cancões 

inesquecíveis, como Casa no Campo.

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