sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Dois jornalões morrem na semana

Altamiro Borges

Circulou ontem (31) a última edição do Jornal da Tarde, após 46 anos de existência. Já neste domingo (4) também deixará de existir o Diário do Povo, fundado há cem anos e que circulava nos 24 municípios da região de Campinas (SP). O fim destes dois jornais segue uma dinâmica mundial e comprova a grave crise da mídia impressa. Entre outros fatores, ela decorre da explosão da internet, que faz migrar os leitores, e também da perda de credibilidade dos jornalões e revistonas, cada vez mais partidarizados e direitistas.

Segundo os dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC), o Jornal da Tarde imprimiu em setembro passado uma média de 36.800 exemplares diários. Na década de 1990, com seu projeto gráfico inovador e suas aprofundadas reportagens, o JT chegou a ter 190 mil exemplares diários. Com a decisão do Grupo Estado de fechar o JT, os 53 jornalistas do extinto diário serão incorporados, “temporariamente”, ao velho Estadão, pertencente à mesma empresa da decadente famiglia Mesquita.

O medo da internet

Em seu editorial de ontem, o Estadão lamentou a “saída de cena” do JT, o irmão bastardo do grupo empresarial. Sem esboçar qualquer autocrítica – um traço comum da velha e arrogante mídia “privada” –, ele criticou o advento da internet. “As modernas ferramentas de comunicação estão no centro desse estranho processo de regressão. A submissão acrítica ao fascínio da velocidade sem rumo devolve a humanidade a uma crescente incapacidade de pensar e vai reduzindo a vida a uma sucessão de reações automatizadas”. Patético!

Já no caso do Diário do Povo, o grupo RAC (Rede Anhanguera de Comunicação) simplesmente informou que o fim do centenário jornal deveu-se a sua inviabilidade financeira. Nos últimos 12 meses, segundo a empresa, a circulação média do jornal foi de apenas 3,5 mil exemplares diários. Já o outro diário do grupo, o Correio Popular, tem uma tiragem de 31,9 mil exemplares. A ideia do grupo é reforçar o veículo que ainda atrai anúncios publicitários. Nada de saudosismo ou críticas à internet – apenas negócios capitalistas.

Mudanças no bolo publicitário

A grave crise da mídia impressa tem abalado o modelo de negócios dos velhos feudos midiáticos. A tiragem cai e os anúncios somem – apesar do mercado publicitário estar em alta no país. De janeiro a agosto deste ano, ele cresceu 10% e movimentou R$ 19,4 bilhões, segundo recente balanço do Projeto Inter-Meios. Os jornais ainda ocupam o segundo lugar no bilionário ranking da publicidade – com participação de 11,4% e faturamento bruto de R$ 2,2 bilhões até agosto. Mas o setor vem perdendo espaço para outras mídias.

A TV aberta continua na liderança folgada. Até agosto, ela faturou R$ 12,6 bilhões e ficou com 65% do bolo publicitário. O meio que mais cresceu no período foi o da TV por assinatura – alta de 16% e faturamento de R$ 888 milhões. Já o meio digital cresceu 14,33% e abocanhou R$ 980,9 milhões – 5% do total. Segundo o Projeto Inter-Meios, não são apenas os jornais que perdem espaço. As revistas também estão em queda. O setor encolheu 3,67% no período e faturou R$ 1,2 bilhão – 6% de participação. A revista Veja que se cuide! 

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