segunda-feira, 5 de novembro de 2012

As entranhas do Supremo




Embora veementemente negada, a influência da mídia e da classe média na decisão dos juízes também ficou patente
05/11/2012
Roberto Malvezzi (Gogó)

O julgamento do chamado mensalão foi uma execração pública dos réus, particularmente dos condenados. Transmitida ao vivo pela TV, comentada à exaustão nos programas da mídia tradicional, com chamadas garrafais na mídia impressa, o intuito era óbvio: o que se buscava não era a justiça, mas, desmoralizar os réus perante os olhos do povo.     
O paradoxo é que, ao expor os réus na mídia, o Supremo também expôs suas entranhas para o povo brasileiro. Quem acompanhou um pouco do julgamento ao vivo, pode saber de quanta subjetividade, quanta incerteza, quanta vaidade, quanta despreparo – caso das penalidades – pavimentam os caminhos de um julgamento.           
Embora veementemente negada, a influência da mídia e da classe média na decisão dos juízes também ficou patente. Quando Joaquim Barbosa disse que era preciso ampliar a pena de Valério, citou como argumento um artigo publicado no New York Times, no qual o jornal afirmava, em outras palavras, que a Justiça no Brasil era ridícula. Portanto, admitiu que decidia sob pressão da mídia, inclusive internacional.       
Claro que houve ali também boa vontade, de que a justiça fosse feita. Recordo um pronunciamento da ministra Rosa Weber: “quando falamos na corrupção, falamos das creches que não acontecem, do posto de saúde que falta ao povo”.           
Correto, então que se pegue todos os corruptos e corruptores, não a seletividade dos que incomodam a elite. Deveriam pegar os empresários que corrompem os parlamentares nas grandes obras, os juízes que emitem decisões venais em causas que deveriam favorecer os mais pobres, a corrupção por sonegação fiscal, evasão de divisas, da lei severa para pobres, negros, prostitutas e agora petistas.           
Nem vamos falar também das omissões do Supremo no caso do julgamento do mérito das grandes obras, sobretudo, na omissão genocida que paira sobre os Guarani- Kaiowás.           
O Supremo Tribunal Federal que apareceu diante dos olhos dos brasileiros é parcial, cheio de contradições, onde qualquer decisão parece caber, ficando exclusivamente ao arbítrio subjetivo do juiz. 

Artigo originalmente publicado na edição impressa 505 do Brasil de Fato

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...