sábado, 10 de setembro de 2011

GUERRA E PAZ

FONTE: www.cartamaior.com.br



Não há guerra inocente ou generosa. Qualquer guerra evidencia o fracasso humano em ordenar as relações entre as nações e dentro de cada nação sem recorrer à coação extrema  da morte em massa e da devastação selvagem. Nesse sentido, a guerra, paradoxalmente, enseja o impulso a reconstrução. Um critério para avaliar seu papel na história é o legado que ela deixa à paz. Observadas essas ressalvas, a reconstrução propiciada pela Segunda Grande Guerra fez do mundo, de fato, um lugar melhor para se viver. O sistema público de saúde de atendimento universal é um legado da experiência europeia de sofrimento nesse período. O SUS brasileiro é um filho em fraldas desse ideal de amparo entre iguais. A agenda da segurança alimentar,  que atribui ao Estado a obrigação de proteger os cidadãos da fome, é outro legado generoso dessa vivência. A FAO nasceu dessa percepção. O Fome Zero e o Bolsa Família são descendentes da mesma cepa. A organização sindical massiva dos trabalhadores, a liberdade de expressão, o ideário socialista de justiça e igualdade, a democracia social e a representação democrática dos conflitos sociais ganhariam proeminência a partir da relação de força consolidada na  luta contra o nazismo, que mobilizou as bandeiras liberais, democráticas, humanistas,  comunistas e desenvolvimentista. Grosso modo, o PT e Lula são a síntese mais expressiva desse vertedouro entre nós. Além da montanha desordenada de ruínas que soterrou as próprias instituições liberais norte-americanas sob os escombros do World Trade Center, do Iraque e do Afeganistão, mas também do entulho ético acumulado em Guantánamo e Ab Ghraib, o que mais se pode dizer do legado do ciclo iniciado em 11-09--2001 e que agora completa uma década?  A instrumentalização do terror, por certo, alçada  a doutrina de Estado,  é uma herança presente. Indispensável  tem sido o seu papel como amálgama de um tempo e de uma subjetividade dilacerados pela supremacia dos mercados autorreguláveis em detrimento da  democracia e do livre discernimento humano. A crise econômica mundial alinha-se, nesse sentido,  ao legado do 11 de setembro em endogâmica relação com seu poder de desagregação. Significa dizer que vivemos ainda sob as ruínas da guerra. Mas, sobretudo, que é hora da reconstrução. O lembrete quem nos traz é a própria crise ao evidenciar, em seu labirinto, que nenhum automatismo econômico fará isso por nós. Para discutir os rumos dessa difícil reconstrução, seus desafios e elos históricos com outro ato de terror, o golpe chileno de setembro de 1973, Carta Maior reuniu um denso leque de analistas no especial deste fim de semana:'Os dois 11 de setembro'. 

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