segunda-feira, 28 de maio de 2012

Marchas das Vadias exigem fim de violências contra a mulher


Marchas das Vadias exigem fim de violências contra a mulher
Rio de Janeiro - Segurando cartazes a favor do aborto e contra o machismo, cerca de mil manifestantes (estimados pelos organizadores) pregaram o combate à violência contra a mulher durante a  Marcha das Vadias, realizada na tarde deste sábado (26), na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. De acordo com a Polícia Militar, os participantes foram 400.
A primeira Marcha das Vadias ocorreu em Toronto,  no Canadá, no ano passado, organizada por estudantes da universidade local, a partir da declaração de um policial que afirmou, em palestra no local, que o fato de as mulheres se vestirem como “vadias” poderia estimular o estupro.
Mulheres e homens se concentraram no Posto 4 da orla a partir das 13 horas e rumaram às 15h30 até a Praça do Lido, no Posto 2. Uma das organizadoras da marcha no Rio, Jandira Queiroz, disse que o objetivo dos protestos é chamar a atenção nacional para “um fenômeno muito negativo na nossa sociedade, que é o tamanho da violência sexual no país”.
Segundo Jandira, “já é tempo de a sociedade entender que, se o homem pode andar sem camisa,  por que as mulheres são chamadas de vadias e menosprezadas ou diminuídas no seu valor porque estão usando ‘uma roupa mais fresca’?
A militante disse que, com a democratização no Brasil e leis em defesa da mulher, como a Lei Maria da Penha, esperava que esse tipo de crime diminuísse. “Mas não é o que a gente vê”. Externou também preocupação com o movimento de conservadorismo que, na sua avaliação, está crescendo no país.
A engenheira agrônoma Renata de Prá destacou que o movimento é essencial para que as mulheres ocupem o seu lugar na sociedade. “Ser livre é um direito”, sustentou.
A manifestação contou com a participação intensiva dos homens. O médico Ricardo de Oliveira Blanco, disse que “a mulher tem o direito de se vestir como quiser. Isso não dá direito a ninguém de abusar sexualmente ou mesmo violentar  uma mulher alegando o jeito de ela se vestir”
A Marcha das Vadias ganhou este ano caráter nacional e ocorrerá simultaneamente hoje (26) em mais de 20 cidades do Brasil e do mundo. Entre as cidades brasileiras que realizaram o protesto estiveram Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória, São Paulo, São Carlos e Sorocaba (ambas no interior de São Paulo).
Na próxima edição, em 2013, a idéia é que a Marcha das Vadias tenha uma abrangência, “no mínimo, latino-americana", disse Jandira.  O movimento já é realizado em vários países, mas em datas diferentes. A meta é que haja uma data comum para a realização em todo o mundo.
A marcha defende ainda o combate a toda forma de violência e abuso sexual contra meninas e mulheres, e prega a diversidade sexual. “Nenhuma pessoa deve ser discriminada por sua orientação ou identidade sexual”, reforçou. Outra bandeira dos participantes é a descriminalização do aborto.

São Paulo

A versão paulistana da marcha teve concentração na avenida Paulista e saiu em passeata até a praça da República, no Centro. Segundo a PM, que acompanhou o ato, foram cerca de 700 manifestantes.
Com corpos pintados e levando cartazes como "mulher não se estupra, se conquista", “tire seu machismo do caminho” e “meu corpo, minhas regras”, homens e mulheres mostraram que é preciso debater formas de erradicar definitivamente a violência de gênero da sociedade. 
De acordo com a historiadora Gabriela Alves, que auxiliou na organização em São Paulo, o movimento não teve uma liderança centralizada e os participantes foram mobilizados pelas redes sociais, o que foi definido por ela como “organização horizontal”.
“Aqui em São Paulo, participam mulheres de diversos grupos feministas, GLBT [sigla de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros] e simpatizantes da causa. A participação é muito heterogênea, porque é uma marcha que gira em torno do corpo da mulher, da mulher livre e contra a violência sexual, por isso a empatia de um grande número de pessoas é mais do que natural e bastante espontânea”, disse Gabriela.

Brasília

Cerca de 3 mil pessoas compareceram à Marcha das Vadias hoje (26) em Brasília, segundo dados dos organizadores do protesto e da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). A quantidade de manifestantes foi aproximadamente cinco vezes maior do que a da marcha do ano passado. Munidos de buzinas, tambores, cornetas, cartazes e gritos de guerra, os manifestantes tiveram o objetivo de alertar a sociedade para a violência e o abuso sexual contra mulheres.
Na página do protesto no Facebook, principal meio pelo qual a Marcha das Vadias foi organizada, foram enfatizadas questões como a dignidade das mulheres, a divisão de tarefas domésticas, o direito à amamentação em público, a transexualidade e a homossexualidade feminina.
“Essa marcha luta pelo fim da violência física, sexual, psicológica e simbólica contra as mulheres”, disse a antropóloga Júlia Zamboni, 29 anos, que participou da organização da marcha desde a primeira edição, no ano passado.
A vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, Érika Kokay (PT-DF), esteve na manifestação e explicou que o principal efeito do protesto é dar visibilidade à questão, que deve ser discutida nas escolas para que não haja “revitimização” – processo em que as mulheres sofrem violência e ainda são culpabilizadas pelo abuso. “Queríamos e queremos direitos iguais. Se ser vadia é ser livre, então somos todas vadias”, afirmou a deputada.
Com reportagens de Alana Gandra, Flávia Albuquerque e Carolina Sarres, da Agência Brasil

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