segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Estagiários são demitidos por protestarem contra Alckmin

Integrantes da Fundação Seade, vinculada ao governo do estado de São Paulo, perderam o trabalho por gritarem “Pinheirinho” e “Assassino” ao governador
09/02/2012
Aline Scarso,
da Redação

Uma manifestação contra o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) por causa da reintegração de posse do Pinheirinho rendeu a demissão de quatro estagiários da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) no último dia 30.
 Veja vídeo com depoimentos dos estagiários demitidos
O órgão, vinculado à Secretaria Estadual de Planejamento e Desenvolvimento Regional do estado, recebeu a visita surpresa do governador no último dia 26. Segundo contam os demitidos, uma dezena de estagiários do prédio localizado na Avenida Cásper Líbero, em São Paulo (SP), manifestaram-se de forma espontânea contra a presença de Alckmin no local.
Aos gritos de “Pinheirinho” e “Assassino”, os manifestantes conseguiram ser ouvidos pelas pessoas que estavam na calçada do prédio, onde o governador posava para as fotos e se preparava para deixar o local. “Mais pessoas foram às janelas, mas supostamente só os estagiários do 7º andar foram vistos gritando”, conta Wallace de Andrade, um dos demitidos.
“A nossa intenção era de que o governador soubesse que lá havia pessoas que estavam indignadas com o que estava acontecendo, mas a gente não combinou nada”, explica Mona Perlingeiro, outra demitida.
Os gritos causaram alvoroço entre supervisores e a diretora executiva do órgão, Felícia Reicher Madeira. Segundo os demitidos, Felícia, que é mulher do ex-deputado federal Arnaldo Madeira (PSDB), disse que ficou chocada com o ato dos estudantes. “Ela perguntava: ‘Por que vocês estão chamando Geraldo Alckmin de assassino? Ele é uma pessoa maravilhosa’”, conta Mona.
“A gente não falou da pessoa do Geraldo Alckmin, mas questionamos as políticas do governo PSDB com Pinheirinho, cracolândia, USP”, complementa.
Além de Mona e Wallace, os estudantes Danielson Ramos de Oliveira e Leandro Alves de Souza perderam o trabalho por causa da manifestação. Todos cursam Ciências Sociais. Wallace e Daniel na USP (Universidade de São Paulo) e Mona e Leandro na Unifesp. Na carta de demissão que receberam, foi alegado que eles cometeram um ato doloso contra a imagem e reputação do Seade.
Perseguição?
“As pessoas que estavam na sala no momento em que a diretoria chegou era muito maior que nós quatro. Tinha umas dez pessoas lá, e a maioria havia se manifestado”, afirma a estagiária, que busca saber por que apenas ela e os três colegas foram demitidos.
Por meio da assessoria de imprensa, a Fundação Seade informou que “as decisões foram tomadas com base no campo estritamente administrativo” e que “o fato de qualquer transeunte ser ofendido por pessoa ligada à Fundação, a partir de suas dependências, é motivo de desligamento”.
A Fundação não respondeu, entretanto, qual critério utilizado para demitir quatro e não todos os manifestantes.
Já os estudantes suspeitam de que houve perseguição política. Wallace e Danielson, por exemplo, acreditam que o fato de serem dois dos 73 estudantes presos por causa da ocupação da reitoria da USP, em 8 novembro de 2011, tenha motivado a demissão.
Wallace no momento em que deixa a reitoria.
Em um dos cartazes lê-se os dizeres "A luta é social"
“O governo do PSDB vem reprimindo as manifestações populares feitas por pessoas insatisfeitas com as políticas por ele implantadas”, afirma Wallace. A prisão dele, segundo o estudante, chegou a ser comentada durante a reunião com a diretoria e supervisores.
“Outra coisa que deve ter causado nossa demissão é a insatisfação com o trabalho”, explica Leandro.
Segundo essa tese, Leandro e Mona podem ter sido cortados por questionarem constantemente a supervisão sobre o tipo de trabalho realizado pelos estagiários. De acordo com eles, as tarefas que executam na Fundação Seade não têm relação alguma com o curso de Ciências Sociais, o que contraria a Lei do Estagiário (Lei 11.788).
Eles contam que o trabalho lembra o de um telemarkting. Mensalmente, eles precisam ligar para cerca de 150 pequenas e microempresas e coletar dados como faturamento, número de sócios e funcionários e folha de salário.
Além disso, os estudantes denunciam que não possuem acompanhamento do trabalho por profissional da mesma área de formação e as atividades não contribuem para a competência acadêmica. 
Indagada sobre as denúncias de violação da Lei do Estagiário, a Fundação Seade preferiu não comentar.

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