quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

As máscaras do “Cansei” genérico



A intolerância social, sexual e política que experimentamos nos dias de hoje ainda é a herança imposta a várias gerações que cresceram e se formaram sob as mordaças da ditadura militar. Está presente na direita, na extrema esquerda e, mais ainda, nos que garantem ser apolíticos ou apartidários.
Os intolerantes de direita continuam sendo os mesmos: aquele percentual que não chega a dois dígitos do conjunto social há um bom tempo. Seus ícones-gurus são, por assim dizer, adversários honestos. Como nós, dão a cara a tapa; você sabe onde estão, para quem trabalham e como manipulam a opinião pública. Já os desmascaramos várias vezes e continuaremos a fazê-lo.
Imagine o espectro político como um círculo. Nele, os extremos ideológicos se encontram e muitas vezes descobrem interesses comuns. É o caso do PSOL e do DEM. Não se pode afirmar que Heloísa Helena seja uma fascista. Saiu do PT porque o PT se aproximou ao centro, fez alianças e, assim, viabilizou seu projeto de governo. Heloísa não gostou da mistura e cuspiu no prato que comeu.
A associação do PSOL e DEM no combate ao “inimigo” comum resultou, por exemplo, na extinção da CPMF em 2008. Minorias estagnadas ou em franca decadência, seus eleitores não representam perigo algum para o projeto de governo encabeçado por Dilma Roussef.
Perigosos mesmo, são os que se dizem apolíticos ou apartidários. Gente que está, consciente ou não, a serviço da ultra-direita fascista. Estes, sim, estão em franca ascenção nas redes sociais e portais da Internet. Usam diversas máscaras. Repare naquele tipo cético, indignado, decepcionado com tudo à volta. Entra em qualquer roda – e o papo é mais ou menos o mesmo: “político é tudo ladrão, tem que fuzilar todos”, o clássico “este país não tem jeito – acorda Brasil” etc. Não conseguem formular uma frase que não tenha palavras como “corruptos” e “corrupção”. O curioso em relação ao estigma da corrupção é que não se interessam pelo sujeito oculto: o corruptor. Não mencionam nomes, generalizam para não revelarem seu propósito. Quando se referem ao passado com discreto saudosismo, recuam de 2002 direto para ditadura – sem escalas no mandato de FHC. Lamentam reconhecer que sob o regime militar “político ladrão não tinha perdão: morria em vala rasa”. Para não parecerem completos alienados, têm pequenos surtos de informação política e se aventuram em citar Fidel Castro ou Hugo Chavez em suposta conspiração comunista sob a “conivência da nossa imprensa” – como quem acha pouco ou nenhum o golpismo diário do PiG. 
“Cansamos”, “Basta de”, “Fora os”… são expressões presentes na maioria de seus banners. A tática não é propor solução nem destacar algum político “bom”, mas desmoralizar TODA a classe política que aí está. Em sua lógica surreal, fica sub-entendido que depois de fuzilarmos os ocupantes do Palácio do Planalto, do Congresso e da Câmara, e varrermos assim toda a corrupção que nos corrói, o povo iluminado pela “nova era” descobrirá, espontaneamente, que ainda tem gente boa para nos governar. Quem? Ora, todos que não nos governam atualmente. Certo? Deixa eu adivinhar: Agripino Maia, Maluf, Serra, Kassab, Bolsonaro… Quem sabe o Tiririca – pior do que está não fica?
Todos conhecemos alguma pessoa que não liga pra isso, esse negócio de política. Gente que não dá a mínima, que não acredita nem se interessa por política e políticos. Uns são religiosos, outros praticam aeróbica. Uns são músicos, outros intelectuais. Uns viajam, outros meditam. Uns tem muita grana, outros nenhuma… Para um apolítico, não importa quem governa: sua vida segue sempre igual.
Mas quando alguém decide reunir um grupo para reivindicar, protestar ou difundir uma causa ou palavra de ordem, seja no condomínio onde mora, no seu bairro, ou nas redes sociais – estará fazendo política. Mesmo que não se dê conta disso.
Outro dia segui uma amiga no Facebook e cheguei a um grupo que propunha fazer abaixo assinado para “acabar com os corruptos que mamam nos impostos provenientes do nosso trabalho suado”. Ok, até aí eu concordo. Mas por que não citam nomes? Eis o x da questão! Deixam isso pro visitante “descobrir”. O dono do pedaço usa um avatar com aquela máscara do Anonymous e prega o voto nulo. Discordei, argumentei com o Zé Mané mascarado que não está certo fazer campanha para o voto nulo. Porque o voto é a única arma que temos para mudar as coisas, que é preciso distinguir os bons e maus políticos… 5 minutos de debate e o mascarado já me “acusava” de petista, comunista, de estar sendo pago pra falar bem do governo etc.
Aí me dei conta de que andei incorporando “amigos” no Facebook sem saber quem eram de fato. Me dei conta também, que a nova tática da direita é acusar a espécie política, o genérico. Porque só assim conseguem atacar o PT. Porque os governos de Lula e Dilma são muito bem avaliados e de fato alavancaram o Brasil de cabo a rabo, dos bancos às favelas. Porque nem a imprensa deles tem como omitir e o jornalista tem que fazer uma ginástica enorme, criar factóides sem fundamento pra desmerecê-los. Lembrei de como a campanha de Serra evitou atacar Lula.
O movimento “Cansei” não cansa nunca. É um camaleão grotesco que se apropriou da máscara alheia.
Aliás, será que os verdadeiros hackers do Anonymous não pensaram que QUALQUER pessoa do planeta pode usar essa máscara e se fazer passar por eles? Se amanhã eu formar um grupo que se reúne aos sábados pra jogar boliche e usarmos essas máscaras, como saberão se somos ou não os hackers que invadem e derrubam o site do Pentágono? E mais: o que faz um fascistóide pensar que seus “ideais” são os mesmos do verdadeiro Anonymous?

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