Está em todos os principais jornais de sexta-feira (2/11) a notícia de que um telefonema entre a presidente da República, Dilma Rousseff, e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, colocou um ponto final no bate-boca entre autoridades estaduais e federais em torno do surto de violência que assusta os paulistas.
O assunto é manchete na Folha de S. Paulo e no Estadão e tema de chamada destacada na primeira página do Globo. Resumidamente, ficou acertado que os chefes da facção criminosa que se encontra em guerra com a Polícia Militar serão transferidos para presídios federais e colocados sob vigilância mais rigorosa.
Os dois jornais paulistas se limitam a descrever as ações que deverão decorrer do acordo e reproduzem declarações do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e do secretário paulista da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, que se engalfinharam durante a semana num bate-boca com tempero eleitoral.
Renda crescente
O Globo avança na investigação dos acontecimentos ligados à explosão no número de assassinatos em São Paulo e outras cidades do estado, expondo uma suspeita que os jornais paulistas não haviam abordado: a possibilidade de que as mortes estejam ligadas a disputas entre grupos criminosos rivais, um deles formado por policiais militares.
Diz o jornal carioca que a guerra entre a PM e integrantes da facção criminosa conhecida como Primeiro Comando da Capital teria como motivação uma disputa pelo controle de máquinas caça-níqueis na região metropolitana de São Paulo. Segundo a reportagem, o PCC estaria reagindo à invasão de seus territórios por uma milícia formada por policiais militares aposentados e da ativa, apoiados por agentes corruptos.
A investigação do Globo é respaldada por uma fonte do alto escalão do governo paulista e deixa o Estadãoe a Folha na constrangedora situação de ter passado as últimas semanas repetindo a história de que a violência é resultado de um confronto entre a PM e o PCC.
A se julgar pelo que diz o jornal carioca, há muito mais sujeira embaixo do tapete.
Essa versão da guerra que assusta a população de São Paulo e já produziu, como efeito colateral, dezenas de vítimas entre cidadãos inocentes durante este ano, coloca em cena um ingrediente ainda mais explosivo: a hipótese de que a corrupção policial tenha superado a capacidade do Estado de garantir a segurança da sociedade.
O raciocínio exposto pelo Globo indica que o negócio dos caça-níqueis, tradicionalmente explorado pelo crime organizado, vem se tornando cada vez mais rentável, atraindo competidores poderosos. Comerciantes instalados em favelas e em bairros da periferia da cidade estariam pagando até R$ 400 por mês para poderem manter suas máquinas funcionando sob proteção do PCC.
Essa renda já compete com o principal negócio da facção, o tráfico de drogas, que movimenta cerca de R$ 6 milhões por mês mas vem se tornando cada vez mais problemático por causa da maior eficiência da repressão policial.
Guerra de quadrilhas
Segundo o Globo, uma nova geração de equipamentos de jogatina permite aos exploradores do negócio movimentar rapidamente as máquinas, instalando-as em lugares protegidos pelo PCC, o que inclui bares, pequenas casas de comércio e até açougues da periferia.
Do tamanho de fornos de micro-ondas e com tela de LCD, essas máquinas podem ser escondidas facilmente, sendo colocadas em operação depois das 18 horas, quando muitos trabalhadores voltam para suas casas.
Uma milícia formada por agentes públicos aposentados e da ativa teria resolvido explorar essa fonte de lucros, invadindo os redutos do PCC. Essa seria a causa da onda de violências, segundo o Globo.
A intervenção da presidente, conversando diretamente com o governador, esfriou os ânimos e encaminhou uma possibilidade de solução para o problema. No entanto, se tem fundamento a reportagem do Globo, de nada vai adiantar uma ação conjunta entre os governos federal e estadual se não for admitida e atacada a possibilidade de que policiais corruptos estejam envolvidos nessa guerra.
Se o combate ao PCC for bem sucedido, o governo acaba tirando a população da periferia do domínio da facção criminosa e a entrega à tirania das milícias de policiais corruptos.
Se correr, o bicho pega. Se ficar, o bicho come.
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