A mercadoria é um objeto que tem duplo valor: valor de uso e valor de troca, que é o valor propriamente dito. Se tenho, por exemplo, 20 quilos de café, eu posso consumi-los para meu uso próprio quanto trocá-los por 20 metros de tecido, por uma roupa,ou por 250 gramas de prata, se, em vez de café, eu precisar de uma dessas três outras mercadorias. O valor de uso da mercadoria se baseia na qualidade própria da mercadoria: se ela é para beber, para comer, ou para se divertir. Portanto, essa qualidade é determinada para satisfazer uma determinada necessidade nossa e não qualquer outra de nossas necessidades. O valor de uso dos 20 quilos de café é baseado nas propriedades que o café possui e estas propriedades são tais que nos dão à bebida café, mas não prestam para fazer uma roupa ou qualquer outra coisa. É por isso que só podemos tirar proveito do valor de uso dos 20 quilos de café se sentimos a necessidade de beber café. Mas se ao contrário, eu precisar de uma camiseta e não dos 20 quilos de café que tenho em mãos? O que fazer? Não saberíamos, se a mercadoria não tivesse também, junto com o valor de uso, o valor de troca. Encontramos agora uma pessoa com camiseta, da qual não tem necessidade, mas que precisa do café. Então fazemos uma troca. Eu lhe dou 20 quilos de café e ela me dá uma camisa… Mas, como podem as mercadorias de propriedade tão diferentes entre si, serem trocadas umas pelas outras em determinadas proporções? Porque a mercadoria, além do valor de uso, tem também o valor de troca. Isso já sabe. O que não sabíamos era que a base do valor de troca, do valor propriamente dito, é o trabalho humano necessário para se produzir esta mercadoria. A mercadoria é produzida pelo trabalhador. Portanto, o trabalho humano é a substancia procriadora; é o trabalho que dá a existência da mercadoria. Em sua essência, embora de propriedades tão diversas entre si, todas as mercadorias são a mesma coisa, perfeitamente iguais, porque são filhas de um mesmíssimo pai, tem todo o mesmíssimo sangue em suas veias. Se trocamos 20 quilos de café por uma camisa ou 20 metros de tecidos, é porque, para se produzir 20 quilos de café, precisou-se de tanto trabalho humano quanto para a produção de uma camisa ou de 20 metros de tecido. Trocou-se uma camisa pó tanto trabalho humano materializado nos vinte quilos de café, ou trocaram-se vinte quilos de café pó tanto trabalho humano materializado em uma camisa. Ou seja, trocou-se trabalho por trabalho. A substancia do valor da mercadoria está no trabalho humano e a grandeza deste valor é determinada pela grandeza do trabalho humano. Ora, se a substancia de valor é a mesma para todas as mercadorias e isto quer dizer que todas as mercadorias como veículo do valor são todas iguais e trocáveis entre si, o que nos resta, portanto, é comparar o tamanho dessa grandeza, medi-la.
A grandeza do valor depende da grandeza do trabalho; e qual é a medida do trabalho? O tempo: hora, dia, semana, mês etc. Em 12 horas de trabalho se produz um valor duas vezes maior do que se produziria em 6 horas. Daí, alguém poderia dizer que quanto mais lento fosse um trabalhador, quer por inabilidade, quer por preguiça, mais valor produziria. Nada mais falso do que esta afirmação, pois o trabalho de que estamos falando e que dá substancia ao valor, não é o trabalho de Pedro ou de Paulo, e sim um trabalho médio, que é sempre igual e que é propriamente chamado de trabalho social. É o trabalho que, em determinado centro de produção, pode ser feito em média por um operário, o qual trabalha com uma habilidade média e uma intensidade média. Conhecido o duplo caráter da mercadoria, isto é de ser valor de uso e valor de troca, compreendemos que a mercadoria só pode nascer por obra do trabalho, e de um trabalho útil a todos. Por exemplo, o ar, os prados naturais, a terra virgem, etc., são úteis ao homem, mas não constituem nenhum valor, por que não são produtos de seus trabalhos e, consequentemente, não são mercadorias. Também podemos fabricar objetos para nosso próprio uso, mas que não podem ser úteis a outros; nesse caso não produzimos mercadorias; do mesmo modo não produzimos mercadorias quando trabalhamos com coisas que não tem nenhuma utilidade nem pra nós, nem para os outros. As mercadorias, pois são trocadas entre sim; uma se apresenta como equivalente da outra. Para maior facilidade das trocas, começa-se a empregar uma determinada mercadoria como equivalente para todas as outras. Esta mercadoria se destaca do conjunto de todas as outras para se colocar a frente a elas como equivalente geral, isto é, como dinheiro. Por isso, o dinheiro é aquela mercadoria que, pelo costume por determinação legal, monopolizou o posto de equivalente geral. Assim o dinheiro, a moeda, chegou até nós através da prata. Enquanto antes, 20 quilos de café, uma camisa, 20 metros de tecido e 250gramas de prata eram mercadorias que se trocavam indistintamente, hoje, ao contrário, tem-se que 20 quilos de café, uma camisa e 20 metros de tecido são três mercadorias que valem cada uma, 250 gramas de prata, por exemplo, 500 reais. Mas, através das mercadorias diretamente, seja através do dinheiro, a lei de trocas permanece a mesma sempre. Uma mercadoria só pode ser trocada por outra se o seu valor de troca for igual. Isto quer dizer que se uma mercadoria não tiver o mesmo tempo de trabalho que a outra não há troca. Esta só acontece entre trabalhos iguais. E tudo o que vamos dizer de agora em diante é baseado nela, nessa lei de trocas de mercadorias.
Com a chegada do dinheiro, da moeda, as trocas diretas ou imediatas de uma mercadoria por outra desaparecem. Agora as trocas devem ser feitas através do dinheiro. Desse modo, qualquer mercadoria que queira se transformar em outra, deve, antes, de mais nada, como mercadoria, transformar-se em dinheiro, retransformar-se
em mercadoria. Portanto, o esquema das trocas não será mais uma cadeia de mercadorias – uma abóbora x uma melancia x um pão – e sim, uma cadeia de mercadoria e dinheiro.Ei-la:
em mercadoria. Portanto, o esquema das trocas não será mais uma cadeia de mercadorias – uma abóbora x uma melancia x um pão – e sim, uma cadeia de mercadoria e dinheiro.Ei-la:
Mercadoria – dinheiro – mercadoria – dinheiro
M - D - M - D
Ora, se nesta formula assinalamos os giros que a mercadoria realizou, assinalamos também os giros do dinheiro. Como veremos, é desta formula que sai a formula do capital. Quando temos em nossas mãos, uma certa quantidade de mercadorias ou de dinheiro,o que no caso vem a dar no mesmo, somos,possuidores de uma certa riqueza. Se a gente pudesse dar a esta riqueza um corpo, que é um organismo que se desenvolve, que se alimenta, então teríamos o capital. Ter um corpo ou organismo capaz de se desenvolver significa nascer e crescer. É nesse desenvolvimento que a origem do capital parece desaparecer, na natureza possivelmente fecunda do dinheiro. Mas de que maneira nasce o capital?
Naquela formula que assinala os giros da mercadoria e do dinheiro, vamos acrescentar ao dinheiro um numero que indica seu aumento progressivo:
Dinheiro – Mercadoria – Dinheiro 1 – Mercadoria – Dinheiro 2 – Mercadoria – Dinheiro 3 …
E é exatamente essa a formula do capital: D - M - D1 - M - D2 - M - D3 …
Como vimos, a resposta ao problema (encontrar um método de fazer nascer o capital) estava contida na resolução de outro problema: encontrar uma formula de fazer aumentar progressivamente o dinheiro.
E como o capitalista consegue isto? É o nosso próximo capitulo.http://opiniaosocialista.wordpress.com/parte-2-como-nasce-o-capital/
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