quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Candidato a São Paulo ou à presidência da República?

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Pela carta entregue ao diretório municipal tucano de São Paulo já sabemos: José Serra é candidato à presidência da República. E não a prefeito da cidade.

Serra deve prestar contas do que fez na cidade e por que a abandonou depois de 15 meses de gestão. Fora o fato que tinha se comprometido - em cartório - a não deixar o mandato, tem, ainda, que prestar contas dos 6 anos e 9 meses de governo de Gilberto Kassab, com apoio integral do PSDB e seu próprio enquanto foi governador. 

Deve explicar, ainda, sobre o que pretende fazer no governo da cidade - e não no Brasil. Serra precisa garantir aos eleitores e cidadãos de São Paulo que não vai abandonar a cidade de novo. Ou que vai usar o mandato de prefeito como escada para disputar a presidência da República. E que, tampouco, ficará viajando pelo Brasil na condição de pré-candidato ao governo federal.

Hora de pré-campanha


Da nossa parte, a tarefa, agora, em São Paulo, é fazer a pré-campanha, como Fernando Haddad já está fazendo há mais de 50 dias. É hora de percorrermos os bairros da cidade e apresentarmos as soluções para a realidade do dia a dia do paulistano e da cidade, consolidando seu nome dentro do PT e nos movimentos sociais que nasceram e cresceram conosco.

Os movimentos sociais, aliás, são a razão de ser do PT e a raiz de nossas políticas públicas de saúde, educação, transportes, justiça e segurança. São também a fonte da nova visão da cidade, do seu crescimento sustentável e justo, com distribuição de renda e serviços públicos de qualidade.

Queremos para São Paulo que ela seja uma cidade do século XXI, onde haja acesso a cultura, lazer e esportes. Onde os espaços públicos e a mobilidade não se limitem a privilégio de alguns. Buscamos construir uma cidade de serviços e um grande centro cultural e de convivência de todos brasileiros e estrangeiros que a amam e nela vivem. Agora é hora de construirmos as alianças com nossos parceiros no primeiro e no segundo turnos.

Foto Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

‘Um regime sem legitimidade busca se precaver contra o povo’


Desde as intensas manifestações populares após as eleições presidenciais de 2009, o regime iraniano tem aumentado a repressão contra a mídia, ativistas de direitos humanos, minorias religiosas e étnicas e manifestantes antigoverno. É o que aponta um relatório da organização Anistia Internacional, para quem o cenário de tolhimento da liberdade de expressão piora drasticamente conforme a eleição parlamentar, a ser realizada em 2 de março, se aproxima.
O levantamento “We are ordered to crush you”: Expanding Repression of Dissent in Iran(“Somos ordenados a reprimí-lo”: Aumentando a repressão a dissidentes no Irã, em tradução literal), aponta uma escalada nas prisões de indivíduos críticos ao governo nos últimos meses, incluindo ao menos dez jornalistas, escritores e blogueiros.
Segundo a Anistia Internacional, o regime vem alterando o Código Penal do país para tornar manifestações, debates públicos e a formação de grupos e associações vistas como “ameaça à segurança nacional” passíveis de longa penas de prisão e até mesmo condenações à morte.
Reginaldo Mattar Nasser, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e especialista em relações internacionais, afirma que o governo autoritário do presidente Mahmoud Ahmadinejad vem perdendo legitimidade e tenta garanti-la ao valer-se, por exemplo, de tensões internacionais com Israel e EUA para se fortalecer internamente.
“O regime utiliza-se de mecanismos internos para coibir possíveis manifestações em uma atitude comum, pois todo governo em crise de legitimidade teme as reações da população e busca se precaver”, diz.
Preocupado com uma possível repetição dos vazamentos de vídeos da repressão na internet em 2009 e com o uso de redes sociais para organizar passeatas, o Irã estabeleceu a Polícia Cibernética. O novo órgão, afirma o levantamento, exigiu que os donos de cyber cafés instalassem câmeras de vigilância e registrassem a identidade de clientes antes de permitir que usem os computadores, para facilitar o reconhecimento de possíveis críticos do regime.
Além disso, há medidas para limitar o acesso à internet e penalizar, com duras sentenças, indivíduos que escrevam em sites ou blogs pessoais. O blogueiro Mehdi Khazali, aponta a Anistia, foi sentenciado em fevereiro deste ano a quatro anos de prisão, seguido de um período de 10 anos em “exílio interno” (ele não pode sair do país), além de multas por acusações como “espalhar propaganda contra o sistema” e “insulto a oficiais”.
De acordo com o pesquisador, a tentativa de controle de informações capazes de chegar a exilados em outros países demonstra que o governo tenta se fechar a interferências e à relação com o exterior, limitando o acesso da sociedade civil a esse universo. “Isso indica a complexidade de elementos envolvidos na sociedade iraniana e seu governo, que vão além da definição de um regime autoritário.”
Para o analista, a criação de leis para atender aos interesses de Teerã é típica de “qualquer governo autoritário, independentemente de ser secular ou teocrático”. “Temos o exemplo do próprio Brasil, não há nada de novo nestas atitudes para um regime deste tipo.”
Em meio ao tolhimento da liberdade de expressão e encarceramento de indivíduos a agir contra as definições do governo, Nasser acredita que uma crítica em tom de coerção da comunidade internacional, focada principalmente na figura dos EUA, seria vista por Teerã como um princípio intervencionista e poderia apresentar efeito adverso. “Isso não quer dizer que os países não possam se manifestar  individualmente contra esse movimento.”
“Sanções econômicas também não são uma opção, pois prejudicam mais a sociedade que o governo”, completa.
Direitos humanos e prisão
O assédio e a prisão de defensores de direitos humanos, incluindo grupos de causas pelas mulheres, além do fechamento de diversas ONGs. A criminalização do contato com mais de 60 instituições estrangeiras também é alvo de criticas da Anistia Internacional.
A entidade cita o caso de Abdolfattah Soltani, fundadora e integrante do Centro para Defensores de Direitos Humanos, presa desde setembro e a espera de um julgamento que pode condená-la a 20 anos de detenção por, entre outros “delitos”, ter aceitado prêmios internacionais de direitos humanos.
O relatório indica que em 2011, a Justiça iraniana condenou cerca de quatro vezes mais pessoas a execuções públicas, incluindo três infratores juvenis. Além disso, o país continua a realizar amputações como punição e a criminalizar relações sexuais fora do casamento.
De acordo com o levantamento, dezenas de presos políticos foram torturados, detidos de forma arbitrária ou banidos de viajar ao exterior. Há relatos de casos de espancamento, “penduramento” de ponta cabeça, queimaduras de cigarros e com objetos de metal aquecidos e estupros, além de acesso adequado à água e comida negado nas cadeias.
A Anistia Internacional afirma ainda que a maioria dos julgamentos no país, principalmente os realizados em instâncias especiais como a Corte Revolucionária, acontecem a portas fechadas, muitas vezes com advogados negados aos réus e sentenças proferidas em minutos.
Os indivíduos condenados que protestam contra a injustiça, tortura ou condições da prisão são enviados a presídios distantes como punição.

E a intolerância, tem cura?


FONTE: movimentocontestacao.blogspot.com


Este tema, o da intolerância, já foi abordado pela blogueira Jeanne Callegari nesta semana. Mas quis falar novamente sobre isso porque sempre que penso que não irei mais me surpreender com idéias estapafúrdias e preconceituosas, eis que surge na TL do meu Facebook a notícia de que parlamentares evangélicos pretendem legalizar a “cura gay” .

Projeto Cura Gay. Charge do cartunista Alpino/Yahoo.


Senti como se tivéssemos voltado à Idade Média. Um retrocesso sem precedentes. A gente espera discursos (não espera, mas acaba se “habituando”) como este de pessoas intolerantes. Mas quando falo de pessoas intolerantes, falo de cidadãos comuns, de gente que não vota em projetos de lei. Gente que não tem diretamente nas mãos o poder de decidir por todos. É assustador que algo tão absurdo esteja em tramitação no congresso e que talvez, seja legitimado oficialmente.
Sendo o Brasil um Estado Laico, ou seja, um estado com liberdade de culto e de crença, por que dogmas e valores religiosos – mas apenas os cristãos, que fique claro – devem influenciar os direitos dos outros? Qual o intuito da bancada evangélica ao querer alterar uma resolução do Conselho Federal de Psicologia?
Não é de hoje que parlamentares religiosos tentam ter controle absoluto sobre as nossas leis, incluindo nestas adendos que favorecem diretamente aos seus interesses. Várias esferas e grupos sociais, sobretudo as minorias, acabam sucumbindo a estes interesses e, consequentemente, perdem a pouca representatividade política que tem. Bem justo isso, né?
Este é um ano de eleições. Municipais, é verdade. Mas por essas e outras razões que temos que ter cuidado com quem a gente escolhe, temos que pensar muito bem. Procuremos candidatos que valorizem as pessoas pelo simples fato de serem humanos. Candidatos que tenham propostas que visem acabar com preconceitos. E não promover toda uma campanha pautada pelo ódio e pela ignorância.
É importante que tod@s nós manifestemos o nosso repúdio em relação ao projeto supracitado. O respeito à dignidade humana não depende de orientação sexual. Tampouco de religião ou de crença. É questão de cidadania. Se você é heterossexual e realmente acredita que homossexualidade não é normal ou correta, reveja muito bem os seus conceitos. A doença mais grave que aflige a nossa sociedade é a intolerância. E se nada for feito, desta irá padecer até arruinar-se por completo. Será que ainda tem cura para isso?

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Jornal desmascara Yoani Sánchez e revela como blogueira frauda seguidores nas Redes Sociais


Fonte: www.pragmatismopolitico.com.br

Yoani Sánchez Cuba Mentiras Farsa

Yoani Sánchez já recebeu o equivalente a 1.488 anos de salários mínimos cubanos por sua atividade opositora. Dinheiro suficiente para viver tranquilamente em Cuba até o resto de sua vida


O influente diário mexicano La Jornada publica um texto do professor e jornalista francês Salim Lamrani, que demonstra a falsa liderança da blogueira Yoani Sánchez na rede social twitter, alcançado não por seguimento natural de audiência, mas pela intervenção de tecnologias e grandes somas de dinheiro.
A quarta parte dos partidários de Yoani no twitter são fantasmas sem seguidores ou “mudos” que jamais escreveram um tuiter. Em junho de 2010, a blogueira chegou a ter, em um único dia, 700 novos adeptos, o que só é possível através de robôs de software – já que ela diz que tem acesso à internet apenas via celular ou a por uma conexão semanal em um hotel.

Quem está por trás de Yoani Sánchez?

Salim Lamrani
Yoani Sánchez, famosa blogueira cubana, é uma personagem peculiar no universo da dissidência cubana. Nenhum opositor foi beneficiado a exposição midiática tão massiva, nem de um reconhecimento internacional semelhante em tão pouco tempo. Após emigrar para a Suíça em 2002, ela decidiu retornar a Cuba dois anos depois, em 2004. Em 2007, integrou o universo de opositores a Cuba ao criar seu blog “Generación Y”, e se torna uma crítica feroz ao governo de Havana.

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Nunca um dissidente cubano – muito menos no mundo – conseguiu tantos prêmios internacionais em tão pouco tempo e com uma característica particular: deram a Yoani Sánchez dinheiro suficiente para viver tranquilamente em Cuba até o resto de sua vida. Na realidade, a blogueira tem retribuído à altura os 250 mil euros que recebeu, o que equivale a mais de 20 anos do salário mínimo em um país como a França, a quinta potência mundial. O salário mínimo em Cuba é de 420 pesos, o equivalente a 18 dólares ou 14 euros. Isto é, Yoani Sánchez recebeu 1.488 anos de salários mínimos cubanos por sua atividade opositora.
Yoani Sánchez tem estreita relação com a diplomacia estadunidense em Cuba, como demonstra um documento “secreto”, por seu conteúdo sensível, emitido pela Seção de Interesses Norteamericanos (Sina). Michael Parmly, ex-chefe da Sina em Havana, que se reunia regularmente com Yoani Sánchez em sua residência diplomática pessoal como indicam os documentos confidenciais da Sina, manifestou a sua preocupação em relação à publicação dos documentos diplomáticos dos EUA pelo WikiLeaks: “Ficaria muito incomodado se as numerosas conversações que tive com Yoani Sánchez fossem publicadas. Ela poderia pagar as consequências por toda a sua vida”. A pergunta que vem imediatamente à mente é a seguinte: por quais razões Yoani Sánchez estaria em perigo se a sua atuação, como afirma, respeita o marco da legalidade?
Em 2009, a imprensa ocidental divulgou massivamente a entrevista que o presidente Barack Obama havia concedido à Yoani Sánchez, e que foi considerado um fato excepcional. Yoani também afirmou que enviou um questionário similar ao presidente cubano Raúl Castro e que o mesmo não se dignou a respondê-lo. No entanto, os documentos confidenciais da Sina, publicados por WikiLeaks contradizem essas declarações. Foi descoberto que foi um funcionário da representação diplomática estadunidense, em Havana, quem, de fato, redigiu as respostas à dissidente e não o presidente Obama.
Mais grave ainda, Wikileaks revelou que Yoani, diferente de suas afirmações, jamais enviou um questionário a Raúl Castro. O chefe da Sina, Jonathan D. Farrar, confirmou a informação através de um e-mail enviado ao Departamento de Estado: “Ela não esperava uma resposta dele, pois confessou que nunca enviou (as perguntas) ao presidente cubano”.

A conta de Yoani Sánchez no twitter

Yoani Sánchez Twitter Redes SociaisAlém do sítio Generación Y, Yoani Sánchez tem uma conta no twitter com mais de 214 mil seguidores (registrados até 12 de fevereiro de 2012). Somente 32 deles moram em Cuba. Por outro lado, a dissidente cubana segue a mais de 80 mil pessoas. Em seu perfil, Yoani se apresenta da seguinte maneira: “Blogger, moro em Havana e conto a minha realidade através de 140 caracteres. Tuito, via sms sem acesso à web”. No entanto, a versão de Yoani Sánchez merece pouco crédito. Na realidade é absolutamente impossível seguir mais de 80 mil pessoas apenas por sms, a partir de uma conexão semanal em um hotel. É indispensável um acesso diário para isso na rede.
A popularidade na rede social twitter depende do número de seguidores. Quanto mais numerosos, maior a exposição da conta. Da mesma maneira, existe uma correlação entre o número de pessoas seguidas e a visibilidade da própria conta. A técnica que consiste em seguir diversas contas é utilizada para fins comerciais, assim como para a política durante as campanhas eleitorais.
O sítio www.followerwonk.com permite analisar o perfil dos seguidores de qualquer membro da comunidade do twitter. O estudo do caso Yoani Sánchez é revelador em vários aspectos. Uma análise dos dados da conta do twitter da blogueira cubana, realizada através de seu sítio, revela que a partir de 2010 houve uma atividade impressionante de sua conta. A partir de junho de 2010, ela se inscreveu em mais de 200 contas por dia, em uma velocidade que poderia alcançar até 700 contas em 24 horas. Isto é, passar 24 horas diretas fazendo isto – o que parece improvável. O resultado é que é impossível ter acesso a tantas contas em tão pouco tempo. Então, parece que isto só é possível através de um robô.
Da mesma maneira, descobrimos que cerca de 50 mil seguidores de Yoani são, na realidade, contas fantasmas ou inativas, que criam a ilusão de que a blogueira cubana goza de uma grande popularidade nas redes sociais. Na realidade, dos 214.062 perfis da conta @yoanisanchez, 27.012 são novos (e sem fotos) e 20.600 são de características de contas fantasmas com atividades inexistentes na rede (de 0 a 3 mensagens enviadas desde a criação da conta). Entre estes fantasmas que seguem Yoani no twitter, 3.363 não têm nenhum seguidor e 2.897 seguem somente a blogueira, assim como a uma ou duas contas. Algumas apresentam características bastante estranhas: não têm nenhum seguidor, seguem apenas Yoani e emitiram mais de duas mil mensagens.
Esta operação destinada a criar uma popularidade fictícia, via twitter, é impossível de ser realizada sem acesso à internet. Necessita de um apoio tecnológico e um orçamento consequente. Segundo uma investigação realizada pelo diário La Jornada, com o título “El ciberacarreo, la nueva estrategia de los políticos en Twitter”, sobre operações que envolviam os presidenciáveis mexicanos, diversas empresas dos Estados Unidos, Ásia e América Latina oferecem este serviço de popularidade fictícia (“ciberacarreo” ou em português ciber transporte) por elevados preços. “Por um exército de 25 mil seguidores inventados no twitter , escreveu o jornal, pagam até dois mil dólares, e por 500 perfis manejados para 50 pessoas é possível gastar entre 12 mil a 15 mil dólares”.
Yoani Sánchez emite, em média, 9,3 mensagens por dia. Em 2011, a blogueira publicou uma média de 400 mensagens por mês, O preço de uma mensagem em Cuba é de um peso convertido (CUC), o que representa um total de 400 CUC mensais. O salário mínimo em Cuba é de 420 pesos cubanos, ao redor de 16 CUC. Yoani Sánchez gasta, por mês, o equivalente a dois anos de salários mínimos em Cuba. Assim, a blogueira gasta em Cuba com o twitter, um valor correspondente, caso fosse francesa, a 25 mil euros mensais ou 300 mil euros por ano. Qual a procedência desses recursos para estas atividades?

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Outras perguntas surgem de maneiras inevitáveis. Como Yoani Sánchez pode seguir a mais de 80 mil contas sem acesso permanente a internet? Como conseguiu se inscrever em 200 contas diferentes por dia, desde de junho de 2010, com índices que superam até 700 contas/dia? Quantas pessoas seguem realmente as atividades da opositora cubana na rede social? Quem financia a criação das contas fictícias? Qual o objetivo? Quais os interesses escusos detrás na figura de Yoani Sánchez?
Salim Lamrani é graduado na Universidade de Sorbone, professor encarregado dos cursos da Universidade Paris-Descartes e da Universidade Paris-Est Marne-la-Vallée e jornalista francês, especialista nas relacões entre Cuba e Estados Unidos. Autor de Fidel Castro, Cuba y Estados Unidos (2007) e Doble Moral. Cuba, la Unión Europea y los derechos humanos (2008), entre outros livros.
Iroel Sánchez em La Pupila Insomne.  Tradução de Sandra Luiz Alves

A grande contradição Global e Brasileira


Mais e mais convicção está crescendo, mesmo entre os economistas dominantes e os da linha neo-keynesiana, que estamos perigosamente perto de atingir os limites físicos da Terra. Mesmo com as novas tecnologias, será difícil continuar o projeto de crescimento ilimitado. A Terra não pode mais tolerar isso, e nós temos que mudar de direção.
Economistas como o nosso Ladislao Dowbor, Sachs Ignace, Alier Joan, Herman Daly, Jack Tim, Victor Pedro e muito antes deles, Georgescu-Roegen, incorporar plenamente o momento ecológica no processo de produção. Especialmente o britânico Tim Jack, tornou-se conhecido por seu livro, Prosperidade sem Crescimento, (Prosperidad pecado crecimiento, 2009) e Peter canadense Victor, por seu Gerente Sem crescimento, (Diretor pecado crecimiento, 2008).Ambos têm mostrado que o crescimento da dívida para financiar o consumo privado e público (como os países ricos estão fazendo), exigindo mais energia e maior uso de bens e serviços naturais, não é simplesmente insustentável. 


Ganhadores do prêmio Nobel Paul Krugman e Joseph Stiglitz, porque não incluir explicitamente os limites da Terra em sua análise, cair na armadilha de propor uma maior despesa pública como a solução para a atual crise, supondo que isso vai produzir o crescimento econômico e maior consumo, através do qual as dívidas astronômicas públicas e privadas serão pagos mais tarde.Dissemos muitas vezes já que um planeta finito não pode suportar um projeto dessa natureza, que pressupõe a infinitude dos bens e serviços. Este é um fato estabelecido. 

O que Jack e Victor propõe é «prosperidade sem crescimento». Nos países desenvolvidos, o nível de crescimento já é suficiente para permitir o desenvolvimento de potencial humano, dentro dos limites possíveis do planeta. Assim, o crescimento, o suficiente. O que pode ser buscado é «prosperidade» que significa uma melhor qualidade de vida, de educação, saúde, cultura ecológica, espiritualidade, etc Esta solução é racional, mas que pode causar desemprego, um problema que eles não resolverem bem, sugerindo uma base universal renda e redução da jornada de trabalho. Não haverá solução sem um acordo prévio sobre a forma como estamos indo ter um relacionamento de suporte com a Terra, e sem a definição dos modelos de consumo, de modo que todos possam ter o que é suficiente e decente.
Essa relação se inverte para os países pobres e emergentes. «Crescimento com prosperidade» é necessário. O crescimento é necessário para atender às exigências mínimas dos que vivem na exclusão pobreza, miséria e social. Assegurar suficientes bens indispensáveis ​​e serviços é uma questão de justiça. Mas a prosperidade, que lida com a qualidade do crescimento, deve ser buscada simultaneamente. Um perigo real existe que eles vão cair vítima da lógica de um sistema que induz o consumo cada vez maior, especialmente de bens desnecessários. Limites da Terra seria esticado, que é exatamente o que deve ser evitado. Estamos diante de um círculo vicioso doloroso, que não sabemos como fazer virtuoso, sem pôr em perigo a sustentabilidade da Terra viva.

Esta é a contradição não apenas voltados para o Brasil, mas também a globalização: o crescimento é urgentemente necessária para realizar o que o governo Lula fez, isto é, para garantir o básico, de modo que milhões podem comer e, por meio de políticas sociais, ser incorporados na sociedade. Para as classes que já foram atendidas, menos crescimento e mais prosperidade é necessário: para melhorar a qualidade de vida boa, a educação, menos relações sociais desiguais, e mais solidariedade, a começar com pelo menos entre nós. Mas quem pode convencê-los, se eles são forçosamente controlados pela propaganda que incita a consumir?
Acontece que, até agora, os governos brasileiros e Athor tiveram apenas políticas distributivas: desigual distribuição de recursos públicos. Em primeiro lugar, 140 bilhões de reais foram garantidos para o sistema financeiro para pagar a dívida pública, e, em seguida, para os projetos grandiosos, e apenas cerca de 60 bilhões para as maiorias imensas que só agora são ascendentes.Todos ganham, mas de forma desigual. Tratar desigualmente iguais é uma grande injustiça.Nunca houve políticas redistributivas: tirar dos ricos (através de meios legais) e passá-lo para o mais necessitado. Então haveria equidade. 

O pior é que com a nossa obsessão coletiva de crescimento que estamos minando a vitalidade da Terra. Precisamos de crescimento, mas com uma nova consciência ecológica que pode nos libertar da escravidão da produtividade e consumismo. Este é o nosso grande desafio, à medida que enfrentamos a contradição desconfortável brasileira e mundial.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Washington Araújo: Desafios da nanotecnologia


Washington Araújo, via Carta Maior


Há muito vivemos o dilema do tempo futuro. Ele sempre consegue nos surpreender, pois os tempos são céleres, tudo vira logo passado. Mas as consequências do “antes de ser passado” vigoram por longo tempo. É neste contexto que o espaço de 20 anos pode representar o surgimento, desenvolvimento e até mesmo o desuso de um novo produto. Em duas décadas, o nascimento e o auge de uma nova empresa caminham paralelamente ao declínio de outra. Um exemplo prático: em 1984, ano do início da era do videocassete, os computadores pessoais praticamente não existiam. Como consequência, ainda não existiam as megacorporações da internet como a Microsoft.

Hoje podemos nos perguntar: o que nos reservam os próximos 20 anos? Podemos responder de duas maneiras. Como cidadãos resta-nos aproveitar o boom tecnológico para alcançarmos os meios de cura para algumas doenças, para melhorar nosso dia a dia e também para implementar inúmeras formas de lazer. Uma outra maneira é termos como ponto de partida o nosso país.

Neste caso, torna-se inadiável planejarmos as ações para atuar competitivamente no mercado mundial e garantir um futuro que inclua a disponibilidade de emprego, saúde e qualidade de vida para nossa população.

Com certeza, as duas maneiras passarão, inevitavelmente, pela chamada “revolução nanotecnológica”. Para muitos, o próprio termo nanotecnologia é algo estranho, difícil de apreender. O prefixo “nano” surge das dimensões dos objetos investigados, com tamanhos da ordem de até alguns nanômetros, trocando em miúdos, algo com dimensões de um milionésimo de um milímetro (1 nm = 10-9 m). Para termos uma noção adequada nada como pensarmos que a ponta da esfera de uma caneta esferográfica – que tem 0,8 mm de diâmetro – pode conter nada menos que 60 bilhões de partículas de 10 nanômetros. E é aí que mora o perigo (ou seria o desafio?): para estudar objetos nanométricos há de se dispor de equipamentos modernos, caros e sofisticados, e técnicas de preparação muito específicas para conseguir controlar o tamanho das partículas em uma escala de tamanhos tão pequenos.

É fato que os cientistas brasileiros têm, hoje, plenas condições de contribuir com pesquisas de ponta em nanociência, pois, uma vez bem equipados, devem disputar com a comunidade internacional fundamentalmente no campo das ideias. E, bem o sabemos, novas ideias e novos resultados em ciência básica têm efeito avassalador e imprevisível, incluindo, provavelmente, a inovação tecnológica, que, por sua vez, gera riqueza através de novas empresas, novos empregos etc. Para que o Brasil enfrente o desafio, é urgente a criação de um “círculo virtuoso” através de uma ação coordenada que englobe o governo, as universidades, os centros de pesquisa, empresas e o setor produtivo em geral.

O bom de tudo isso é que a revolução nanotecnológica encontra-se ainda em sua infância. E o Brasil pode e deve participar ativamente, inovando nesse campo. Um bom começo é constatarmos ser necessária uma mudança de mentalidade do governo e dos empresários brasileiros. Em todos os países ditos do primeiro mundo, a transformação das ideias em produtos ocorre principalmente nas empresas que, por sua vez, investem grandes somas de dinheiro em pesquisas científicas, sejam básicas ou aplicadas. Muitas vezes esse dinheiro retorna apenas em longo prazo, pois diversas vezes as pesquisas não se transformam em tecnologia, e o dinheiro investido parece ter sido “a fundo perdido”.

Algo muito positivo é o fato de que o Brasil, de acordo com o Plano Plurianual 2004-2007, dispõe do programa “Desenvolvimento da Nanociência e da Nanotecnologia”. O programa possui quatro ações básicas: a implantação de laboratórios e redes de nanotecnologia, o apoio a redes e laboratórios de nanotecnologia; o fomento a projetos institucionais de pesquisa e desenvolvimento em nanociência e nanotecnologia.

Mas o que pensam sobre a nanotecnologia no Brasil? Uma pista está na pesquisa informal feita pelo consultor Ronaldo Marchese, da RJR Consultores, que ouviu algumas das principais empresas brasileiras, incluindo algumas filiais de multinacionais. As respostas mais ouvidas sobre nanotecnologia foram: 1) A nossa diretoria achou que esse assunto ainda é muito “novinho”; 2) é um tema futurista; 3) Não conhecemos o assunto. Ao mesmo tempo, notícias confiáveis dão conta que os investimentos mundiais em nanotecnologia ultrapassarão US$80 bilhões até o fim de 2005. Tanto interesse se justifica pelas projeções de que os produtos elaborados a partir da nanotecnologia movimentarão recursos em torno de US$1 trilhão.

Feitas estas considerações, não podemos ficar paralisados e aproveitar os próximos 20 anos realizando centenas de reuniões para concluirmos que temos que embarcar no futuro… hoje. Harald Fuchs, diretor do Centro de Nanotecnologia da Universidade de Munster, na Alemanha, foi claro: “O mundo está diante da promessa de uma nova Revolução Industrial, que introduzirá, até 2008, produtos mais baratos, recicláveis e de fabricação simples.”

Estamos em 2012, será que isto aconteceu?

Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil, Argentina, Espanha, México, além do blog http://www.cidadaodomundo.org.

Quem tem medo de Serra?

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O ex-governador José Serra (PSDB) esteve na noite de quinta-feira passada com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) para lhe dizer, finalmente, que é grande a chance de entrar na disputa pela Prefeitura de São Paulo. A notícia chegou à imprensa na noite de sexta-feira, virou rastilho de pólvora e rapidamente ganhou as manchetes dos jornais deste final de semana.

Mas, afinal, quem tem medo do Serra? A novela serrista continua e os problemas crescem ao seu redor. Andará o PSD de mãos dadas com o DEM em São Paulo, numa coligação para apoiar Serra? Como ficarão os partidos agora aliados ao prefeito paulistano Gilberto Kassab (PSD): PC do B, PSB e PR? Apoiarão Serra e o projeto tucano de manter São Paulo a qualquer custo e preço?

Quem disse que Serra é o melhor candidato para disputar novamente a prefeitura, depois da derrota de 2010 e do isolamento a que foi submetido pela cúpula tucana? Se Serra não serve para ser presidente do Brasil, porque serviria para ser prefeito de São Paulo? Finalmente, quem assegura que Alckmin vai apoiar Serra? E quem unirá os pedaços do PSDB após o trauma de prévias que não acontecerão - ou que serão um simulacro para tentar consagrar Serra como o salvador da pátria tucana?

O PT é que não tem porque temer Serra que já o derrotamos duas vezes para presidente.

Foto Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Não bastasse a destruição de famílias, dono do Pinheirinho tem dívida milionária perdoada


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A corte paulista decidiu dar um “bombom” para adocicar a vida dos credores de Nahas que devem estar em situação “muito difícil”

Aos amigos sempre um empurrão, aos inimigos a lei e, se for preciso, a força, por meio de cassetetes, tiros e bombas. Em decisão mais recente o Tribunal de Justiça comprovou a validade da sabedoria popular. A corte paulista resolveu dar uma “colher de chá” para a massa falida da Selecta Comércio e Indústria S/A – empresa do megainvestidor Naji Nahas – e dona terreno que abrigava a comunidade do Pinheirinho.
A corte paulista decidiu dar um “bombom” para adocicar a vida dos credores de Nahas que devem estar em situação muito difícil: reduziu R$ 1,6 milhão da dívida que a empresa contraiu junto à prefeitura de São José dos Campos por não pagamento de IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano). Mau pagador merece um perdão.

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A dívida total da massa falida com a prefeitura é de R$ 14,6 milhões. O valor abatido refere-se ao IPTU de 2004 e 2005. Os advogados da Selecta, empresa do investidor Naji Nahas, entraram com ação em 2006 solicitando alteração da alíquota de cobrança do imposto nos dois anos.
Com a decisão favorável, a Selecta conseguiu reduzir R$ 777 mil do IPTU em 2004 e R$ 835 mil em 2005. A decisão, de segunda instância, foi do juiz José Henrique Fortes Júnior, da 15ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, e ocorreu na última sexta-feira (28), seis dias após a reintegração do terreno.
A Prefeitura de São José afirmou que já recorreu de decisão. A vitória da Selecta na Justiça abre precedente para a massa falida pedir redução da alíquota do IPTU também nos anos seguintes, o que reduziria sensivelmente as dívidas da massa falida com o terreno do Pinheirinho.
Nahas foi preso em 2008 durante a operação Satiagraha, acusado pela Polícia Federal de cometer crimes no mercado financeiro. Em 1989, o investidor foi apontado como o responsável pela quebra da bolsa do Rio de Janeiro, ao comprar e vender ações para si mesmo, utilizando laranjas, para controlar os preços do mercado.

Maus tratos de animais

Nesta sexta-feira (3), o Ministério Público paulista mandou abrir inquérito no 2º Distrito Policial de São José dos Campos. O inusitado na determinação do MP é que a investigação não é para saber as consequências da ação policial contra os moradores, mas para apurar e definir responsabilidades sobre supostos crimes de abuso e maus tratos a animais ocorridos por ocasião da reintegração de posse na comunidade do Pinheirinho, no dia 15 de janeiro.

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De acordo com notícias veiculadas pela Agência de Noticias sobre Direitos Animais, durante a operação de reintegração de posse executores da medida judicial teriam disparado balas de borracha e usado retroescavadeiras sobre animais domésticos, conduta que caracteriza crime.
Fernando Porfírio, Brasil 247

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Como a mídia brasileira sufoca a liberdade de expressão



As viúvas da ditadura




Mas o que dizer da nota publicada pelos clubes militares com críticas ao governo Dilma Rousseff - e desautorizadas pela cúpula das Forças Armadas - no decorrer desta semana?

A nota do início da semana – assinada pelas presidências do Clube Naval, do Clube Militar e do Clube da Aeronáutica – menciona episódios em que a presidenta Dilma Rousseff supostamente estaria se afastando da premissa de ser a "presidenta de todos os brasileiros e brasileiras".  Entre eles, uma entrevista da ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, em que ela falou da possibilidade de vítimas da ditadura entrarem com ações na Justiça para pedir a punição de agentes repressores; e o discurso da nova ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, a qual, segundo os militares, teria se "auto-elogiado" ao declarar que "lutou pela democracia" durante a ditadura.

Esses militares da reserva representados pelos seus clubes são uns saudosistas. Mas não passam de uma minoria. Tampouco falam em nome das Forças Armadas.

Mídia apoiou golpes e se calou quando as Forças Armadas eram sucateadas

O que choca é a insistência de certa mídia, que sempre rondou os quartéis no passado, sempre apoiou golpes e quarteladas, conspirações contra a Constituição e a democracia. Suas vozes eram as chamadas de vivandeiras. São como viúvas da ditadura que usam essas notas dos clubes militares para tentar incompatibilizar os militares com o governo e o PT.

Os representantes desta estranha mídia se calaram quando nossas Forças Armadas foram abandonadas e sucateadas, nossa indústria de defesa nacional liquidada e privatizada, nossa segurança externa ignorada e nossa política externa e de defesa nacional submetida aos interesses das super potências.

Carnavalizamos a tragédia


Ao desfilar no grupo especial das escolas carnavalescas de São Paulo, a Águia de Ouro foi muito além da apoteose, carnavalizou a tragédia em nome da paz e do amor. Um dos seus carros evocou Vlado Herzog, assassinado pelo terror de Estado na masmorra do DOI-Codi dia 25 de outubro de 1975. Em uma caixa de vidro erguida no topo do carro entre flores gigantes, mostrou um homem aparentemente enforcado e abandonado na mesma, exata posição em que uma foto oficial exibiu Vlado na pretensão de afirmar seu suicídio.
De vez em quando, no auge do batuque, a personagem levanta-se e cai no samba. Eufórica e competente. A história deveria ser conhecida até nos detalhes miúdos, mas as circunstâncias me induzem à recordação. Vlado chefiava o jornalismo da TV Cultura e, juntamente com seus comandados e alguns amigos, era há tempo apontado como subversivo por um certo Claudio Marques, torpe figura a destilar fel nas páginas de um jornaleco de propaganda chamado Shopping News.
No espaço de uma semana, o grupo todo foi preso sob a acusação de compor uma célula comunista. Uma sombra desliza sorrateira no entrecho, estranho intermediário entre os agentes da repressão e o jornalista, avalista da entrega espontânea deste na manhã daquele sábado 25 de outubro. Torturado, Vlado não resiste, morre antes das 5 da tarde. Apoiada pela imagem forjada que inspira a encenação da Águia de Ouro, a lembrar um títere atirado ao bastidor, o comando do II Exército divulgou a versão do suicídio.
Título do enredo da escola: Tropicália da Paz e do Amor. Contou com a participação de destaques graúdos: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Wanderléa, Cauby Peixoto, Fernando Meirelles. Um conjunto de dúvidas me assalta na tentativa de interpretar o evento. Palpita nele algo similar à glorificação do esquecimento? A falta de memória é traço forte da personalidade nacional, mas no caso a impressão se desfaz diante da evidência da lembrança, embora distorcida. Vlado não é um suicida, como a plateia do Sambódromo quem sabe tenha sido levada a imaginar, ele é a vítima de algozes fardados, dos seus mandantes pluriestrelados e da ditadura invocada e provocada pelos vetustos donos do poder.
Abalo-me a crer que aquele carro, aquele específico ao menos, tencione celebrar a índole nacional. Se não ignora os fatos, condena ao oblívio seu lado feroz. Agora pergunto aos meus estupefatos botões a quem aproveitam tanta paz e tanto amor. De saída, meus constantes interlocutores recomendam prudência. Atenção, atenção, o terreno é movediço, dizem, logo alguém sublinhará que você nasceu alhures. Insisto, porém, e os botões se entregam à constatação do óbvio: a pregação de paz e amor serve aos interesses de quem recusa alterações de rota, aos herdeiros da casa-grande. Quanto aos herdeiros da senzala, que fiquem onde estão, resignados, sem dar-se conta da sua própria resignação a ponto de mergulharem na festa de corpo e alma, literalmente, tomados por singular, peculiaríssima alegria.
A homenagem a Vlado Herzog. Foto Marcos Alves/Agencia O Globo
Moral no enredo de 1975: a violência atroz e estulta da repressão fardada. Que perigo representavam para a ditadura aqueles jovens jornalistas, e tantos outros cidadãos que se supunham esquerdistas? Moral do desfile da Águia de Ouro: às favas, no embalo do samba, com o respeito à verdade factual, com o correto conhecimento, com o senso de responsabilidade cidadã, e até estético, no sentido comezinho do bom gosto. Com a mais elementar sensibilidade. Paz e amor, a bem da covardia e da hipocrisia, e que o silêncio se feche sobre as vergonhas do passado como o mar sobre um barco furado.
Dizem haver em atividade uma Comissão da Verdade, mas até agora não se entende a que veio. Uma escola carnavalesca paulista parece oferecer-lhe a pauta: deixemos para lá, paz e amor, isto é Brasil. E qual seria este Brasil? Aquele da maioria rude e ignara, ou aquele da minoria até hoje nutrida pelo preconceito e pelo ódio de classe, e sempre e sempre impune? A outra pergunta os botões não respondem: quantos na assistência do Sambódromo de São Paulo deixaram de entrar no ritmo à passagem da Águia de Ouro?
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