Washington Araújo, via Carta Maior
Há muito vivemos o dilema do tempo futuro. Ele sempre consegue nos surpreender, pois os tempos são céleres, tudo vira logo passado. Mas as consequências do “antes de ser passado” vigoram por longo tempo. É neste contexto que o espaço de 20 anos pode representar o surgimento, desenvolvimento e até mesmo o desuso de um novo produto. Em duas décadas, o nascimento e o auge de uma nova empresa caminham paralelamente ao declínio de outra. Um exemplo prático: em 1984, ano do início da era do videocassete, os computadores pessoais praticamente não existiam. Como consequência, ainda não existiam as megacorporações da internet como a Microsoft.
Hoje podemos nos perguntar: o que nos reservam os próximos 20 anos? Podemos responder de duas maneiras. Como cidadãos resta-nos aproveitar o boom tecnológico para alcançarmos os meios de cura para algumas doenças, para melhorar nosso dia a dia e também para implementar inúmeras formas de lazer. Uma outra maneira é termos como ponto de partida o nosso país.
Neste caso, torna-se inadiável planejarmos as ações para atuar competitivamente no mercado mundial e garantir um futuro que inclua a disponibilidade de emprego, saúde e qualidade de vida para nossa população.
Com certeza, as duas maneiras passarão, inevitavelmente, pela chamada “revolução nanotecnológica”. Para muitos, o próprio termo nanotecnologia é algo estranho, difícil de apreender. O prefixo “nano” surge das dimensões dos objetos investigados, com tamanhos da ordem de até alguns nanômetros, trocando em miúdos, algo com dimensões de um milionésimo de um milímetro (1 nm = 10-9 m). Para termos uma noção adequada nada como pensarmos que a ponta da esfera de uma caneta esferográfica – que tem 0,8 mm de diâmetro – pode conter nada menos que 60 bilhões de partículas de 10 nanômetros. E é aí que mora o perigo (ou seria o desafio?): para estudar objetos nanométricos há de se dispor de equipamentos modernos, caros e sofisticados, e técnicas de preparação muito específicas para conseguir controlar o tamanho das partículas em uma escala de tamanhos tão pequenos.
É fato que os cientistas brasileiros têm, hoje, plenas condições de contribuir com pesquisas de ponta em nanociência, pois, uma vez bem equipados, devem disputar com a comunidade internacional fundamentalmente no campo das ideias. E, bem o sabemos, novas ideias e novos resultados em ciência básica têm efeito avassalador e imprevisível, incluindo, provavelmente, a inovação tecnológica, que, por sua vez, gera riqueza através de novas empresas, novos empregos etc. Para que o Brasil enfrente o desafio, é urgente a criação de um “círculo virtuoso” através de uma ação coordenada que englobe o governo, as universidades, os centros de pesquisa, empresas e o setor produtivo em geral.
O bom de tudo isso é que a revolução nanotecnológica encontra-se ainda em sua infância. E o Brasil pode e deve participar ativamente, inovando nesse campo. Um bom começo é constatarmos ser necessária uma mudança de mentalidade do governo e dos empresários brasileiros. Em todos os países ditos do primeiro mundo, a transformação das ideias em produtos ocorre principalmente nas empresas que, por sua vez, investem grandes somas de dinheiro em pesquisas científicas, sejam básicas ou aplicadas. Muitas vezes esse dinheiro retorna apenas em longo prazo, pois diversas vezes as pesquisas não se transformam em tecnologia, e o dinheiro investido parece ter sido “a fundo perdido”.
Algo muito positivo é o fato de que o Brasil, de acordo com o Plano Plurianual 2004-2007, dispõe do programa “Desenvolvimento da Nanociência e da Nanotecnologia”. O programa possui quatro ações básicas: a implantação de laboratórios e redes de nanotecnologia, o apoio a redes e laboratórios de nanotecnologia; o fomento a projetos institucionais de pesquisa e desenvolvimento em nanociência e nanotecnologia.
Mas o que pensam sobre a nanotecnologia no Brasil? Uma pista está na pesquisa informal feita pelo consultor Ronaldo Marchese, da RJR Consultores, que ouviu algumas das principais empresas brasileiras, incluindo algumas filiais de multinacionais. As respostas mais ouvidas sobre nanotecnologia foram: 1) A nossa diretoria achou que esse assunto ainda é muito “novinho”; 2) é um tema futurista; 3) Não conhecemos o assunto. Ao mesmo tempo, notícias confiáveis dão conta que os investimentos mundiais em nanotecnologia ultrapassarão US$80 bilhões até o fim de 2005. Tanto interesse se justifica pelas projeções de que os produtos elaborados a partir da nanotecnologia movimentarão recursos em torno de US$1 trilhão.
Feitas estas considerações, não podemos ficar paralisados e aproveitar os próximos 20 anos realizando centenas de reuniões para concluirmos que temos que embarcar no futuro… hoje. Harald Fuchs, diretor do Centro de Nanotecnologia da Universidade de Munster, na Alemanha, foi claro: “O mundo está diante da promessa de uma nova Revolução Industrial, que introduzirá, até 2008, produtos mais baratos, recicláveis e de fabricação simples.”
Estamos em 2012, será que isto aconteceu?
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